São Paulo, sexta-feira, 07 de setembro de 2007

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Dengue pode agravar doenças no coração

Problema é relativo ao uso de remédio anticoagulante usado pelos pacientes

Medicamento é utilizado por cardiopatas, mas uso em paciente com dengue pode causar sérias hemorragias, alertam cardiologistas

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O aumento dos casos de dengue no país pode agravar a saúde de portadores de doenças cardiovasculares. O alerta, inédito, será feito no Congresso Brasileiro de Cardiologia que começa hoje em São Paulo.
Além do quadro clássico de febre, mal-estar, dor no corpo e fraqueza, a doença também pode provocar aumento das enzimas hepáticas, queda das plaquetas (plaquetopenia) e inflamação no músculo cardíaco (miocardite). Normalmente, esse quadro é passageiro.
A preocupação dos cardiologistas, contudo, reside nos portadores de doenças coronarianas e que fazem uso contínuo de AAS, o ácido acetilsalicílico (aspirina) e/ou de outros anticoagulantes. Os diabéticos também usam aspirina para prevenir eventos cardíacos.
Nos últimos 12 meses, foram comercializados no Brasil 9,3 milhões de remédios com ácido acetilsalicílico nas fórmulas, informa a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Em caso de dengue, a recomendação do Ministério da Saúde é para suspender o uso de medicamentos com AAS. Na cardiologia, essas drogas têm a função de "afinar" o sangue e evitar a formação de coágulos.
Um dos efeitos do vírus da dengue é justamente atacar as plaquetas -responsável pela coagulação sangüínea. Juntos, doença e remédio diminuem muito as plaquetas, provocando sangramentos e, em casos raros, a síndrome de Reye, uma grave encefalopatia. Se não controladas a tempo, ambas podem levar a pessoa à morte.
"Jamais se discutiu no país os efeitos da dengue sobre o coração. Há necessidade imediata de explicar os riscos para a população em geral", afirma o cardiologista Carlos Serrano Júnior, diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Segundo ele, milhares de pacientes com problemas cardiovasculares tomam anticoagulantes e antiagregantes (aspirina) e essas drogas geram hemorragias sérias, quando ministrados na fase aguda da dengue. O problema é que, sem as drogas anticoagulantes, os cardiopatas também correm riscos: podem desenvolver uma trombose e sofrer um infarto ou um derrame (AVC).
"A gente precisa avaliar qual é o risco maior: tirar a aspirina e o clopidogrel [antiplaquetário] na fase aguda da dengue ou mantê-los e fazer um monitoramento periódico das plaquetas", explica o cardiologista Antonio Eduardo Pesaro, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Para Serrano Júnior, será necessária uma capacitação de outros médicos que lidam com a dengue, como os infectologistas e clínicos-gerais, sobre como tratar o cardiopata que contrair a doença. "A dengue está aumentando em áreas onde há muitos cardíacos. Então é necessária [a capacitação] porque essa população está em risco."


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