São Paulo, quinta-feira, 07 de novembro de 2002

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PATRIMÔNIO HISTÓRICO

Chafariz da igreja matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto (MG), ficou em pedaços

Caminhão destrói monumento de 300 anos

LEONARDO WERNER
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Um acidente envolvendo um caminhão carregado de engradados de cerveja destruiu um monumento de 300 anos, no final da tarde de anteontem, na cidade histórica de Ouro Preto (100 km de Belo Horizonte).
Segundo testemunhas, o motorista descia a rua Randolfo Bretas, uma das mais íngremes da cidade, quando perdeu o controle do veículo e se chocou contra o chafariz da igreja matriz de Nossa Senhora do Pilar, quebrando-o em vários fragmentos. A pista estava molhada por causa da chuva.
Logo após o acidente, por volta das 17h30, o Corpo de Bombeiros cercou a área e a Polícia Militar foi chamada para retirar o caminhão de cima do que sobrara da peça.
No entanto, a Promotoria do Patrimônio Histórico e Cultural de Ouro Preto impediu a retirada do veículo, alegando que o local poderia ser mais danificado. A permissão para que o caminhão fosse retirado acabou sendo concedida, e a operação teve início na noite de ontem. Até a conclusão desta edição, ela ainda não havia sido concluída.
De acordo com Benedito Tadeu Oliveira, 47, diretor da subrregional do Iphan (Instituto do Patrimônio Artístico Nacional) em Ouro Preto, apenas a bacia de baixo do chafariz está intacta. Os fragmentos estão sendo numerados e fotografados, para uma tentativa de reconstruir o monumento. "Esperamos montá-lo novamente dentro de seis meses."
A Promotoria investiga o caso e descarta a culpa do motorista. Segundo a promotora Marta Learcher, a empresa de cargas Itaminas Bebidas deverá ser responsabilizada e custear a restauração. A Agência Folha não conseguiu entrar em contato com o responsável pela transportadora.
O Chafariz do Pilar, como é conhecido, passou por restauração na década de 60, quando foi descoberto soterrado por uma camada de terra. A Igreja Católica afirma que a construção original é do período entre 1733 e 1740.
Além de mobilizar os moradores da cidade, que se aglomeraram no local, o acidente também levanta a discussão sobre a conservação de Ouro Preto, que corre o risco de perder o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, dado pela Unesco em 1980.
Um representante do órgão, ligado à ONU, esteve na cidade entre domingo e terça-feira e deverá enviar, em dezembro, uma missão técnica para elaborar um relatório sobre os problemas.
A administração de Marisa Xavier Sanz (PDT) tem sofrido críticas por sua suposta inércia diante da questão da conservação.
"A administração é sem capacidade", disse o padre José Feliciano Simões, há 39 pároco da igreja matriz de Nossa Senhora.
A prefeitura informou que contratou os serviços de uma empresa para traçar o diagnóstico do trânsito local e apontar alternativas. O estudo deve ser apresentado ainda nesta semana.


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