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RACISMO
Manifestantes colam em estabelecimentos adesivos com os dizeres "Não compre. Esta loja não emprega negros"
Negros fazem protesto em shopping do Rio
SABRINA PETRY
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
Um protesto de militantes negros no shopping Rio Sul, o mais
movimentado da cidade, marcou
a abertura da Conferência Nacional contra o Racismo e a Intolerância, que começou ontem no
Rio. Adesivos com a frase "Não
compre. Esta loja não emprega
negros" foram colados nas vitrines de mais de 30 lojas.
Os manifestantes percorreram
o Rio Sul carregando cartazes
com os mesmos dizeres dos adesivos e discursaram na praça de
alimentação. "Queremos chamar
a atenção para a discriminação
que acontece em todos os outros
shoppings da cidade", disse Ivanir
dos Santos, presidente do Ceap
(Centro de Articulação de Populações Marginalizadas), que organizou o ato.
Um levantamento feito pelos
militantes em 155 lojas do Rio Sul
mostrou que, dos 742 funcionários desses estabelecimentos, apenas 26 são negros, ou 3,5%. De
acordo com dados do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 12,7% da população do Rio de Janeiro é negra
e 25,5% são pardos.
Funcionária da loja "O Boticário", Vera Cristina Ferreira, 50,
que é negra, confirmou a discriminação. "Durante meses procurei emprego como vendedora, e a
resposta era sempre a mesma:
"não temos vagas". Aí chegava
uma loira e ela preenchia ficha para trabalhar como vendedora."
O protesto, acompanhado de
perto por seguranças do shopping, foi pacífico. Alguns gerentes
se irritaram com a colagem dos
adesivos. Muitos alegavam que
havia negros na loja, mas que eles
estavam de folga. Outros diziam
que já tiveram funcionários negros, mas que não estavam mais
trabalhando. Nas poucas lojas em
que havia empregados negros, os
manifestantes entraram e aplaudiram os funcionários.
"Eles não podem chegar e colar
adesivos na minha loja, me acusando de racista. Eles é que são racistas. Na minha loja trabalha
quem é educado e competente,
não importa a cor", disse a gerente da loja "Dimpus", Heloísa Feo.
Segundo ela, a loja já teve funcionários negros, mas, "coincidentemente", não havia nenhum
empregado no momento. "Eles
mesmos se discriminam, porque
eu quase não recebo pessoas negras querendo trabalhar aqui."
Questionada sobre a ausência
de negros em seu quadro de empregados, a subgerente da "Chocolate", Cristina Gonçalves, respondeu: "Tivemos uma funcionária negra linda aqui há um tempo
atrás, ela tinha até olhos verdes.
Na verdade, eles é que não nos
procuraram, e existem tantos negros bonitos lá fora".
Críticas
A abertura da conferência, na
Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, foi interrompida pelo
protesto de funcionários da instituição, que estão em greve. A organização do evento teve de negociar com os grevistas e prometer
uma audiência com a vice-governadora Benedita da Silva (PT).
O movimento negro aproveitará a conferência -preparatória
para o encontro organizado pelas
Nações Unidas e marcado para
agosto, na África do Sul- para
exigir do governo medidas práticas de combate ao racismo.
"A conferência corre o risco de
se transformar num ato de fachada, para que o governo diga que
está consultando a sociedade civil.
O governo diz uma coisa aqui, outra no exterior, onde muitos ministros não reconhecem a existência do racismo", diz o economista
Marcelo Paixão, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
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