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Droga pode impedir formação de genitália em feto
DA REPORTAGEM LOCAL
Algumas mulheres têm optado
pelo aborto quando há falha do
método anticoncepcional durante o uso da flutamida. Embora
não haja estudos abrangentes sobre o risco de má-formação fetal,
sabe-se que a flutamida pode impedir o desenvolvimento da genitália dos fetos masculinos.
Isso ocorre porque o remédio
inibe a ação da testosterona -
hormônio responsável pela manifestação dos caracteres masculinos. Há também o risco de os bebês nascerem hermafroditas.
Segundo o especialista em medicina fetal Thomaz Gollop, professor da USP de São Paulo, nove
mulheres o procuraram nos últimos dois anos porque haviam tomado inadvertidamente flutamida durante a gravidez e queriam
saber dos riscos que corriam.
Após serem informadas sobre o
prejuízo que a droga pode causar
ao feto, quatro delas decidiram
("por sua conta e risco", reforça
Gollop) pelo aborto, três preferiram continuar a gravidez (e tiveram bebês normais) e duas não
voltaram a ter contato com o médico. "Não sei que fim levou."
A ginecologista carioca Adriane
Matta atendeu outras três pacientes que também estavam usando
flutamina quando ficaram grávidas. Duas delas tiveram bebês
normais e a outra sofreu aborto
espontâneo antes da 12ª semana
de gestação.
Uma dessas mulheres, segundo
a médica, apresentou aumento do
fígado logo após o uso do remédio, mas as funções hepáticas foram controladas. Ela diz que
orienta as pacientes a interromperem o remédio três ou quatro meses antes de começar a tentar engravidar. "O remédio pode deixar
resquícios que atravessam a placenta e atingem o bebê", diz.
"O risco existe, mas não podemos saber de quanto porque não
há estudos sobre isso", diz Gollop.
Para ele, essas mulheres deveriam ter sido orientadas a usar
métodos anticoncepcionais seguros -como o DIU ou a pílula anticoncepcional. No caso das pacientes que atendeu, a maioria tinha usado "tabelinha" ou preservativo (que rompeu durante a relação sexual).
Procedimentos
Os médicos que recebem pacientes grávidas que já utilizaram
flutamida durante a gestação
pouco têm a fazer. O procedimento é a retirada de uma amostra de
vilo corial (tecido que dá origem à
placenta) na 11ª semana de gestação para saber o sexo.
Se for uma menina, não há risco
conhecido de má-formação. Caso
contrário, recomenda-se a realização de um exame de ultra-sonografia 4D (quatro dimensões)
por volta da 20ª semana para avaliação da genitália do bebê.
Se o exame detectar algum problema, cabe aos pais a decisão sobre o que fazer. Por enquanto,
não há como corrigir deformações genitais no estágio intra-uterino. É preciso esperar o nascimento para fazer uma cirurgia infantil reparadora. Mas essas
crianças poderão ficar com seqüelas para o resto da vida.
Para Antonio Fernandes Moron, professor titular de obstetrícia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), as mulheres
não estão sendo bem orientadas
sobre os riscos do remédio à sua
própria saúde e à do bebê.
Ele diz também que há risco fetal no uso da finasterida - remédio usado para combater a calvice
masculina- por homens.
Presente no esperma do homem em tratamento, a droga pode causar má-formação da ureta
do bebê. Por isso, afirma Moron, é
fundamental que o casal use preservativo nas relações sexuais durante o tratamento.
A gravidez estaria liberada após
um mês do término da terapia. "O
homem também não está sendo
advertido para os riscos do remédio em caso de gravidez da mulher", acredita o médico. (CC)
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