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AMBIENTE
Líder de associação diz que "haverá briga" quando governo iniciar a desocupação de área na zona leste, que está contaminada
Morador diz que não irá deixar favela
DA REPORTAGEM LOCAL
Moradores da favela Paraguai
(zona leste de São Paulo) recusam-se a deixar o local, mesmo
que os riscos provocados pela
contaminação do solo com areia
de fundição e borras oleosas tenham levado o local a um "estado
de calamidade", conforme afirmou a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de
São Paulo) à Justiça.
O governo estadual e a empresa
planejam desocupar a área no
máximo até julho.
"Se a gente tiver que mudar, haverá briga", afirma o líder comunitário Adão Gomes Silva. Na favela, moram cerca de 450 famílias.
Segundo Silva, muitas delas sobrevivem da coleta de papelão e
temem perder o sustento caso sejam transferidas para um local
distante do centro da cidade.
É o caso de Daniela Machado de
Araújo, 25, que não quer ir para
Guaianazes (no extremo leste da
cidade), a 20 km da favela, por
considerar que isso seria o mesmo que morar "no interior". "Eu
preferia que eles [o governo] dessem o dinheiro para a gente poder
ficar perto daqui. Meu marido é
carroceiro, recolhe papel. Como a
gente vai viver lá?"
Entretanto, o risco de contaminação faz com que alguns moradores pensem de modo diferente.
"Se fosse só porque a favela pegou
fogo, eu não sairia", afirma a moradora Sandra Lúcia de Oliveira,
40, que já perdeu dois barracos,
um na favela do Urubu e outro na
própria favela Paraguai devido a
incêndios. "Mas se for contaminação mesmo, como eles dizem,
que pode até dar câncer, eu não
vou resistir. Se o governo falar:
"vamos sair'; eu saio", afirma.
De acordo com laudo obtido
pela reportagem, a areia de fundição, presente no solo do local,
possui metais pesados, como
chumbo e cobre, e fenóis -substâncias orgânicas que fazem mal à
saúde. Esse material está misturado a borras oleosas, que podem
conter compostos orgânicos tóxicos ou cancerígenos.
A creche Esperança, considerada um dos pontos mais contaminados da favela, funcionou normalmente ontem.
Esclarecimentos
Uma das principais reclamações dos moradores é que, três
dias após a divulgação da contaminação pela Folha, nenhum representante do governo estadual
compareceu ao local para esclarecer a população sobre os riscos de
saúde ou a transferência.
"Fica difícil acreditar que a área
está contaminada até o governo
vir aqui falar com a gente, mas
ninguém vem", afirma o morador
José Aírton Magalhães, 32.
De acordo com a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de
São Paulo), integrantes das associações de moradores da favela
Paraguai foram avisados sobre a
contaminação do terreno e a necessidade de saírem do local em
uma reunião em dezembro do
ano passado, com cerca de 50 moradores da favela.
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