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São Paulo, quarta-feira, 07 de maio de 2003

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AMBIENTE

Líder de associação diz que "haverá briga" quando governo iniciar a desocupação de área na zona leste, que está contaminada

Morador diz que não irá deixar favela

DA REPORTAGEM LOCAL

Moradores da favela Paraguai (zona leste de São Paulo) recusam-se a deixar o local, mesmo que os riscos provocados pela contaminação do solo com areia de fundição e borras oleosas tenham levado o local a um "estado de calamidade", conforme afirmou a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) à Justiça.
O governo estadual e a empresa planejam desocupar a área no máximo até julho.
"Se a gente tiver que mudar, haverá briga", afirma o líder comunitário Adão Gomes Silva. Na favela, moram cerca de 450 famílias. Segundo Silva, muitas delas sobrevivem da coleta de papelão e temem perder o sustento caso sejam transferidas para um local distante do centro da cidade.
É o caso de Daniela Machado de Araújo, 25, que não quer ir para Guaianazes (no extremo leste da cidade), a 20 km da favela, por considerar que isso seria o mesmo que morar "no interior". "Eu preferia que eles [o governo] dessem o dinheiro para a gente poder ficar perto daqui. Meu marido é carroceiro, recolhe papel. Como a gente vai viver lá?"
Entretanto, o risco de contaminação faz com que alguns moradores pensem de modo diferente. "Se fosse só porque a favela pegou fogo, eu não sairia", afirma a moradora Sandra Lúcia de Oliveira, 40, que já perdeu dois barracos, um na favela do Urubu e outro na própria favela Paraguai devido a incêndios. "Mas se for contaminação mesmo, como eles dizem, que pode até dar câncer, eu não vou resistir. Se o governo falar: "vamos sair'; eu saio", afirma.
De acordo com laudo obtido pela reportagem, a areia de fundição, presente no solo do local, possui metais pesados, como chumbo e cobre, e fenóis -substâncias orgânicas que fazem mal à saúde. Esse material está misturado a borras oleosas, que podem conter compostos orgânicos tóxicos ou cancerígenos.
A creche Esperança, considerada um dos pontos mais contaminados da favela, funcionou normalmente ontem.

Esclarecimentos
Uma das principais reclamações dos moradores é que, três dias após a divulgação da contaminação pela Folha, nenhum representante do governo estadual compareceu ao local para esclarecer a população sobre os riscos de saúde ou a transferência.
"Fica difícil acreditar que a área está contaminada até o governo vir aqui falar com a gente, mas ninguém vem", afirma o morador José Aírton Magalhães, 32.
De acordo com a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo), integrantes das associações de moradores da favela Paraguai foram avisados sobre a contaminação do terreno e a necessidade de saírem do local em uma reunião em dezembro do ano passado, com cerca de 50 moradores da favela.


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