São Paulo, sexta-feira, 07 de setembro de 2007

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Para gerente da Anac, norma que restringe vôos vigorava

Segundo Schittini, se obedecida, instrução poderia evitar tragédia

ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Gilberto Schittini, gerente de Padrões de Avaliação de Aeronaves da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), afirmou ontem que, para ele, a norma que proíbe pousos e decolagens em Congonhas de aeronaves com o reverso travado está em vigor, contrariando o que diz a direção da agência e a TAM. Segundo ele, se fosse seguida, a norma impediria o cenário do acidente com o Airbu-A320 da TAM, que matou 199 pessoas em 17 de julho.
"Não poderia [o controle aéreo] ter despachado [autorizado o pouso] o avião sem todos os reversores funcionando e operando com pista molhada, ainda mais numa pista curta", afirmou Schittini.
Autor da polêmica IS (Instrução Normativa) que restringia as operações em dias de chuva, Schittini disse ontem à CPI do Apagão Aéreo da Câmara que elaborou o texto com base em normas internacionais de segurança e que, a partir do momento em que a IS foi colocada na página da Anac na internet, passou a ter validade. "Para mim a norma está em vigor até hoje", afirmou.
De acordo com ele, a norma é clara quanto à proibição de operações em dias de chuva de aeronaves com reverso travado. A ex-diretora da Anac Denise Abreu afirmou à CPI anteriormente que, se estivesse em vigor, a IS não evitaria o acidente porque não impediria o Airbus de operar. "Essa é a opinião dela", afirmou Schittini. Em meio a denúncias de irregularidades e acusação de fraude processual, Abreu renunciou ao cargo na Anac no final do mês passado.
A Anac, por sua vez, sustenta que a norma não está em vigor, era apenas uma sugestão que acabou sendo colocada no site da empresa "por engano". O documento, entretanto, foi usado pela agência para convencer a Justiça a liberar a pista de Congonhas para todas as aeronaves no começo do ano.
A empresa aérea TAM também sustenta que a norma nunca entrou em vigor. Indagado por jornalistas sobre o que sentia ao saber que a norma que redigiu poderia ter evitado a tragédia, Schittini afirmou: "Qual meu sentimento? Já até chorei por causa disso. A norma teria impedido que o avião pousasse naquele cenário, com pista molhada e reverso funcionando parcialmente."
Sobre as causas do acidente, ele afirmou que há críticas pelo fato de no Airbus os manetes [espécie de marcha que controla o freio] serem operados manualmente, ao contrário de aeronaves como o Boeing, onde o sistema é computadorizado. "O [avião] Airbus sempre foi criticado por isso. O piloto pode ser induzido a cometer um erro. A [empresa] Airbus projetou um sistema de automatismo que tem deficiências", disse. A empresa não quis se manifestar sobre o assunto. O uso incorreto dos manetes vem sendo estudado como uma das causas do acidente.


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