São Paulo, domingo, 07 de maio de 2000


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SORTEIO NA TV
Ministério da Justiça recebe denúncia de que empresa do deputado Faria Júnior não pagou prêmios
Top Vida é investigada por fraude

ELVIRA LOBATO
em São Paulo

ALESSANDRO SILVA
da Reportagem Local

A empresa Top Vida, ligada ao deputado estadual mais votado na última eleição em São Paulo, Waldemar Alves Faria Júnior (PMDB-SP), da bancada da Igreja Universal do Reino de Deus, é investigada por supostos crimes de estelionato e fraude nos sorteios transmitidos pela TV desde julho do ano passado.
O Ministério da Justiça recebeu duas denúncias contra a empresa por não-pagamento de prêmios. Uma outra foi registrada na Susep (Superintendência de Seguros Privados), no Rio de Janeiro. A Folhalocalizou mais dois casos na Grande São Paulo.
O sorteio da semana passada -transmitido pela TV Bandeirantes- foi feito em local desconhecido e sem a presença da auditoria independente (a Soteconti, de São Paulo) que deveria atestar a lisura da processo perante o Ministério da Justiça.
Ao tomar conhecimento de que a reportagem da Folha iria acompanhar a gravação, a empresa adiou o sorteio por três dias consecutivos, deixando os auditores da Soteconti de plantão na porta do estúdio da produtora.
No sábado, o sorteio -um caminhão Scania, dois carros e R$ 21 mil em barras de ouro- foi ao ar como tendo sido auditado por outra empresa, Honda Consultores Tributários, desconhecida no mercado de auditores.

Vendas
A Top Vida funciona com autorização do Ministério da Justiça. O prêmio foi lançado no ano passado para substituir os telessorteios 0900 que estão proibidos pela Justiça Federal. Até agora, a empresa vendeu 10,4 milhões de cartelas e faturou R$ 40,8 milhões.
As duas primeiras edições venderam um total de mais de 5 milhões de cartelas, mas o esquema entrou em declínio a partir daí.
Mesmo em crise, a Top Vida prometia mais de R$ 1,5 milhão em prêmios por mês. Nas últimas semanas, surgiram as primeiras denúncias.
Oficialmente, o deputado e seu irmão se afastaram da Top Vida em maio do ano passado -dois meses antes de os sorteios começarem-, quando transferiram a empresa para Rodolpho Carvalho Lopes (sogro de Faria Júnior) e Sidnei Octaviani, que é sócio da família em outros negócios.
No entanto, documentos obtidos pela Folha mostram o contrário. No mês passado, o deputado e seu irmão entregaram um apartamento de cobertura dúplex no Guarujá, litoral paulista, no valor de R$ 450 mil, como parte de pagamento de dívida de R$ 1,3 milhão da Top Vida com a gráfica Tecnoformas, que imprimiu e distribuiu as cartelas.
A procuração transferindo o imóvel para os donos da gráfica foi registrada no cartório de registro civil de Barueri, em 10 de abril.
Além disso, o deputado teria oferecido uma fazenda em Mato Grosso, da empresa Abba Produções e Participações Ltda. (registrada em nome do pai dele) em pagamento de parte da dívida de R$ 2,2 milhões da Top Vida com a Seguradora Excelsior.
Por fim, a organização dos sorteios, a distribuição das cartelas e o atendimento ao público funcionam no mesmo prédio que é sede da empresa GIF Participações e Investimentos Ltda., do deputado e de seu irmão, que fica em Alphaville (Barueri, Grande São Paulo).

Sem sede
A Top Vida não tem telefone próprio nem sede. O endereço que consta na Junta Comercial de São Paulo é um quarto com banheiro nos fundos de um salão de cabeleireiro em Itapevi, na Grande São Paulo.
O cômodo está vazio, mas, para efeitos legais, serve de sede para uma outra empresa ligada à família do deputado: a Firstline Telemarketing Comércio e Serviços Ltda. O mesmo endereço foi usada pela Abba Produções e Participações (a que fazia os sorteios 0900 da Record), registrada em nome de Waldemar Alves Faria, pai do deputado.
No Ministério da Justiça, consta um outro endereço para a Top Vida: uma sala no centro de Santana do Parnaíba (Grande São Paulo), onde também não há telefone.

Sócios
Os atuais sócios legalmente responsáveis pela Top Vida -Carlos Marcelo Oliveira Silva e Sidnei Octaviani- não foram localizados. O primeiro deu como endereço na Junta Comercial um cortiço no Parque São Lucas, onde vivem cinco famílias. Todos na casa afirmaram desconhecer Silva. Segundo um tio, ele seria empregado do deputado há três anos.
A empresa Banco de Idéias, que desenvolveu o projeto Top Vida e foi parceira do negócio até o final do ano passado, entrou com pedido de falência por não-pagamento de comissões. Os oficiais de justiça não conseguem localizar os donos para entregar a notificação. Os dois deverão ser notificados pelo "Diário Oficial".
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