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São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2003

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SEGURANÇA SOB AMEAÇA

Em nova onda de ataques em SP, criminosos atiram contra a casa de policiais e armam emboscadas; "clima está tenso", diz cabo

Ousadia do PCC deixa a polícia apreensiva

Samir Baptista/Folha Imagem
Base da polícia na Raposo Tavares, que também sofreu atentado


CHICO DE GOIS
ALESSANDRO SILVA
AMARÍLIS LAGE

DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo quinto dia consecutivo, bandidos atacaram policiais militares e civis de São Paulo, desta vez com mais ousadia ainda. Os criminosos atiraram, na noite de anteontem, contra a casa de um casal de policiais, em Sapopemba, zona leste de São Paulo, e armaram uma emboscada contra dois carros da Polícia Militar, no Jardim Elisa Maria, zona norte.
A nova série de ataques, atribuídos pela polícia ao PCC (Primeiro Comando da Capital) e que já resultou na morte de dois policiais, assustou ainda mais a corporação. "Hoje, devido ao policiamento comunitário, o policial é um homem público, com ou sem farda, e está vulnerável. É a ousadia dos vagabundos que está levando a tudo isso", afirmou Dimas Leite da Silva, presidente da seção regional de Santos da Associação dos Cabos e Soldados da PM.
O atentado contra a casa dos militares foi por volta de 23h30 de anteontem. A policial Flávia Nunes, 26, amamentava sua filha de um mês e sete dias na sala quando começaram os disparos. Foram mais de 20 tiros. Ela foi atingida de raspão no cotovelo. Seu marido, Emerson Dias da Silva, 36, que dormia com a outra filha do casal, de quatro anos, nada sofreu.
"Estamos preparados para lidar com tiroteio na rua, mas nunca esperamos ser baleados dentro de casa", desabafou a policial Flávia.
Em outra ação, na madrugada de ontem, um trote atraiu policiais para uma emboscada. Dois carros da PM foram atender, segundo um telefonema anônimo, uma ocorrência de uma briga de casal. Os carros foram recebidos a tiros, mas ninguém ficou ferido.
Entre 22h15 de anteontem e 2h55 de ontem, São Paulo registrou quatro atentados contra instalações e carros policiais. Em cinco dias, ocorreram 26 ataques, com dois mortos e 12 feridos.
O clima entre os policiais, que já era de receio, tornou-se ainda mais tenso. Policiais dizem, em conversas reservadas, que mudaram a rotina para tentar se preservar. Um soldado que trabalha em São Miguel Paulista (zona leste) disse que antes ia trabalhar fardado. Agora, só sai à paisana.
"Se não faltasse cinco anos para eu me aposentar, eu tirava o time de campo", disse outro policial, que pediu para não ser identificado. Ele trabalha na região central e reclamou, principalmente, do que chamou de "falta de apoio" dos superiores. "Se a gente der um tapa em um bandido, a Corregedoria já vem para cima da gente."
Os familiares dos policiais passaram a ligar com mais frequência para os postos ou para os celulares dos maridos ou das mulheres militares. "Inverteram os valores. Sempre fomos nós que os caçamos e agora são eles que estão caçando a polícia. É um clima tenso", disse o presidente da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar, cabo Wilson Morais.
As bases comunitárias da PM têm recebido reforço. Porém, os soldados que aumentaram o efetivo são recém-saídos da academia. Um deles, que não se identificou, reclamou que, apesar de novo, já está fazendo rondas noturnas.
No interior do Estado, a preocupação é a mesma. Segundo o comandante da PM de Ribeirão Preto, major Antonio Arcêncio, os policiais que vierem sozinhos para a capital, de ônibus, devem viajar à paisana. Mas o comandante da PM na região, coronel Nicolau Waldemar Lambort, negou a informação. "A PM não está com medo. Está, claro, atenta, ativa, esperta e bastante indignada com os fatos e quer dar uma resposta a contento, na hora certa."
Informação semelhante foi dada pelo capitão Belantoni, comandante da Força Tática na região do 2º Batalhão da PM, em São Paulo. "Não estamos com medo; estamos precavidos."
O clima é, também, de revanche. "Do mesmo jeito que eles estão jogando bomba, daqui a pouco vamos começar a chutar a bomba de volta", disse Belantoni.
Ontem à noite, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou, em entrevista ao "Programa do Ratinho", no SBT, que iria, na madrugada de hoje, percorrer dez bases da PM para "levar todo o apoio à polícia de São Paulo".


Colaboraram o "Agora", a Folha Ribeirão e a Agência Folha, em Santos


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