|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SAÚDE
Pesquisa indica substâncias liberadas do inseto como alérgenos comuns em escolas
Baratas desencadeiam reação alérgica em alunos
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Estudo realizado em 15 escolas
municipais de ensino fundamental da zona sul de São Paulo revela
que substâncias liberadas do corpo e das fezes de baratas, misturadas à poeira, são os alérgenos
mais frequentes nesses locais.
Esses agentes, que podem provocar reações alérgicas em crianças suscetíveis, foram encontrados em 83% das amostras de pó
recolhidas do chão e em 85% das
retiradas de cadeiras e mesas.
Também foram pesquisadas
outras 15 escolas de ensino infantil e 15 creches municipais. Nas
creches, onde crianças de zero a
quatro anos chegam a permanecer durante 12 horas, os vilões são
os ácaros e as endotoxinas (toxina
liberada da parede externa de
bactérias). As endotoxinas estavam presentes em todas as amostras analisadas.
Ao serem inalados, as substâncias liberadas das baratas, os ácaros e as endotoxinas podem sensibilizar ou até desencadear crises
alérgicas (rinites, asma, dermatite
atópica) em crianças já alérgicas.
Um estudo feito há três anos
com 30 mil estudantes brasileiros
mostrou que 20% deles eram alérgicos. O Brasil ocupa o quinto lugar no ranking de países com
maior prevalência de doenças
alérgicas, perdendo para o Reino
Unido, a Austrália, a Nova Zelândia e os Estados Unidos.
A pesquisa nas escolas e creches
públicas, a primeira do gênero no
Brasil, foi feita em 1998 como tese
de doutorado da médica Vera
Vagnozzi Rullo, 38, pela Unifesp
(Universidade Federal de São
Paulo), e deve ser publicada neste
mês no "The Journal of Allergy
and Clinical Immunology", uma
das mais renomadas publicações
internacionais sobre o assunto.
Ao todo foram analisadas 300
amostras de pó, recolhidas antes e
depois das aulas. De acordo com
Vera, não houve diferença significativa nos resultados dos dois tipos de amostra.
O trabalho não analisou o número de crianças alérgicas nos locais pesquisados. Os nomes das
escolas e creches pesquisadas foram mantidos em sigilo.
Dedetização
Segundo Vera, uma alternativa
para amenizar o problema das baratas nas escolas seria aumentar o
número de dedetizações ou trocar
o produto utilizado. A aplicação
de inseticida nas escolas e creches
ocorre apenas uma vez por ano,
segundo a Secretaria Municipal
da Educação.
A pesquisadora acredita que o
problema não seja, necessariamente, de limpeza. "As baratas se
escondem em buracos e só saem à
noite. Ninguém consegue vê-las",
afirma Vera.
As baratas referidas são da espécie Blatella germanica. São baratas domésticas de pequeno tamanho, cujos lugares preferidos são
os azulejos quebrados, batentes
de portas, armários, vãos, conduítes elétricos, encanamentos em
banheiros e lavanderias.
Segundo a médica Maria Cândida Rizzo, professora do Departamento de Alergia e Imunologia da
Unifesp, a pesquisa representa
um "achado" por demonstrar,
pela primeira vez no Brasil, que as
baratas podem ser um importante alérgeno também fora dos domicílios. Para ela, o fato de isso ter
sido constatado em uma escola
pública é "mera coincidência".
"Certamente nas escolas particulares a situação é bem parecida."
Na opinião da médica, o fechamento de ralos, a colocação de iscas para baratas e a dedetização
semestral dos prédios seriam algumas das providências que o poder público poderia adotar para
diminuir a incidência dos insetos.
Ácaros
Em relação à incidência de ácaros nas creches, Vera Rullo diz
que não houve surpresas, já que é
normal a presença desses alérgenos em vários locais, especialmente nos que concentram colchões e roupas de cama.
Os ácaros proliferam em ambientes úmidos e em altas temperaturas, sendo encontrados principalmente em colchões, travesseiros, estofados e cobertores.
Seu alimento principal é a descamação da pele humana e animal, e as suas fezes são alergênicas
potentes. Segundo Vera, as recomendações são arejar os ambientes, fazer limpeza com pano úmido e revestir colchões e travesseiros com tecido impermeável.
Texto Anterior: Livros jurídicos - Walter Ceneviva Próximo Texto: Outro lado: Secretaria afirma desconhecer a pesquisa Índice
|