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Inadimplência em faculdades atinge 23%
Índice de falta de pagamento em SP é o maior desde 2002; alunos alegam problemas com emprego ou perda de familiar
O Congresso analisa um pedido do setor privado para que as escolas possam romper o contrato após
60 dias de inadimplência
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
A inadimplência no ensino
superior de São Paulo no ano
passado chegou a 23,2%, maior
índice desde 2002, aponta levantamento feito pelo Semesp
(sindicato da categoria).
A proporção de mensalidades não pagas, que já era considerada alta pelo setor, aumentou 0,8% em relação a 2005. Na
Grande São Paulo, o índice está
em 30,3% (1,2% a mais do que
no ano anterior).
Estudantes inadimplentes
citam a perda de emprego ou de
familiares para explicar o problema. Eduardo de Camargo
Ribeiro, 23, por exemplo, parou
de pagar as mensalidades do
curso de rádio e TV na Faculdade Cásper Líbero quando perdeu o estágio que fazia.
O contador Roberto Inaoka,
37, formado em 2000 pela
PUC-SP tem, ainda hoje, uma
dívida de R$ 16.950 com a instituição. Sem poder contar com
os pais, que morreram, ele pretende quitá-la até 2009.
O Semesp avalia que o baixo
crescimento econômico do país
de fato influencia na inadimplência, mas aponta também
outros fatores: a inclusão de
alunos de baixa renda nas universidades e a lei que regula a
cobrança de mensalidades.
As universidades reclamam
que a lei federal nš 9.870, de
1999, concede excessiva proteção ao estudante.
"A nossa única possibilidade
é não renovar a matrícula do
inadimplente", afirmou o presidente do sindicato, Hermes
Figueiredo. "O aluno pode cursar todo o ano letivo e, depois,
ainda fazer transferência para
outra instituição."
O Congresso analisa um pedido do setor privado para que
as escolas possam romper o
contrato após 60 dias de inadimplência. O projeto não tem
previsão para ser votado.
Entidades de defesa do consumidor são contrárias à mudança. "A lei existe para que o
aluno não sofra constrangimento", afirmou a coordenadora institucional da Pro Teste
(Associação Brasileira de Defesa do Consumidor), Maria Inês
Dolci, colunista da Folha.
Dolci diz que o ideal é que
haja um acordo. "Logo no primeiro atraso, a instituição tem
de procurar o aluno, para que a
dívida não se acumule. O mesmo vale para o estudante."
A advogada do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) Maíra Feltrin concorda que a negociação é a melhor alternativa. "O problema é
que muitas instituições querem impor os valores."
O levantamento do Semesp
mostra também que a inadimplência é menor em escolas
com mensalidades mais altas.
O sindicato não divulgou os
dados específicos, mas informou que em faculdades como
ESPM, FGV e Ibmec (onde as
mensalidades, em geral, passam dos R$ 1.500), a taxa fica
na casa do 1,5%. Já nas de mensalidades mais baixas, pode variar de 20% a 45%.
"Nos últimos anos, a expansão do ensino privado focou as
classes C e D, pois o público da
A e B estava atendido. O problema é que as famílias menos
favorecidas são mais suscetíveis às variações econômicas
do país", diz diretor-executivo
do Semesp, Rodrigo Capelato.
De acordo com o Semesp, as
universidades não puderam
compensar a inadimplência
com aumento de mensalidades
para 2007 acima da inflação
-que ficou na casa dos 3%, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
No ensino privado, as escolas
não são obrigadas a seguir um
único índice. "Mas não vejo espaço para reajustes grandes. A
concorrência e a crise estão
fortes", afirma Figueiredo.
Segundo o Censo da Educação Superior, em São Paulo foram abertas 849.527 vagas em
2005, mas houve apenas
403.673 alunos inscritos.
A alta concorrência já traz
reflexo nas mensalidades, segundo estudo do Dieese (Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos). Entre janeiro e setembro de 2006, o reajuste no
ensino superior em São Paulo
foi o menor entre os quatro níveis de ensino, com 2,6%.
Colaborou ESTÊVÃO BERTONI
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