São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2008

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Moradores preferem agilidade do MSF

Posto dos Médicos Sem Fronteiras dentro do complexo do Alemão torna atendimento mais acessível que rede pública

Por não prestar socorro de alta complexidade, ONG usa veículos adaptados para levar moradores a hospitais e postos de saúde vizinhos

DA SUCURSAL DO RIO

Um dos objetivos da atuação dos Médicos Sem Fronteiras é mostrar ao poder público que é possível melhorar o atendimento às populações em áreas conflagradas. No complexo do Alemão, é o que o MSF tem feito: prestar socorro aos moradores e, diante de uma necessidade, levá-los ao hospital público.
Na opinião de Antônia Cristina da Silva, 32, moradora do Alemão desde que nasceu, a diferença entre o atendimento público e o do MSF é brutal. "Aqui a gente é bem atendido. Eles compreendem melhor a gente. No posto de Del Castilho [unidade de saúde mais próxima], o tratamento é diferente. A gente fica horas na fila lá."
O MSF presta de 30 a 40 atendimentos médicos por dia, além das consultas com psicólogos. Ao chegarem, os pacientes recebem um cartão vermelho, amarelo, ou branco. A cor define a prioridade e o tipo de atendimento e, quando o posto não está preparado para atender algum problema, o paciente é orientado ou reencaminhado para hospitais da rede pública.
Ao todo, mais de 20 profissionais -remunerados- prestam o atendimento diário, incluindo quatro médicos, dois enfermeiros, dois psicólogos e agentes comunitários de saúde. Os dois psicólogos do posto atendem a cerca de oito pessoas por dia. Cada pessoa tem direito a um total de 15 sessões, para que se possa atender a um número maior de moradores.
O posto do MSF no Alemão está montado dentro de uma das favelas do complexo -a Fazendinha. Isso permite que o atendimento seja mais rápido e acessível a moradores com dificuldade de locomoção ou sem condições de pegar ônibus.
Apesar dos riscos, até agora os profissionais do MSF dizem não ter presenciado tiroteios ou situação grave de violência.
Milena Osorio, do MSF, diz que a organização escolheu atuar no Alemão depois que o local ficou marcado, no ano passado, por um violento confronto entre a polícia e o tráfico, que resultou em 19 mortes.
Ela afirma que, mesmo não fazendo atendimento de alta complexidade, o primeiro atendimento de emergência pode salvar a vida de um morador. Como as ambulâncias tradicionais não sobem o Alemão por causa das vielas e barricadas do tráfico, o MSF utiliza kombis para chegar aos moradores e levá-los aos hospitais públicos.
"Sou hipertensa e, certa vez, passei muito mal. Não pude chegar até aqui, mas eles mandaram uma ambulância na minha casa", conta Antônia.

"Nada de óculos escuros"
Tão logo o repórter da Folha subiu na kombi do MSF, que o levaria ao posto do grupo no complexo do Alemão, o motorista alertou: nada de cinto de segurança ou óculos escuros, pois é preciso estar preparado para sair do carro em situações de risco e deixar os olhos visíveis para evitar problemas.
Os veículos do MSF, além da identificação do grupo em letras garrafais, levam sempre um adesivo em forma de círculo com o símbolo de uma arma sob uma faixa vermelha atravessada, uma tentativa de evitar que o veículo seja confundido ou atingido por balas.


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