São Paulo, domingo, 07 de novembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Droga pode impedir formação de genitália em feto

DA REPORTAGEM LOCAL

Algumas mulheres têm optado pelo aborto quando há falha do método anticoncepcional durante o uso da flutamida. Embora não haja estudos abrangentes sobre o risco de má-formação fetal, sabe-se que a flutamida pode impedir o desenvolvimento da genitália dos fetos masculinos.
Isso ocorre porque o remédio inibe a ação da testosterona - hormônio responsável pela manifestação dos caracteres masculinos. Há também o risco de os bebês nascerem hermafroditas.
Segundo o especialista em medicina fetal Thomaz Gollop, professor da USP de São Paulo, nove mulheres o procuraram nos últimos dois anos porque haviam tomado inadvertidamente flutamida durante a gravidez e queriam saber dos riscos que corriam.
Após serem informadas sobre o prejuízo que a droga pode causar ao feto, quatro delas decidiram ("por sua conta e risco", reforça Gollop) pelo aborto, três preferiram continuar a gravidez (e tiveram bebês normais) e duas não voltaram a ter contato com o médico. "Não sei que fim levou."
A ginecologista carioca Adriane Matta atendeu outras três pacientes que também estavam usando flutamina quando ficaram grávidas. Duas delas tiveram bebês normais e a outra sofreu aborto espontâneo antes da 12ª semana de gestação.
Uma dessas mulheres, segundo a médica, apresentou aumento do fígado logo após o uso do remédio, mas as funções hepáticas foram controladas. Ela diz que orienta as pacientes a interromperem o remédio três ou quatro meses antes de começar a tentar engravidar. "O remédio pode deixar resquícios que atravessam a placenta e atingem o bebê", diz.
"O risco existe, mas não podemos saber de quanto porque não há estudos sobre isso", diz Gollop.
Para ele, essas mulheres deveriam ter sido orientadas a usar métodos anticoncepcionais seguros -como o DIU ou a pílula anticoncepcional. No caso das pacientes que atendeu, a maioria tinha usado "tabelinha" ou preservativo (que rompeu durante a relação sexual).

Procedimentos
Os médicos que recebem pacientes grávidas que já utilizaram flutamida durante a gestação pouco têm a fazer. O procedimento é a retirada de uma amostra de vilo corial (tecido que dá origem à placenta) na 11ª semana de gestação para saber o sexo.
Se for uma menina, não há risco conhecido de má-formação. Caso contrário, recomenda-se a realização de um exame de ultra-sonografia 4D (quatro dimensões) por volta da 20ª semana para avaliação da genitália do bebê.
Se o exame detectar algum problema, cabe aos pais a decisão sobre o que fazer. Por enquanto, não há como corrigir deformações genitais no estágio intra-uterino. É preciso esperar o nascimento para fazer uma cirurgia infantil reparadora. Mas essas crianças poderão ficar com seqüelas para o resto da vida.
Para Antonio Fernandes Moron, professor titular de obstetrícia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), as mulheres não estão sendo bem orientadas sobre os riscos do remédio à sua própria saúde e à do bebê.
Ele diz também que há risco fetal no uso da finasterida - remédio usado para combater a calvice masculina- por homens.
Presente no esperma do homem em tratamento, a droga pode causar má-formação da ureta do bebê. Por isso, afirma Moron, é fundamental que o casal use preservativo nas relações sexuais durante o tratamento.
A gravidez estaria liberada após um mês do término da terapia. "O homem também não está sendo advertido para os riscos do remédio em caso de gravidez da mulher", acredita o médico. (CC)

Texto Anterior: Risco oculto: Bioquímica morreu após usar remédio
Próximo Texto: Saúde: Cresce busca por check-up cardiológico
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.