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SEGURANÇA SOB AMEAÇA
Em nova onda de ataques em SP, criminosos atiram contra a casa de policiais e armam emboscadas; "clima está tenso", diz cabo
Ousadia do PCC deixa a polícia apreensiva
Samir Baptista/Folha Imagem
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Base da polícia na Raposo Tavares, que também sofreu atentado |
CHICO DE GOIS
ALESSANDRO SILVA
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Pelo quinto dia consecutivo,
bandidos atacaram policiais militares e civis de São Paulo, desta
vez com mais ousadia ainda. Os
criminosos atiraram, na noite de
anteontem, contra a casa de um
casal de policiais, em Sapopemba,
zona leste de São Paulo, e armaram uma emboscada contra dois
carros da Polícia Militar, no Jardim Elisa Maria, zona norte.
A nova série de ataques, atribuídos pela polícia ao PCC (Primeiro
Comando da Capital) e que já resultou na morte de dois policiais,
assustou ainda mais a corporação. "Hoje, devido ao policiamento comunitário, o policial é um
homem público, com ou sem farda, e está vulnerável. É a ousadia
dos vagabundos que está levando
a tudo isso", afirmou Dimas Leite
da Silva, presidente da seção regional de Santos da Associação
dos Cabos e Soldados da PM.
O atentado contra a casa dos
militares foi por volta de 23h30 de
anteontem. A policial Flávia Nunes, 26, amamentava sua filha de
um mês e sete dias na sala quando
começaram os disparos. Foram
mais de 20 tiros. Ela foi atingida
de raspão no cotovelo. Seu marido, Emerson Dias da Silva, 36, que
dormia com a outra filha do casal,
de quatro anos, nada sofreu.
"Estamos preparados para lidar
com tiroteio na rua, mas nunca
esperamos ser baleados dentro de
casa", desabafou a policial Flávia.
Em outra ação, na madrugada
de ontem, um trote atraiu policiais para uma emboscada. Dois
carros da PM foram atender, segundo um telefonema anônimo,
uma ocorrência de uma briga de
casal. Os carros foram recebidos a
tiros, mas ninguém ficou ferido.
Entre 22h15 de anteontem e
2h55 de ontem, São Paulo registrou quatro atentados contra instalações e carros policiais. Em cinco dias, ocorreram 26 ataques,
com dois mortos e 12 feridos.
O clima entre os policiais, que já
era de receio, tornou-se ainda
mais tenso. Policiais dizem, em
conversas reservadas, que mudaram a rotina para tentar se preservar. Um soldado que trabalha em
São Miguel Paulista (zona leste)
disse que antes ia trabalhar fardado. Agora, só sai à paisana.
"Se não faltasse cinco anos para
eu me aposentar, eu tirava o time
de campo", disse outro policial,
que pediu para não ser identificado. Ele trabalha na região central e
reclamou, principalmente, do que
chamou de "falta de apoio" dos
superiores. "Se a gente der um tapa em um bandido, a Corregedoria já vem para cima da gente."
Os familiares dos policiais passaram a ligar com mais frequência
para os postos ou para os celulares dos maridos ou das mulheres
militares. "Inverteram os valores.
Sempre fomos nós que os caçamos e agora são eles que estão caçando a polícia. É um clima tenso", disse o presidente da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar, cabo Wilson Morais.
As bases comunitárias da PM
têm recebido reforço. Porém, os
soldados que aumentaram o efetivo são recém-saídos da academia.
Um deles, que não se identificou,
reclamou que, apesar de novo, já
está fazendo rondas noturnas.
No interior do Estado, a preocupação é a mesma. Segundo o comandante da PM de Ribeirão Preto, major Antonio Arcêncio, os
policiais que vierem sozinhos para a capital, de ônibus, devem viajar à paisana. Mas o comandante
da PM na região, coronel Nicolau
Waldemar Lambort, negou a informação. "A PM não está com
medo. Está, claro, atenta, ativa, esperta e bastante indignada com os
fatos e quer dar uma resposta a
contento, na hora certa."
Informação semelhante foi dada pelo capitão Belantoni, comandante da Força Tática na região do 2º Batalhão da PM, em
São Paulo. "Não estamos com
medo; estamos precavidos."
O clima é, também, de revanche. "Do mesmo jeito que eles estão jogando bomba, daqui a pouco vamos começar a chutar a
bomba de volta", disse Belantoni.
Ontem à noite, o governador
Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou, em entrevista ao "Programa
do Ratinho", no SBT, que iria, na
madrugada de hoje, percorrer dez
bases da PM para "levar todo o
apoio à polícia de São Paulo".
Colaboraram o "Agora", a Folha Ribeirão
e a Agência Folha, em Santos
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