São Paulo, quinta-feira, 07 de outubro de 2004

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CENSO ESCOLAR

Para Ministério da Educação, existe migração do ensino médio para modalidade de formação mais rápida

Aluno acelera troca da escola por trabalho

LUIS RENATO STRAUSS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os estudantes da educação básica estão procurando fórmulas alternativas para conseguir o certificado de conclusão mais rápido e entrar no mercado de trabalho. A conclusão é de Eliezer Pacheco, presidente do Inep, que divulgou ontem os dados preliminares do Censo Escolar de 2004. Os dados finais serão divulgados somente no começo do próximo ano.
A análise é baseada no pequeno aumento das matrículas no ensino médio em relação ao ano passado. Ficou em apenas 1%. "Está aquém do que esperávamos", disse. Mas, se observados os números da educação para jovens e adultos (EJA), que pode conferir o certificado do ensino médio em menos de um ano, é possível interpretar o movimento.

Mercado
Numa análise global, o EJA, nas instituições públicas, cresceu 5% em relação a 2003. O nível de ensino confere, em programas diferentes, certificados da educação fundamental de 1ª a 4ª e de 5ª a 8ª séries, e de ensino médio. Se separadas apenas as matrículas no EJA que dá certificados do ensino médio, as matrículas no setor público cresceram 26%, um aumento de 785 mil inscrições para 988 mil.
"O jovem está sendo pressionado por um mercado mais exigente em relação ao nível de ensino. Para conseguir um trabalho, busca um meio mais curto para isso", afirmou. A interpretação é baseada também nos dados que mostram que uma grande quantidade de estudantes do ensino fundamental está com idade acima da recomendada para o nível de educação. São 22% do total com idade acima da recomendada.

Atraso
"Como nós temos um atraso escolar bastante grande, temos que considerar que quem termina o ensino fundamental muitas vezes o faz com uma idade tão avançada que o ensino médio pode não ser tão atrativo. O movimento pode ser para o EJA", afirmou Nélio Bizzo, vice-diretor da Faculdade de Educação da USP e ex-vice-presidente da Câmara de Educação Básica do CNE (Conselho Nacional de Educação).
Segundo ele, outra alternativa buscada por essa população é o ensino técnico, que dará uma educação mais voltada para o mercado de trabalho.
As matrículas do ensino técnico cresceram, em um ano, 7% nas escolas públicas (de 264 mil matrículas para 282 mil) e 21% nas instituições privadas (de 325 mil para 392 mil).
O movimento das particulares foi mais forte na região Norte, com crescimento de 47% (de 6.700 para 9.800), e das públicas no Sul (de 50,7 mil para 65 mil ).
Tanto Bizzo como Pacheco ressaltam que os governos federal e estaduais devem se preocupar com a expansão do ensino médio, pois haverá uma pressão de estudantes para esse nível de educação nos próximos anos. Segundo eles, o baixo aumento no ensino médio pode indicar que, em algumas regiões, os estudantes não estão encontrando vagas.

Custos
Para Maria Clara Di Piero, coordenadora do Departamento de Pesquisa e Avaliação da Ação Educativa, o aumento do EJA também pode ser explicado por ser um nível de ensino mais barato para os Estados. A educação de jovens e adultos é baseada em ensino a distância, telecurso ou outras modalidades que precisam de uma infra-estrutura menor do que as escolas.
"Os governos estaduais podem estar empurrando esses alunos para o EJA. Eles só precisam, por exemplo, de apenas um orientador, em vez de um professor para cada série."


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