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SORTEIO NA TV
Ministério da Justiça recebe denúncia de que empresa do deputado Faria Júnior não pagou prêmios
Top Vida é investigada por fraude
ELVIRA LOBATO
em São Paulo
ALESSANDRO SILVA
da Reportagem Local
A empresa Top Vida, ligada ao
deputado estadual mais votado
na última eleição em São Paulo,
Waldemar Alves Faria Júnior
(PMDB-SP), da bancada da Igreja
Universal do Reino de Deus, é investigada por supostos crimes de
estelionato e fraude nos sorteios
transmitidos pela TV desde julho
do ano passado.
O Ministério da Justiça recebeu
duas denúncias contra a empresa
por não-pagamento de prêmios.
Uma outra foi registrada na Susep
(Superintendência de Seguros
Privados), no Rio de Janeiro. A
Folhalocalizou mais dois casos na
Grande São Paulo.
O sorteio da semana passada
-transmitido pela TV Bandeirantes- foi feito em local desconhecido e sem a presença da auditoria independente (a Soteconti,
de São Paulo) que deveria atestar
a lisura da processo perante o Ministério da Justiça.
Ao tomar conhecimento de que
a reportagem da Folha iria acompanhar a gravação, a empresa
adiou o sorteio por três dias consecutivos, deixando os auditores
da Soteconti de plantão na porta
do estúdio da produtora.
No sábado, o sorteio -um caminhão Scania, dois carros e R$
21 mil em barras de ouro- foi ao
ar como tendo sido auditado por
outra empresa, Honda Consultores Tributários, desconhecida no
mercado de auditores.
Vendas
A Top Vida funciona com autorização do Ministério da Justiça.
O prêmio foi lançado no ano passado para substituir os telessorteios 0900 que estão proibidos pela Justiça Federal. Até agora, a empresa vendeu 10,4 milhões de cartelas e faturou R$ 40,8 milhões.
As duas primeiras edições venderam um total de mais de 5 milhões de cartelas, mas o esquema
entrou em declínio a partir daí.
Mesmo em crise, a Top Vida
prometia mais de R$ 1,5 milhão
em prêmios por mês. Nas últimas
semanas, surgiram as primeiras
denúncias.
Oficialmente, o deputado e seu
irmão se afastaram da Top Vida
em maio do ano passado -dois
meses antes de os sorteios começarem-, quando transferiram a
empresa para Rodolpho Carvalho
Lopes (sogro de Faria Júnior) e
Sidnei Octaviani, que é sócio da
família em outros negócios.
No entanto, documentos obtidos pela Folha mostram o contrário. No mês passado, o deputado e
seu irmão entregaram um apartamento de cobertura dúplex no
Guarujá, litoral paulista, no valor
de R$ 450 mil, como parte de pagamento de dívida de R$ 1,3 milhão da Top Vida com a gráfica
Tecnoformas, que imprimiu e
distribuiu as cartelas.
A procuração transferindo o
imóvel para os donos da gráfica
foi registrada no cartório de registro civil de Barueri, em 10 de abril.
Além disso, o deputado teria
oferecido uma fazenda em Mato
Grosso, da empresa Abba Produções e Participações Ltda. (registrada em nome do pai dele) em
pagamento de parte da dívida de
R$ 2,2 milhões da Top Vida com a
Seguradora Excelsior.
Por fim, a organização dos sorteios, a distribuição das cartelas e
o atendimento ao público funcionam no mesmo prédio que é sede
da empresa GIF Participações e
Investimentos Ltda., do deputado
e de seu irmão, que fica em Alphaville (Barueri, Grande São Paulo).
Sem sede
A Top Vida não tem telefone
próprio nem sede. O endereço
que consta na Junta Comercial de
São Paulo é um quarto com banheiro nos fundos de um salão de
cabeleireiro em Itapevi, na Grande São Paulo.
O cômodo está vazio, mas, para
efeitos legais, serve de sede para
uma outra empresa ligada à família do deputado: a Firstline Telemarketing Comércio e Serviços
Ltda. O mesmo endereço foi usada pela Abba Produções e Participações (a que fazia os sorteios
0900 da Record), registrada em
nome de Waldemar Alves Faria,
pai do deputado.
No Ministério da Justiça, consta
um outro endereço para a Top Vida: uma sala no centro de Santana
do Parnaíba (Grande São Paulo),
onde também não há telefone.
Sócios
Os atuais sócios legalmente responsáveis pela Top Vida -Carlos
Marcelo Oliveira Silva e Sidnei
Octaviani- não foram localizados. O primeiro deu como endereço na Junta Comercial um cortiço no Parque São Lucas, onde vivem cinco famílias. Todos na casa
afirmaram desconhecer Silva. Segundo um tio, ele seria empregado do deputado há três anos.
A empresa Banco de Idéias, que
desenvolveu o projeto Top Vida e
foi parceira do negócio até o final
do ano passado, entrou com pedido de falência por não-pagamento de comissões. Os oficiais de justiça não conseguem localizar os
donos para entregar a notificação.
Os dois deverão ser notificados
pelo "Diário Oficial". >
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