São Paulo, quinta-feira, 07 de junho de 2007

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Docentes da USP fazem passeata antiinvasão

173 pessoas participaram do protesto, que contou também com funcionários e alunos; o Hino Nacional encerrou o ato

A idéia da manifestação surgiu em reunião entre os diretores das faculdades e a reitora da USP, Suely Vilela, no fim da semana passada

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupinho de professores, funcionários e estudantes (poucos) começou a se reunir ontem logo cedo em frente ao portão do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, dentro da Cidade Universitária (zona oeste da capital). Às 10h, o professor Sylvio Sawaia, diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, subiu no carro de som. Meio confuso, dirigiu-se à massa lá embaixo: "Companheiros... Ou eu devia dizer camaradas?" Depois de se decidir por "colegas", Sawaia convocou os presentes: "Vamos caminhar de braços dados, à la francesa, formando fileiras de dez [pessoas] -que é para parecer mais gente do que somos."
E, assim, com 173 integrantes (em um total de mais de 90.000 uspianos), saiu pela avenida Luciano Gualberto, que corta o campus da Universidade de São Paulo, a primeira passeata reacionária a ser vista por ali.
A reação, no caso, foi à invasão da reitoria por estudantes, professores e funcionários, que há 35 dias desalojaram toda a burocracia central da USP.
Segundo os invasores, a ocupação da reitoria é -entre outras coisas- para forçar a derrubada de decretos assinados pelo governador José Serra, considerados atentatórios à autonomia universitária.
Segundo o pessoal antiinvasão, "a ocupação da reitoria é um ato que caminha no sentido do desentendimento e da desunião, não devendo ser aceito como forma de luta".
Entre os manifestantes na passeata de ontem, estavam pesquisadores como Etelvino Bechara, titular do Instituto de Química e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Química, que reclamava do que considera "irresponsabilidade" do governador José Serra e da reitora Suely Vilela. "Eles não estão exercendo a autoridade de que foram investidos. Eu cobro do governador e da reitora uma atitude mais consistente em defesa da USP."
O professor Marcelo Alves, doutor da Escola Politécnica, gritava: "A USP não pode ser transformada em um gueto ou numa favela carioca, em que o poder público não entra. Já houve ordem judicial pela reintegração de posse [do prédio da reitoria]. Tem de ser cumprida. E logo". Com tropa de choque, professor? "Inclusive com tropa de choque", defendeu.
A idéia da manifestação contra a invasão da reitoria surgiu em uma reunião realizada no fim da semana entre os diretores e a reitora sem teto Suely Vilela. Às 10h20 de terça-feira, estudantes, professores e funcionários do Instituto de Matemática e Estatística, por exemplo, receberam e-mail do diretor da escola, Paulo Domingos Cordaro, convidando-os para o chamado "Ato de Defesa da Universidade Pública". Para facilitar a presença dos funcionários, Cordaro fez questão de colocar o aviso: "Os funcionários interessados em participar da caminhada estão dispensados de suas atividades".
O diretor da matemática admite que foi "muito criticado" pela atitude de dispensar os funcionários. Mas defende-se: "Eu fiz essa pequena concessão por causa da gravidade da situação da universidade".
Até anteontem, estava previsto que o protesto contra a invasão terminaria na reitoria. Mas o pessoal na invasão espalhou a notícia de que 12 ônibus estavam viajando do interior do Estado para a USP, a fim de reforçar a ocupação. Às 11h, os invasores já eram mais de 800 em frente à reitoria.
Diante da inferioridade numérica, os organizadores do protesto antiinvasão mudaram de idéia. Resolveram dar um "abraço" no relógio da universidade, espécie de marco zero do campus. "Tomara que tenhamos gente suficiente para fazer o círculo em volta do relógio", disse o diretor da Arquitetura ao microfone do carro de som, na saída da passeata.
O diretor da Faculdade de Economia e Administração, Carlos Azzoni, tentou explicar o baixo quórum na passeata. "Nós temos essa coisa de dar aulas", disse, irônico.
O motorista do carro de som da Mega Som Propagandas e Eventos não se conformava com o fato de a manifestação transcorrer silenciosa, sem gritos de palavras de ordem, sem bumbos, sem oradores: "Eu já disse para eles falarem durante o trajeto, que do jeito que está fica parecendo enterro, mas eles não querem".
Na chegada ao relógio, os militantes antiinvasão conseguiram fechar a roda. Às 10h55, eles cantaram o Hino Nacional e encerraram o protesto.
Como a praça está a menos de cem metros da reitoria, vários invasores foram provocar a turma. Duas garotas com máscara do governador José Serra portavam faixas com os dizeres: "Quer bolsa de iniciação? Vá ao ato contra a ocupação" e "Quer abonar seu dia de trabalho? Vá ao ato contra a ocupação". Eram respostas ao e-mail do diretor da matemática.
A coisa chegou a ficar tensa quando um professor da passeata começou a gritar para os invasores: "Vagabundo, vagabundo, vai escovar os dentes". Mas durou pouco. Logo, os invasores voltaram para o prédio da reitoria, que também abraçaram, enquanto o pessoal da passeata foi almoçar. Na entrada da USP, pelo menos cem policiais em carros e 30 em motocicletas, que estiveram de prontidão, dispersaram-se. A crise continua.


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