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TELEFONIA
Falta de qualificação resulta em reclamações de consumidores por má instalação de linhas
Instalador vai para rua sem treinamento
da Reportagem Local
Antes de ser contratado pela
Construtura, em junho deste ano,
Leandro (nome fictício), 25, ex-montador de móveis, fez um curso de 60 horas em uma escola especializada.
Logo no primeiro dia de trabalho, deixaram-no sozinho na rua
para consertar uma linha telefônica. "Não sabia o que fazer e não
mexi em nada. Só fiquei sentado
na calçada, olhando para o poste.
No final do dia, pedi demissão."
O caso de Leandro reflete a falta
de treinamento e qualificação
adequadas dos profissionais que
irão realizar os serviços do dia-a-dia, até mesmo em empresas autorizadas pela Telefônica.
Embora tenha pedido demissão, a empresa o convenceu a ficar, prometendo que ele seria
acompanhado por outro funcionário durante duas semanas.
"Até hoje ainda não peguei todos os macetes. De vez em quando, fico embananado, mas, para
não fazer besteira, peço ajuda a
outros colegas."
Apesar de a maioria das empreiteiras dizer que, antes de sair
para fazer um trabalho sozinho, o
leigo é submetido a um estágio de
uma semana junto com outro
profissional, a versão de funcionários é diferente.
"Tem cara que termina o curso
e já começa. Não é fácil, se você reparar na montanha de fios. Muita
gente acaba desligando algumas
linhas", afirma Leonardo (nome
fictício), contratado há cerca de
dois meses pela Construtura.
O resultado disso tudo pode ser
notado em reclamações de clientes por linhas que ficaram mudas,
que foram trocadas com as dos vizinhos, que acabaram transferidas para telefones públicos ou
que foram oficialmente instaladas, mas não funcionam.
Fernando (nome fictício), 23,
que trabalha desde abril na empreiteira Telemax, aponta outra
falha, desta vez na seleção.
"Fizeram um teste e disseram
que era preciso tirar 7,5 para passar. Me esganei de estudar e tirei
mais de nove. No final das contas,
entrou todo mundo, até quem tinha tirado 2."
Para trabalhar em uma dessas
empresas, não costuma ser requisitado grau de escolaridade além
do primário. Mas carro próprio é
fundamental.
E, embora as empreiteiras digam que o carro não pode ser velho, não é raro se deparar com
veículos em mau-estado, com
mais de 20 anos de uso.
Salário
Além de serem mal selecionados e mal treinados, as pessoas
contratadas pelas empreiteiras
também reclamam da carga de
trabalho e dos baixos salários.
O salário fixo, de acordo com
pelo menos dez empresas consultadas pela Folha, varia entre R$
310 e R$ 450.
Mas a maioria consegue no final
do mês pelo menos R$ 800, já que
os empregados costumam ganhar
adicionais por produção.
Segundo Fernando, "todo mundo acaba ganhando mais com os
bicos do que com os salários da
empresa".
Os bicos consistem na realização de serviços dentro das residências, atitude proibida pela Telefônica.
Wilson (nome fictício), 25, que
trabalha desde janeiro para a Icomon, conta como se dá o recolhimento da "caixinha".
"Normalmente, são os moradores que pedem, e não a gente que
se oferece. Não há um preço fixo.
Uns pagam R$ 50, outros R$ 30. E
alguns só dão um presentinho,
como uma garrafa de uísque."
Outro lado
Antônio Carlos Goulart, representante da Construtura, negou
que seus funcionários sejam colocados na rua logo após saírem de
algum curso. "Nós temos dois
centros de treinamento. E a pessoa só sai sozinha após ficar um
mês acompanhada de outra mais
experiente."
O gerente da Telemax Humberto Gonçalves afirmou que a empresa se utiliza de testes rígidos
para selecionar profissionais. "Só
estamos pegando gente da área.
Ou, então, quem não sabe faz um
estágio de pelo menos um mês
junto com outro profissional."
A Icomon foi procurada para
comentar as declarações de um de
seus funcionários, mas as pessoas
responsáveis não foram localizadas.
(ALENCAR IZIDORO)
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