São Paulo, quarta-feira, 07 de outubro de 2009

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Fundação da USP dá R$ 400 mil a loja de caça

Promotoria investiga essa e mais 20 empresas que seriam usadas por funcionários da Fundação Vanzolini em fraude de R$ 5,4 mi

Instituição diz que após auditorias identificou golpe e mudou procedimentos; curadoria não vê envolvimento de diretores

ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A Fundação Vanzolini, instituição de professores da Politécnica da USP, pagou quase R$ 400 mil pela consultoria de uma empresa de São Paulo que, segundo registros, é especializada no "comércio de artigos de caça, pesca e camping".
A empresa contratada, a Presto, também registrada como Recanto da Pesca, é só um exemplo, segundo o Ministério Público, de uma lista de 21 empresas "laranjas" utilizadas por funcionários da fundação para desviar mais de R$ 5,4 milhões.
Os recursos desviados equivalem a cerca de 10% de um orçamento anual da fundação (superior a R$ 50 milhões).
A Presto recebeu R$ 385 mil da fundação entre 2006 e 2008, mas não há um contrato que aponte exatamente que tipo de consultoria ofereceu. Existem apenas as notas fiscais.
Para tentar recuperar os R$ 5,4 milhões, desviados entre 2006 e 2008, a Curadoria de Fundações, órgão da Promotoria, ajuizou uma ação civil semana passada. Quem encabeça a lista de suspeitos é o então gerente financeiro da fundação Luiz Roberto de Pierre. Ele nega as acusações.
O banco Itaú também está na lista de réus. Segundo a ação, o banco autorizou pagamentos sem as assinaturas necessárias ou com assinaturas falsas.
A Fundação Vanzolini é uma instituição privada, sem fins lucrativos, criada nos anos 60 pelos professores da Politécnica da USP. Seu principal objetivo é o apoio às pesquisas realizadas pela universidade paulista. Faz isso com o superavit gerado por meio de seus contratos com entidades públicas e privadas.
A suspeita sobre ela é semelhante à que pesa contra a Fundação Butantan, onde, segundo a Promotoria, funcionários do segundo escalão desviaram uma quantia superior a R$ 35 milhões (de um orçamento anual de R$ 300 milhões).
Esse rombo provocou o afastamento do presidente da Fundação Butantan, Isaias Raw, não pela suspeita de que ele tenha sido beneficiado, mas por "gestão temerária".

Providências
No caso da Vanzolini, a Curadoria de Fundações não pediu o afastamento da cúpula da instituição porque, além de não haver suspeita de favorecimento dos dirigentes, ela considerou satisfatórias as providências tomadas. O suposto esquema começou a ser investigado em junho de 2008 quando um contador da fundação apontou para a possibilidade de fraude.
Duas empresas de auditoria foram contratadas pela fundação e, após investigação, identificaram o desvio que ocorria com a contratação fraudulenta de produtos e serviços.
A fraude descoberta, diz a Promotoria, era realizada nos pagamentos inferiores a R$ 10 mil, nos quais o departamento tinha certa autonomia, e basicamente de duas formas.
Numa delas, uma rede de empresas "laranjas" era utilizada para justificar o pagamento de "serviços que, na realidade, nunca foram prestados" para a fundação.
A outra linha da fraude era, segundo a Promotoria, a falsificação de notas fiscais de empresas que normalmente prestavam serviço à fundação.


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