GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois soldados da Polícia Militar foram presos por supostamente liderar uma quadrilha responsável por seqüestros na Grande São Paulo. Entre eles, o de uma mulher de 86 anos, mantida em cativeiro por 20 dias. Esse é, pelo menos, o segundo caso de seqüestro com envolvimento de PMs em 2004 e o oitavo desde 1999, segundo a Ouvidoria da Polícia.
"É incomum, mas existe um crescimento pontual da participação de PMs nesse tipo de crime nos últimos anos. Em cinco meses de 2004, já são dois casos conhecidos", disse o ouvidor da polícia, Itajiba Farias Ferreira Cravo.
A maior parte da quadrilha supostamente liderada por PMs foi descoberta e presa por policiais civis da 1ª Delegacia da DAS (Divisão Anti-Seqüestro). Já desconfiando do envolvimento de PMs, eles invadiram o cativeiro em uma chácara em Poá (Grande SP), às 7h30 de segunda-feira.
C.G., 86, que tem problemas cardíacos, estava trancada em um pequeno quarto desde o dia do seqüestro. Tinha pequenas escoriações nos braços. Ela foi levada na segunda-feira para o Incor (Instituto do Coração), na capital paulista, onde teve alta hospitalar anteontem à noite.
Os soldados Alexandre Fonseca e José Aparecido da Conceição, que trabalhavam na 1ª Companhia do 35º Batalhão da PM de Itaquaquecetuba (Grande SP), foram indiciados por extorsão mediante seqüestro e levados para o presídio da Polícia Militar Romão Gomes, na capital paulista.

A ação
Mãe de um dono de estacionamentos, além de outros estabelecimentos comerciais, C.G. foi seqüestrada por três homens em sua própria casa, no centro de Suzano (Grande SP), no dia 14 de abril. Os criminosos entraram pelo portão, que foi deixado aberto pelo motorista.
Não houve agressão. Os criminosos apenas informaram que se tratava de um seqüestro. No dia seguinte, eles ligaram para o filho da vítima e pediram o nome do remédio que ela tomava. O primeiro pedido de resgate foi de R$ 2,5 milhões.
O dinheiro não foi pago. Na segunda-feira passada, segundo o delegado Carlos Castigliori, titular da 1ª Delegacia da DAS, dois homens foram presos na chácara usada como cativeiro -o caseiro Edilson Teixeira de Assunção, 23, e o instalador de telefone Cesar Odilon Constantino Filho, 26. Uma mulher também foi detida no local, mas seu envolvimento foi praticamente descartado.
Por foto, Assunção e Constantino Filho reconheceram os dois policiais militares, que depois foram presos pela Corregedoria da Polícia Militar.

Experiência
A polícia acredita que os PMs lideravam a quadrilha, que pode estar envolvida em outros seqüestros realizados na Grande São Paulo. Para os policiais da DAS, o grupo mostrou experiência nesse tipo de ação.
Os oito casos acompanhados pela Ouvidoria da Polícia de São Paulo desde 1999 totalizam 11 PMs envolvidos com seqüestros -incluindo apenas os episódios conhecidos e esclarecidos.
"São casos graves, que exigem não só prisão, mas expulsão imediata da Polícia Militar", disse o ouvidor. "Não dá para dizer agora que são só dois [PMs presos] entre 94 mil policiais militares. É algo estarrecedor que isso aconteça e em uma freqüência maior."
Segundo a Ouvidoria, foram dois casos em 1999, um em 2000, dois em 2002, um em 2003 e agora dois nos cinco meses de 2004. Dos 11 PMs envolvidos, quatro foram flagrados neste ano.
O último caso registrado tinha ocorrido em janeiro deste ano, em Mauá (Grande SP). Segundo dados da Ouvidoria, um cabo e um soldado seqüestraram um comerciante e pediram R$ 100 mil de resgate.
O valor foi baixado para R$ 4.000. No final, a vítima foi solta para arrecadar esse dinheiro, e o crime acabou descoberto.
Entre os motivos de demissões de PMs em 2003, o item extorsão/seqüestro foi responsável pela saída de sete policiais.


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