São Paulo, quinta-feira, 08 de fevereiro de 2007

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Recém-formado fez última vistoria antes do acidente do metrô, diz técnico

Ricardo Nogueira/Folha Imagem
O engenheiro Cyro Mourão Filho, do Metrô, durante depoimento na Assembléia Legislativa


LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em depoimento aos deputados estaduais de São Paulo, o engenheiro Cyro Mourão Filho, coordenador da equipe de fiscalização do Metrô, afirmou ontem que a última vistoria do local onde ocorreu o desmoronamento na obra da linha 4 foi feita no dia do acidente por um engenheiro recém-formado.
Mourão Filho afirmou que o engenheiro de sua equipe fiscalizou a obra da estação Pinheiros às 11h do dia 12 de janeiro e não detectou problemas.
Depois, ao completar a informação, Mourão Filho disse que o profissional é recém-formado e ainda está em fase de instrução. "Ele está pensando em desistir da profissão." O desabamento ocorreu por volta das 15h e deixou sete mortos.
No dia anterior ao acidente, tinha sido constatada uma aceleração do rebaixamento do terreno, conforme revelou a Folha no dia 19 de janeiro.
No mesmo dia, os técnicos se reuniram para avaliar a situação e decidiram interromper as escavações e iniciar um procedimento de contenção do recalque. No dia 12, considerando que a situação estava sob controle, foi feita uma detonação para nivelamento do piso.
Em seu depoimento, Mourão Filho afirmou ainda que a fiscalização das obras da linha 4 era de responsabilidade do Consórcio Via Amarela -formado pelas empresas CBPO Engenharia (subsidiária da Odebrecht), Queiroz Galvão, OAS, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez. O Metrô, disse, fazia apenas o "olhômetro" da obra.
Mourão Filho foi o primeiro funcionário do Metrô ouvido ontem pela Comissão de Representação criada para investigar a abertura da cratera.
O engenheiro foi o responsável pelo relatório entregue à Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) que apontou rachaduras e infiltrações dias antes do acidente. A fiscalização por meio de equipamentos, disse ele, é feita pelas construtoras do consórcio.
Aos engenheiros da estatal cabia, disse ele, olhar se a construção estava dentro do planejado. "Com o "olhômetro", a gente consegue ver várias irregularidades. Nós confiamos na fiscalização do consórcio."
Mourão Filho tentou atenuar a repercussão causada pelo relatório. "Nunca falei que a obra era insegura, que estava para cair. Não foi detectada rachadura nem nenhum aspecto que comprometesse a obra."
As movimentações de terra registradas no relatório, disse Mourão Filho, são rotineiras. Ele afirmou ainda que as explosões no local não estão relacionadas ao acidente.
Apenas o deputado Nivaldo Santana (PC do B), membro da comissão, criticou o que chamou de "grave erro do Metrô de perder a prerrogativa essencial de fiscalizar uma obra pública".
A maior parte da comissão é formada por deputados tucanos, que evitaram comprometer a gestão do ex-governador Geraldo Alckmin, responsável pelo contrato.
Petistas, descontentes por não terem conseguido instalar uma CPI da cratera, se retiraram do grupo.
O superior hierárquico de Mourão Filho, José Roberto Leite Ribeiro, tentou minimizar as declarações do subordinado. Disse que falar em "olhômetro" não é adequado e que a equipe é formada por engenheiros experientes.


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