São Paulo, domingo, 07 de junho de 2009

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Caótico, congestionamento na cidade sela namoros

Casais se encontram em situações inusitadas no trânsito e iniciam relacionamento

Foi na Augusta engarrafada num sábado, em 1979, que Edi Aparecida da Silva Lima conheceu Mauro, com quem se casou e vive até hoje

RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Tinha tudo para ser só mais uma volta do trabalho para casa, mais uma segunda-feira comum, mais um dia de trânsito infernal na cidade de São Paulo. Mas ao parar no sinal vermelho na noite de 28 de julho do ano passado, a publicitária Juliane Bezerra, 40, mal sabia que estava prestes a cair em uma cilada.
Armadilha do cupido: montado numa Harley-Davidson, em sua direção, acabava de aparecer o seu "príncipe encantado". Fosse um filme, talvez ele tivesse parado, tirado o capacete e a convidado para dar uma volta. Pois parar, ele até parou. Mas só porque o motorista do carro à frente dela resolveu fazer uma manobra brusca e atingiu em cheio a moto do rapaz.
Juliane saiu do carro correndo, foi ajudar a socorrer o moço caído no chão. Perguntou: "Você está bem?" E eis que então o tão odiado trânsito de São Paulo fazia sua boa ação do dia: acabava de apresentá-la ao personal trainer Carlos Eduardo Pena, 37, seu futuro namorado.
"Estou bem", ele disse, levantando-se ileso, com a experiência de quem anda de moto há mais de 20 anos. E foi para casa, não sem antes anotar o telefone da moça, que só o deixou ir com a promessa de que telefonaria para avisá-la que chegara bem.
Ele ligou. No dia seguinte, ligou de novo. "Você foi o meu anjo da guarda, queria te agradecer. Vamos sair para jantar?" Ela caiu na conversa. Os dois estavam livres, ambos recém-separados... deu namoro.
Na sexta, será o primeiro Dia dos Namorados deles. A história inspirou as amigas dela. "Dizem que vão fazer plantão na rua" onde eles se conheceram. Para quem quiser tentar, é na rua João Miguel Jarra, entre a Natingui e a Mourato Coelho, na Vila Madalena (zona oeste).

"Era para acontecer"
O trânsito dos anos 1970 não era como o de hoje, mas já era "parado" o suficiente para fazer as vezes de bom alcoviteiro.
Que o diga a funcionária pública Edi Lima, 51. Numa noite de sábado de junho (ou julho?) de 1979, ela saiu para passear de carro com a prima na rua Augusta, engarrafada. O trânsito parou por tempo suficiente para que dois rapazes em outro carro flertassem com elas. Um perguntou o nome e o telefone de Edi. Ela simpatizou, deu o número, e esperou a ligação.
Três meses depois, quando ela já não esperava mais, o telefone tocou. "Edi? Nos conhecemos ali na Augusta, está lembrada?" Ela respondeu que "claro!" Aí ele deu o golpe fatal de desdém, que arrebatou de vez o coração da garota: disse que não se lembrava bem dela, mas que se ela topasse sair...
Ela topou. E finalmente descobriu o nome dele: Mauro Lima. O flerte deu em casamento -já são 27 anos, com direito a três filhos. "Era para a gente estar ali, naquela hora, naquele trânsito parado", diz ela.
Trânsito que, de cupido, passaria a vilão -eles se mudaram há 16 anos para a Praia Grande, fugindo dos engarrafamentos.


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