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GILBERTO DIMENSTEIN
Professor-doutor Tia
Com dedicação de 22 horas sem
anais, uma professora de 1ª a 4ª
série (antigo primário) consegue
receber, numa escola de elite de
São Paulo, até R$ 2.500 mensais,
segundo ranking do sindicato dos
professores -a média, nesse tipo
de escola, gira em torno dos R$
2.200.
Qual deveria, portanto, ser o salário do professor de uma das
mais conceituadas universidades
da América Latina, com doutorado nas costas?
A resposta óbvia é que deveria
ganhar mais do que as chamadas
"tias", referência carinhosa das
crianças às professoras.
Se comparamos as folhas de pagamento, vemos que um professor
com doutorado da Universidade
de São Paulo ou da Unicamp ganha, na verdade, menos do que a
professora primária das escolas
ricas. Aliás, bem menos.
De acordo com informações do
Departamento de Recursos Humanos da USP, o professor com
doutorado, dedicação de 24 horas
semanais, chega, em média, aos
R$ 2.100.
Por mais impactante que pareça, a comparação é enganosa: afinal, colocamos lado a lado uma
professora de 1ª a 4ª série com alguém próximo do topo da vida
universitária.
Peguemos, então, um professor-assistente da USP, com mestrado,
também com 24 horas semanais:
ganha, em média, R$ 1.200.
Cerca de dois desses indivíduos
valem a tia da escola de elite.
Professor-doutor com salário de
"tia", razão da greve das universidades estaduais de São Paulo,
mostra uma tendência inevitável:
o sucateamento do ensino superior público.
"É fácil tirar um professor da
universidade pública", afirma
Cláu dio Haddad, dono das faculdades Ibmec.
Ele informa que, em suas faculdades, a média salarial é de R$
9.000. Em muitos casos, afirma,
paga-se até R$ 13 mil. Salários
inatingíveis para qualquer um
numa universidade pública -e
já frequente em escolas de segundo grau.
A média dos professores com
doutorado, dedicação integral, é
de R$ 4.300.
Na briga por alunos, as faculdades privadas sabem que devem
apostar na qualidade de seus professores; logo vão buscar os talentos das universidades públicas.
"O salário exerce um poder de
sedução", afirma o presidente do
sindicato das faculdades privadas
(Semesp), Gabriel Rodrigues.
As tabelas de sua entidade informam que um coordenador de
cursos consegue tirar um salário
de até R$ 7.000 mensais; o diretor
vai até R$ 12 mil.
As universidades estaduais estão literalmente de braços amarrados, graças, em boa parte, às
mamatas corporativas: os orçamentos estão comprometidos
quase que integralmente com as
folhas de pagamento.
Uma situação que não pára de
piorar, graças ao peso dos aposentados -muitos deles levando um
adicional por dar aulas nas escolas particulares.
As universidades públicas correm, assim, o risco de não mais
atrair os melhores alunos e, aí, está selado o sucateamento definitivo.
Em várias faculdades públicas
já estão faltando professores.
O aluno vai preferir pagar pela
boa faculdade, caso a mensalidade gratuita implique menos qualidade.
O exemplo: uma expressiva
quantidade de alunos prefere cursar administração numa Getúlio
Vargas, mesmo arcando com os
custos, a entrar numa USP.
Diga-se que, na FGV, um professor recebe, no mínimo, uma
hora-aula de R$ 50, segundo o
ranking sindical.
"Vamos pagar o que for necessário para termos os melhores. Só
assim, nessa lógica óbvia de mercado, vamos conquistar nossa
clientela", afirma Cláudio Haddad.
A lógica do mercado é arriscada
pelo simples e bom motivo de que
a pesquisa, fundamental para o
desenvolvimento de uma nação, é
feita nas universidades públicas.
As faculdades privadas, seguindo a lógica do mercado, vão procurar o lucro -o que é, claro, legítimo, sem problema. Mas dificilmente vão sustentar programas e cursos com baixo interesse,
mais importantes para o enriquecimento e diversidade de uma comunidade.
Estamos ficando assim: um ensino público em ritmo de sucateamento e as faculdades privadas,
tirando as poucas exceções, sofríveis.
Daí a tentação pelas parcerias
internacionais, promovendo cursos à distância.
Educação à distância, que deveria ser um complemento, vai virar, em muitos casos, essência.
O problema é que não há projeto
de nação que se sustente, de fato,
com o professor titular de universidades de ponta ganhando menos do que uma professora primária.
Mais cedo ou mais tarde, vão
acabar se convencendo de que
uma parte dos gastos deve ser coberta com o pagamento de mensalidades.
Quanto mais cedo, melhor.
PS - Para quem quiser fazer comparações, coloquei, na Folha
Online, as tabelas dos salários de
professores das mais diversas categorias, localizadas no meu site:
www.dimenstein.com.br/
E-mail0gdimen@uol.com.br
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