São Paulo, quinta-feira, 07 de agosto de 2008

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ANÁLISE

Avaliação não dá selo de qualidade

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

ENTRA EXAME , sai exame, e o diagnóstico do ensino superior permanece o mesmo: as instituições particulares, onde estudam mais de 70% dos alunos, têm, em média, desempenho pior do que as públicas.
O dilema que surge a cada vez que esses resultados são divulgados é o que fazer com um sistema do qual o país se tornou dependente.
É o setor privado o principal responsável pela expansão das matrículas no ensino superior nos últimos dez anos. Sem ele, o já vergonhoso percentual de menos de 10% da população adulta com nível superior no país seria ainda menor.
Fechar todos os cursos mal avaliados agravaria o problema da escassez de mão-de-obra qualificada no país. Ceder ao lobby privado e afrouxar as regras da avaliação apenas esconderia as deficiências que sabemos que existem.
Tampouco deve-se concluir, a partir dos resultados divulgados, que o setor público é uma ilha de excelência.
Desde o Provão, exame criado em 1996 pelo governo federal para avaliar os concluintes do ensino superior, a distribuição das notas repete a mesma lógica estatística. Sempre haverá um percentual parecido de cursos com notas altas e uma proporção semelhante de instituições ruins.
O indicador recém-criado pelo MEC para avaliar os cursos -que agrega num só índice dimensões de infra-estrutura com a nota dos alunos- vai na mesma linha.
Todos os cursos podem ser um lixo ou de Primeiro Mundo, mas, na hora de distribuir os conceitos, sempre haverá aqueles que ficarão no topo, com conceitos altos, e os que estarão na rabeira.
O que a avaliação faz, em resumo, é comparar os cursos, e não dar a eles um selo de qualidade definitivo.
Se um hipotético selo de qualidade ao ensino superior fosse dado levando em conta a educação em outros países, pouquíssimas instituições brasileiras, públicas ou particulares, se salvariam.
Prova disso é que no último ranking divulgado pelo jornal britânico "The Times" nenhuma universidade do país aparecia entre as 100 melhores do mundo. As primeiras instituições brasileiras na lista eram a USP, na 175ª posição, e a Unicamp, na 177ª.
A China, país igualmente emergente e também em processo de expansão do ensino superior, faz melhor: conseguiu colocar três universidades entre as 100 melhores, sendo uma (a de Pequim) a 36ª.
A avaliação dos cursos superiores não pode retroceder. Os cursos privados com desempenho ruim têm que ser cobrados e, em alguns casos, até mesmo fechados. Mas o setor público não deve, diante de resultados apenas melhores que a média, se iludir. Também a ele vale a regra de que é preciso crescer, mas com qualidade.


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