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ANÁLISE
Tsunami da dengue é ameaça ao desenvolvimento do Brasil
MORRER DE DENGUE POR FALHAS ESTRUTURAIS TÃO BÁSICAS COMO A FALTA DE ALERTA É INACEITÁVEL
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EVALDO STANISLAU DE ARAÚJO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A expressão "tsunami" remete a um fenômeno natural
súbito e devastador. Essa expressão foi recentemente empregada em uma reunião de
experts discutindo dengue.
O organismo infectado
passa por um "tsunami"
imunológico que resulta em
várias apresentações clínicas, mais ou menos graves.
Acredito que o termo se
aplique também aos aspectos clínicos da epidemia de
dengue do ano de 2010.
De forma súbita e devastadora, o sistema de Saúde se
viu diante de um enorme número de casos da doença,
sendo a rubrica da gravidade
um denominador comum.
As mortes, infelizmente,
ocorreram. E aí enfrentamos
outro problema. Os pacientes com suas manifestações
polimórficas não "cabiam"
na classificação oficial. Houve forte debate se seriam casos de dengue hemorrágica.
A conclusão é que o termo
"hemorrágico" induz a erro.
Sabiamente a partir de 2011 a
OMS adotará uma nova classificação que contempla apenas dengue e dengue com sinais de gravidade. E sinais de
gravidade não faltaram...
Só em um hospital privado
da Baixada Santista foram registrados 349 casos de dengue grave com sinais de elevada permeabilidade vascular e contagem de plaquetas
baixa: dengue hemorrágica.
É um termo forte. Porém,
mais forte do que o termo é o
fato de ainda termos mortes
por dengue, mormente em
regiões que são cruciais para
o desenvolvimento econômico, como na Baixada Santista, sede do Pré-Sal e do maior
porto da América Latina.
Portanto, a dengue extrapola os aspectos médicos e,
ante forte movimento migratório, constitui uma ameaça
real ao pleno desenvolvimento econômico do Brasil.
O tsunami, a exemplo da
dengue, é previsível. Os alertas devem ser interpretados
corretamente. Medidas de
controle do vetor continuam
essenciais. Mas as lições deste ano apontam para a utilização eficiente da rede de assistência para evitar mortes.
Assim, medidas simples
-como realizar um hemograma e a efetiva hidratação,
que já pode começar em casa- aliadas à adoção de testes de diagnose rápida e à
desburocratização da notificação e diagnose devem ser
medidas prioritárias.
A tudo, aliar-se a noção de
que a dengue está onipresente no Brasil, em anos mais
agressiva, em outros menos
agressiva, mas sempre potencialmente letal.
Morrer de dengue por falhas estruturais tão básicas
quanto falta de alerta, diagnose simples e hidratação
efetiva é inaceitável.
EVALDO STANISLAU AFFONSO DE ARAÚJO
é médico infectologista, assistente-doutor
da Divisão de Moléstias Infecciosas e
Parasitárias do HC-FMUSP
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