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Dengue pode agravar doenças no coração
Problema é relativo ao uso de remédio anticoagulante usado pelos pacientes
Medicamento é utilizado por cardiopatas, mas uso em paciente com dengue pode causar sérias hemorragias, alertam cardiologistas
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O aumento dos casos de dengue no país pode agravar a saúde de portadores de doenças
cardiovasculares. O alerta, inédito, será feito no Congresso
Brasileiro de Cardiologia que
começa hoje em São Paulo.
Além do quadro clássico de
febre, mal-estar, dor no corpo e
fraqueza, a doença também pode provocar aumento das enzimas hepáticas, queda das plaquetas (plaquetopenia) e inflamação no músculo cardíaco
(miocardite). Normalmente,
esse quadro é passageiro.
A preocupação dos cardiologistas, contudo, reside nos portadores de doenças coronarianas e que fazem uso contínuo
de AAS, o ácido acetilsalicílico
(aspirina) e/ou de outros anticoagulantes. Os diabéticos
também usam aspirina para
prevenir eventos cardíacos.
Nos últimos 12 meses, foram
comercializados no Brasil 9,3
milhões de remédios com ácido
acetilsalicílico nas fórmulas,
informa a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Em caso de dengue, a recomendação do Ministério da
Saúde é para suspender o uso
de medicamentos com AAS. Na
cardiologia, essas drogas têm a
função de "afinar" o sangue e
evitar a formação de coágulos.
Um dos efeitos do vírus da
dengue é justamente atacar as
plaquetas -responsável pela
coagulação sangüínea. Juntos,
doença e remédio diminuem
muito as plaquetas, provocando sangramentos e, em casos
raros, a síndrome de Reye, uma
grave encefalopatia. Se não
controladas a tempo, ambas
podem levar a pessoa à morte.
"Jamais se discutiu no país os
efeitos da dengue sobre o coração. Há necessidade imediata
de explicar os riscos para a população em geral", afirma o cardiologista Carlos Serrano Júnior, diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Segundo ele, milhares de pacientes com problemas cardiovasculares tomam anticoagulantes e antiagregantes (aspirina) e essas drogas geram hemorragias sérias, quando ministrados na fase aguda da dengue. O problema é que, sem as
drogas anticoagulantes, os cardiopatas também correm riscos: podem desenvolver uma
trombose e sofrer um infarto
ou um derrame (AVC).
"A gente precisa avaliar qual
é o risco maior: tirar a aspirina
e o clopidogrel [antiplaquetário] na fase aguda da dengue ou
mantê-los e fazer um monitoramento periódico das plaquetas", explica o cardiologista Antonio Eduardo Pesaro, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Para Serrano Júnior, será necessária uma capacitação de
outros médicos que lidam com
a dengue, como os infectologistas e clínicos-gerais, sobre como tratar o cardiopata que contrair a doença. "A dengue está
aumentando em áreas onde há
muitos cardíacos. Então é necessária [a capacitação] porque
essa população está em risco."
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