São Paulo, Domingo, 07 de Novembro de 1999
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TELEFONIA
Falta de qualificação resulta em reclamações de consumidores por má instalação de linhas
Instalador vai para rua sem treinamento

da Reportagem Local

Antes de ser contratado pela Construtura, em junho deste ano, Leandro (nome fictício), 25, ex-montador de móveis, fez um curso de 60 horas em uma escola especializada.
Logo no primeiro dia de trabalho, deixaram-no sozinho na rua para consertar uma linha telefônica. "Não sabia o que fazer e não mexi em nada. Só fiquei sentado na calçada, olhando para o poste. No final do dia, pedi demissão."
O caso de Leandro reflete a falta de treinamento e qualificação adequadas dos profissionais que irão realizar os serviços do dia-a-dia, até mesmo em empresas autorizadas pela Telefônica.
Embora tenha pedido demissão, a empresa o convenceu a ficar, prometendo que ele seria acompanhado por outro funcionário durante duas semanas.
"Até hoje ainda não peguei todos os macetes. De vez em quando, fico embananado, mas, para não fazer besteira, peço ajuda a outros colegas."
Apesar de a maioria das empreiteiras dizer que, antes de sair para fazer um trabalho sozinho, o leigo é submetido a um estágio de uma semana junto com outro profissional, a versão de funcionários é diferente.
"Tem cara que termina o curso e já começa. Não é fácil, se você reparar na montanha de fios. Muita gente acaba desligando algumas linhas", afirma Leonardo (nome fictício), contratado há cerca de dois meses pela Construtura.
O resultado disso tudo pode ser notado em reclamações de clientes por linhas que ficaram mudas, que foram trocadas com as dos vizinhos, que acabaram transferidas para telefones públicos ou que foram oficialmente instaladas, mas não funcionam.
Fernando (nome fictício), 23, que trabalha desde abril na empreiteira Telemax, aponta outra falha, desta vez na seleção.
"Fizeram um teste e disseram que era preciso tirar 7,5 para passar. Me esganei de estudar e tirei mais de nove. No final das contas, entrou todo mundo, até quem tinha tirado 2."
Para trabalhar em uma dessas empresas, não costuma ser requisitado grau de escolaridade além do primário. Mas carro próprio é fundamental.
E, embora as empreiteiras digam que o carro não pode ser velho, não é raro se deparar com veículos em mau-estado, com mais de 20 anos de uso.

Salário
Além de serem mal selecionados e mal treinados, as pessoas contratadas pelas empreiteiras também reclamam da carga de trabalho e dos baixos salários.
O salário fixo, de acordo com pelo menos dez empresas consultadas pela Folha, varia entre R$ 310 e R$ 450.
Mas a maioria consegue no final do mês pelo menos R$ 800, já que os empregados costumam ganhar adicionais por produção.
Segundo Fernando, "todo mundo acaba ganhando mais com os bicos do que com os salários da empresa".
Os bicos consistem na realização de serviços dentro das residências, atitude proibida pela Telefônica.
Wilson (nome fictício), 25, que trabalha desde janeiro para a Icomon, conta como se dá o recolhimento da "caixinha".
"Normalmente, são os moradores que pedem, e não a gente que se oferece. Não há um preço fixo. Uns pagam R$ 50, outros R$ 30. E alguns só dão um presentinho, como uma garrafa de uísque."

Outro lado
Antônio Carlos Goulart, representante da Construtura, negou que seus funcionários sejam colocados na rua logo após saírem de algum curso. "Nós temos dois centros de treinamento. E a pessoa só sai sozinha após ficar um mês acompanhada de outra mais experiente."
O gerente da Telemax Humberto Gonçalves afirmou que a empresa se utiliza de testes rígidos para selecionar profissionais. "Só estamos pegando gente da área. Ou, então, quem não sabe faz um estágio de pelo menos um mês junto com outro profissional."
A Icomon foi procurada para comentar as declarações de um de seus funcionários, mas as pessoas responsáveis não foram localizadas. (ALENCAR IZIDORO)

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