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Para gerente da Anac, norma que restringe vôos vigorava
Segundo Schittini, se obedecida, instrução poderia evitar tragédia
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Gilberto Schittini, gerente de
Padrões de Avaliação de Aeronaves da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), afirmou
ontem que, para ele, a norma
que proíbe pousos e decolagens
em Congonhas de aeronaves
com o reverso travado está em
vigor, contrariando o que diz a
direção da agência e a TAM. Segundo ele, se fosse seguida, a
norma impediria o cenário do
acidente com o Airbu-A320 da
TAM, que matou 199 pessoas
em 17 de julho.
"Não poderia [o controle aéreo] ter despachado [autorizado o pouso] o avião sem todos
os reversores funcionando e
operando com pista molhada,
ainda mais numa pista curta",
afirmou Schittini.
Autor da polêmica IS (Instrução Normativa) que restringia as operações em dias de
chuva, Schittini disse ontem à
CPI do Apagão Aéreo da Câmara que elaborou o texto com base em normas internacionais
de segurança e que, a partir do
momento em que a IS foi colocada na página da Anac na internet, passou a ter validade.
"Para mim a norma está em vigor até hoje", afirmou.
De acordo com ele, a norma é
clara quanto à proibição de
operações em dias de chuva de
aeronaves com reverso travado. A ex-diretora da Anac Denise Abreu afirmou à CPI anteriormente que, se estivesse em
vigor, a IS não evitaria o acidente porque não impediria o Airbus de operar. "Essa é a opinião
dela", afirmou Schittini. Em
meio a denúncias de irregularidades e acusação de fraude processual, Abreu renunciou ao
cargo na Anac no final do mês
passado.
A Anac, por sua vez, sustenta
que a norma não está em vigor,
era apenas uma sugestão que
acabou sendo colocada no site
da empresa "por engano". O documento, entretanto, foi usado
pela agência para convencer a
Justiça a liberar a pista de Congonhas para todas as aeronaves
no começo do ano.
A empresa aérea TAM também sustenta que a norma nunca entrou em vigor. Indagado
por jornalistas sobre o que sentia ao saber que a norma que redigiu poderia ter evitado a tragédia, Schittini afirmou: "Qual
meu sentimento? Já até chorei
por causa disso. A norma teria
impedido que o avião pousasse
naquele cenário, com pista molhada e reverso funcionando
parcialmente."
Sobre as causas do acidente,
ele afirmou que há críticas pelo
fato de no Airbus os manetes
[espécie de marcha que controla o freio] serem operados manualmente, ao contrário de aeronaves como o Boeing, onde o
sistema é computadorizado. "O
[avião] Airbus sempre foi criticado por isso. O piloto pode ser
induzido a cometer um erro. A
[empresa] Airbus projetou um
sistema de automatismo que
tem deficiências", disse. A empresa não quis se manifestar
sobre o assunto. O uso incorreto dos manetes vem sendo estudado como uma das causas
do acidente.
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