São Paulo, sábado, 07 de dezembro de 2002

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HABITAÇÃO

Cerca de 2.000 famílias que ocupavam área particular foram transferidas para terreno do Estado em outra cidade

Osasco "exporta" sem-teto para Guarulhos

Eduardo Lazzarini/Folha Imagem
Transferidos de uma área particular na cidade de Osasco para um terreno do Estado em Guarulhos, sem-teto fazem fila para almoçar


DAGUITO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 2.000 famílias de sem-teto que ocupavam há cerca de seis meses um terreno particular em Osasco (Grande São Paulo) foram "exportadas" para uma área do governo estadual em Guarulhos, a cerca de 50 km de onde estavam. A transferência fez parte de um acordo firmado na quarta-feira entre o Governo do Estado, os proprietários do terreno ocupado -que conseguiram a reintegração de posse- e representantes dos sem-teto.
A mudança das famílias provocou a revolta do prefeito de Guarulhos, Elói Pietá (PT), que disse não ter sido comunicado. Decidido a impedir a transferência, enviou cerca de 30 homens da Guarda Municipal para barrar a entrada das famílias e dos cerca de 60 caminhões da Prefeitura de Osasco chamados para levar os pertences dos moradores.
Apenas por volta das 20h de ontem os caminhões conseguiram entrar. "A Polícia Militar escoltou os sem-teto e os caminhões. Para evitar um confronto, a prefeitura retirou a Guarda Civil", disse Éder Paschoal, secretário municipal de Gabinete e Comunicação.
Ao longo do dia, Pietá criticou duramente o Governo do Estado e a Prefeitura de Osasco, a quem chamou de "antimunicipalista".
"Agora, [Guarulhos] é procurada pela população que está pedindo água, comida e luz", disse.
Pelo acordo firmado na quarta-feira, o Governo do Estado disponibilizaria infra-estrutura a partir de quinta-feira para as famílias se assentarem no local. A Prefeitura de Osasco enviaria os caminhões.
No entanto, de acordo com os sem-teto, até ontem pela manhã não havia energia elétrica e apenas um caminhão-pipa da Sabesp havia sido enviado ao local.

Permanência provisória
O secretário de Estado da Justiça, Alexandre de Moraes, disse que o terreno de Guarulhos era o único disponível na região para assentar todas as pessoas e que a permanência delas no local é provisória. "O terreno não é da prefeitura, não precisa haver uma autorização para transferi-los."
Segundo ele, até ontem já haviam sido enviados 18 mil litros de água. Por volta das 19h, 500 metros de lona chegaram ao local.
Marcelo Daneluzzi, 39, promotor do Ministério Público de Guarulhos, disse que a revolta de Pietá é um problema político e não legal. "Se o assentamento se tornar definitivo, vamos investigar se há infra-estrutura para isso."
O prefeito de Osasco, Celso Giglio (PTB), disse que a cidade não fez parte do acordo, apenas forneceu os caminhões. "Lamento muito que Pietá pense dessa forma. Somos todos brasileiros."


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