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Docentes da USP fazem passeata antiinvasão
173 pessoas participaram do protesto, que contou também com funcionários e alunos; o Hino Nacional encerrou o ato
A idéia da manifestação surgiu em reunião entre os diretores das faculdades e a reitora da USP, Suely Vilela, no fim da semana passada
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Um grupinho de professores,
funcionários e estudantes
(poucos) começou a se reunir
ontem logo cedo em frente ao
portão do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, dentro da Cidade Universitária (zona oeste
da capital). Às 10h, o professor
Sylvio Sawaia, diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, subiu no carro de
som. Meio confuso, dirigiu-se à
massa lá embaixo: "Companheiros... Ou eu devia dizer camaradas?" Depois de se decidir
por "colegas", Sawaia convocou
os presentes: "Vamos caminhar
de braços dados, à la francesa,
formando fileiras de dez [pessoas] -que é para parecer mais
gente do que somos."
E, assim, com 173 integrantes
(em um total de mais de 90.000
uspianos), saiu pela avenida
Luciano Gualberto, que corta o
campus da Universidade de São
Paulo, a primeira passeata reacionária a ser vista por ali.
A reação, no caso, foi à invasão da reitoria por estudantes,
professores e funcionários, que
há 35 dias desalojaram toda a
burocracia central da USP.
Segundo os invasores, a ocupação da reitoria é -entre outras coisas- para forçar a derrubada de decretos assinados
pelo governador José Serra,
considerados atentatórios à autonomia universitária.
Segundo o pessoal antiinvasão, "a ocupação da reitoria é
um ato que caminha no sentido
do desentendimento e da desunião, não devendo ser aceito
como forma de luta".
Entre os manifestantes na
passeata de ontem, estavam
pesquisadores como Etelvino
Bechara, titular do Instituto de
Química e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Química,
que reclamava do que considera "irresponsabilidade" do governador José Serra e da reitora Suely Vilela. "Eles não estão
exercendo a autoridade de que
foram investidos. Eu cobro do
governador e da reitora uma
atitude mais consistente em
defesa da USP."
O professor Marcelo Alves,
doutor da Escola Politécnica,
gritava: "A USP não pode ser
transformada em um gueto ou
numa favela carioca, em que o
poder público não entra. Já
houve ordem judicial pela reintegração de posse [do prédio da
reitoria]. Tem de ser cumprida.
E logo". Com tropa de choque,
professor? "Inclusive com tropa de choque", defendeu.
A idéia da manifestação contra a invasão da reitoria surgiu
em uma reunião realizada no
fim da semana entre os diretores e a reitora sem teto Suely
Vilela. Às 10h20 de terça-feira,
estudantes, professores e funcionários do Instituto de Matemática e Estatística, por exemplo, receberam e-mail do diretor da escola, Paulo Domingos
Cordaro, convidando-os para o
chamado "Ato de Defesa da
Universidade Pública". Para facilitar a presença dos funcionários, Cordaro fez questão de colocar o aviso: "Os funcionários
interessados em participar da
caminhada estão dispensados
de suas atividades".
O diretor da matemática admite que foi "muito criticado"
pela atitude de dispensar os
funcionários. Mas defende-se:
"Eu fiz essa pequena concessão
por causa da gravidade da situação da universidade".
Até anteontem, estava previsto que o protesto contra a invasão terminaria na reitoria.
Mas o pessoal na invasão espalhou a notícia de que 12 ônibus
estavam viajando do interior
do Estado para a USP, a fim de
reforçar a ocupação. Às 11h, os
invasores já eram mais de 800
em frente à reitoria.
Diante da inferioridade numérica, os organizadores do
protesto antiinvasão mudaram
de idéia. Resolveram dar um
"abraço" no relógio da universidade, espécie de marco zero
do campus. "Tomara que tenhamos gente suficiente para
fazer o círculo em volta do relógio", disse o diretor da Arquitetura ao microfone do carro de
som, na saída da passeata.
O diretor da Faculdade de
Economia e Administração,
Carlos Azzoni, tentou explicar
o baixo quórum na passeata.
"Nós temos essa coisa de dar
aulas", disse, irônico.
O motorista do carro de som
da Mega Som Propagandas e
Eventos não se conformava
com o fato de a manifestação
transcorrer silenciosa, sem gritos de palavras de ordem, sem
bumbos, sem oradores: "Eu já
disse para eles falarem durante
o trajeto, que do jeito que está
fica parecendo enterro, mas
eles não querem".
Na chegada ao relógio, os militantes antiinvasão conseguiram fechar a roda. Às 10h55,
eles cantaram o Hino Nacional
e encerraram o protesto.
Como a praça está a menos
de cem metros da reitoria, vários invasores foram provocar a
turma. Duas garotas com máscara do governador José Serra
portavam faixas com os dizeres: "Quer bolsa de iniciação?
Vá ao ato contra a ocupação" e
"Quer abonar seu dia de trabalho? Vá ao ato contra a ocupação". Eram respostas ao e-mail
do diretor da matemática.
A coisa chegou a ficar tensa
quando um professor da passeata começou a gritar para os
invasores: "Vagabundo, vagabundo, vai escovar os dentes".
Mas durou pouco. Logo, os invasores voltaram para o prédio
da reitoria, que também abraçaram, enquanto o pessoal da
passeata foi almoçar. Na entrada da USP, pelo menos cem policiais em carros e 30 em motocicletas, que estiveram de
prontidão, dispersaram-se. A
crise continua.
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