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Outro delegado é preso no caso Detran
Fernando José Gomes é acusado de integrar a quadrilha presa na Grande SP sob acusação de vender carteiras de habilitação
Agenda apreendida na casa de investigador indica um pagamento de R$ 4.000 a um "dr. Fernando"; 14 delegados foram afastados
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O delegado Fernando José
Gomes, da Polícia Civil de São
Paulo, foi preso ontem, dentro
da delegacia de Ferraz de Vasconcelos (Grande SP), sob a
acusação de integrar a quadrilha acusada pela Promotoria e
pela PRF (Polícia Rodoviária
Federal) de vender cerca de
1.300 CNHs (carteira nacional
de habilitação) nos últimos
dois anos. É o segundo delegado preso sob essa acusação.
Além da prisão de Gomes, 14
dos delegados chefes de Ciretrans (Circunscrição Regional
de Trânsito) na região da Grande São Paulo (dez) e do litoral
(quatro) foram afastados.
Com os afastamentos de três
delegados da corregedoria do
Detran-SP na última quarta, já
são 17 os delegados atingidos
pela Operação Carta Branca,
deflagrada por Gaerco (Grupo
de Atuação Especial Regional
para Prevenção e Repressão ao
Crime Organizado), Ministério
Público de Guarulhos e PRF
(Polícia Rodoviária Federal).
O também delegado Juarez
Pereira Campos, outro de Ferraz de Vasconcelos, foi um dos
19 presos na operação da última terça-feira. Campos é acusado de liderar o esquema de
venda de CNHs. Cada habilitação custava, em média, entre
R$ 1.300 e R$ 1.800, de acordo
com o promotor Marcelo Alexandre de Oliveira.
De acordo com o promotor, o
nome do delegado Gomes pode
ser o que consta na contabilidade de pagamento de propina da
quadrilha que usava a Ciretran
de Ferraz de Vasconcelos como
base. A prisão de Gomes é temporária por cinco dias.
Agenda
Em uma agenda apreendida
na casa do investigador da Polícia Civil Aparecido da Silva
Santos, o Cido, também preso
terça pela PRF, está escrito, entre outros nomes: "Dr. Fernando - R$ 4.000". O delegado Gomes havia sido afastado de suas
funções na chefia da Ciretran
de Ferraz em abril.
O responsável pela saída de
Gomes da Ciretran foi Elson
Sayão, delegado chefe do Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da Macro SP), órgão da Polícia Civil que cuida da
corporação em 38 dos 39 municípios que formam, ao lado da
capital, a Grande São Paulo.
Ligado diretamente ao delegado-geral da Polícia Civil de
São Paulo, Maurício José Lemos Freire, foi Sayão quem, em
22 de abril, avisou o então delegado seccional da região de
Ferraz, Carlos José Ramos da
Silva, o Casé, sobre a apreensão
pela PRF de 200 CNHs emitidas na região dele.
Na última quarta, Freire, ao
ser questionado pela Folha,
não quis falar sobre o aviso dado por Sayão a Casé, que foi
afastado no dia 21 de maio.
Corregedoria
Sete dias após Casé, então
chefe da Polícia Civil na região
de Ferraz, receber o alerta da
chefia da corporação sobre a
apreensão das 200 carteiras, a
corregedoria do Detran-SP foi
à Ciretran de Ferraz, mas, segundo a Promotoria, nada foi
feito contra o esquema.
Interceptações telefônicas
mostram que, em 29 de abril,
membros da corregedoria do
Detran-SP receberam dinheiro
de alguns dos 19 presos na terça. As conversas envolvem donos de auto-escolas e um funcionário da Ciretran de Ferraz.
Nas gravações telefônicas autorizadas pela Justiça, eles falam em arrumar dinheiro vivo
(R$ 10 mil por auto-escola no
esquema) "porque a corregedoria veio para fritar, mas que
uma boa conversa resolveria".
Outro lado
A Folha solicitou ontem entrevistas com o secretário da
Segurança da gestão José Serra
(PSDB), Ronaldo Marzagão, e
também com o delegado-geral
da Polícia Civil, mas nenhum
dos dois atendeu ao pedido. Esses pedidos estão sendo feitos
desde terça-feira.
A reportagem também pediu
que as assessorias dos dois órgãos viabilizassem uma entrevista com o delegado preso ontem, mas tanto a Segurança Pública quanto a Delegacia Geral
não se manifestaram sobre a
solicitação.
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