|
Próximo Texto | Índice
Caótico, congestionamento na cidade sela namoros
Casais se encontram em situações inusitadas no trânsito e iniciam relacionamento
Foi na Augusta engarrafada
num sábado, em 1979, que
Edi Aparecida da Silva Lima
conheceu Mauro, com quem
se casou e vive até hoje
RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Tinha tudo para ser só mais
uma volta do trabalho para casa, mais uma segunda-feira comum, mais um dia de trânsito
infernal na cidade de São Paulo.
Mas ao parar no sinal vermelho
na noite de 28 de julho do ano
passado, a publicitária Juliane
Bezerra, 40, mal sabia que estava prestes a cair em uma cilada.
Armadilha do cupido: montado numa Harley-Davidson,
em sua direção, acabava de aparecer o seu "príncipe encantado". Fosse um filme, talvez ele
tivesse parado, tirado o capacete e a convidado para dar uma
volta. Pois parar, ele até parou.
Mas só porque o motorista do
carro à frente dela resolveu fazer uma manobra brusca e atingiu em cheio a moto do rapaz.
Juliane saiu do carro correndo, foi ajudar a socorrer o moço
caído no chão. Perguntou: "Você está bem?" E eis que então o
tão odiado trânsito de São Paulo fazia sua boa ação do dia: acabava de apresentá-la ao personal trainer Carlos Eduardo Pena, 37, seu futuro namorado.
"Estou bem", ele disse, levantando-se ileso, com a experiência de quem anda de moto há
mais de 20 anos. E foi para casa,
não sem antes anotar o telefone
da moça, que só o deixou ir com
a promessa de que telefonaria
para avisá-la que chegara bem.
Ele ligou. No dia seguinte, ligou de novo. "Você foi o meu
anjo da guarda, queria te agradecer. Vamos sair para jantar?"
Ela caiu na conversa. Os dois
estavam livres, ambos recém-separados... deu namoro.
Na sexta, será o primeiro Dia
dos Namorados deles. A história inspirou as amigas dela. "Dizem que vão fazer plantão na
rua" onde eles se conheceram.
Para quem quiser tentar, é na
rua João Miguel Jarra, entre a
Natingui e a Mourato Coelho,
na Vila Madalena (zona oeste).
"Era para acontecer"
O trânsito dos anos 1970 não
era como o de hoje, mas já era
"parado" o suficiente para fazer
as vezes de bom alcoviteiro.
Que o diga a funcionária pública Edi Lima, 51. Numa noite
de sábado de junho (ou julho?)
de 1979, ela saiu para passear de
carro com a prima na rua Augusta, engarrafada. O trânsito
parou por tempo suficiente para que dois rapazes em outro
carro flertassem com elas. Um
perguntou o nome e o telefone
de Edi. Ela simpatizou, deu o
número, e esperou a ligação.
Três meses depois, quando
ela já não esperava mais, o telefone tocou. "Edi? Nos conhecemos ali na Augusta, está lembrada?" Ela respondeu que
"claro!" Aí ele deu o golpe fatal
de desdém, que arrebatou de
vez o coração da garota: disse
que não se lembrava bem dela,
mas que se ela topasse sair...
Ela topou. E finalmente descobriu o nome dele: Mauro Lima. O flerte deu em casamento
-já são 27 anos, com direito a
três filhos. "Era para a gente estar ali, naquela hora, naquele
trânsito parado", diz ela.
Trânsito que, de cupido, passaria a vilão -eles se mudaram
há 16 anos para a Praia Grande,
fugindo dos engarrafamentos.
Próximo Texto: Danuza Leão: Pequenos prazeres da vida Índice
|