São Paulo, segunda-feira, 07 de outubro de 2002

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FUMO

Unidades cadastradas pelo governo no primeiro mês têm capacidade para 2.000 pacientes; país tem 30,6 milhões de fumantes

Só 40 centros oferecem tratamento pelo SUS

Fabiana Beltramin/Folha Imagem
As gêmeas Joseli (à esq.) e Joseti Capusso, 40, que deixaram de fumar há um mês com a ajuda de tratamento que inclui terapia em grupo e medicamentos


AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo está oferecendo desde a semana passada um tratamento com terapia e medicamento para quem deseja parar de fumar. O país tem 30,6 milhões de fumantes, e estudos nacionais indicam que 78% deles gostariam de abandonar o cigarro.
Pelas dimensões nacionais, a iniciativa do governo será o maior programa de tratamento de tabagismo do mundo. Por enquanto, é apenas intenção. Desde que a portaria foi publicada, um mês atrás, só 40 centros se cadastraram em 15 Estados. Juntos, podem atender cerca de 2.000 fumantes.
No Estado de São Paulo, onde estão 6,2 milhões de fumantes, somente duas unidades de referência foram cadastradas. Só na capital existe mais de uma dezena de serviços de referência que tratam fumantes.
Entre as razões do descompasso estão a falta de motivação e a resistência de profissionais e instituições. "Trabalhar com dependência química é desgastante e o profissional não tem respaldo", diz Sandra Scivoletto, do Grea, grupo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas que trabalha com dependência.
Outro motivo seriam as regras do Instituto Nacional do Câncer (Inca), que centralizou o treinamento e ainda não cadastrou a maioria dos centros que trabalham com fumantes.
"É um pontapé inicial", diz Ricardo Henrique Meirelles, responsável pelo Programa de Abordagem e Tratamento ao Fumante do Inca. "Cabe agora aos Estados o treinamento das equipes e a multiplicação das unidades."
A Secretaria da Saúde de São Paulo informa que vem "estimulando profissionais e instituições". "Mais de 300 unidades estão sendo treinadas no Estado", diz Marco Antonio de Moraes, responsável pelo programa de tabagismo da secretaria. "Mas é preciso que a unidade atenda às exigências do programa e o profissional esteja motivado."
No papel, a portaria do ministério tem tudo para dar certo. No primeiro ano, ela prevê o atendimento de 20 mil fumantes com gastos de R$ 3 milhões. Em dois anos serão 320 centros, com investimentos de R$ 34 milhões e o atendimento a 200 mil pacientes.
O Ministério da Saúde estima em R$ 200 milhões anuais os gastos com doenças atribuídas ao tabagismo. Calcula-se que 200 mil pessoas morram pelo cigarro a cada ano, no país.
O tratamento segue diretrizes elaboradas pelo Inca em parceria com sociedades científicas. Trata-se de uma associação da terapia cognitiva-comportamental em grupo com medicamentos -gomas de mascar e adesivos de nicotina, além do antidepressivo bupropiona. Entre 20% e 30% dos que seguem essa terapia deixam o cigarro em um ano.
Uma pesquisa com 102 pacientes da Oficina de Cessação do Fumar do Hospital São Paulo-Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) mostrou que, 18 meses depois do tratamento, 45% continuavam sem fumar. "Usamos toda motivação para convencer o paciente de que parar foi a melhor opção que fez", diz Maria Isabel Sampaio Carmagnani, professora de enfermagem e responsável pela oficina. Sem ajuda, apenas 3% conseguem parar.
As irmãs Joseti e Joseli Capusso fumaram durante 27 anos e pararam há um mês graças ao tratamento. Estão comemorando. "É um sofrimento atroz querer parar e não conseguir", relata Joseli.
O programa do ministério foi motivado pelo grande número de pessoas que desejavam parar de fumar -78%, segundo pesquisa do Inca-, e pelo alto custo do tratamento. Três meses de medicação, com adesivos de nicotina e a bupropiona, podem custar até R$ 600, sem os custos médicos e as sessões de terapia em grupo.


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