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101 animais somem de órgão ligado ao zoológico
Fiscais do Ibama constataram ainda que outros 72 estavam no local sem registro
A suspeita é de que haja um esquema de desvio e de comércio ilegal dos animais em centro de tratamento sob a guarda do governo paulista
Danilo Verpa/Folha Imagem
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Animal mantido no Centro de Manejo de Animais Silvestres |
ALENCAR IZIDORO
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ibama (instituto ambiental
federal) constatou que 101 animais da fauna silvestre nativa,
parte dos quais ameaçada de
extinção, desapareceram de
um centro de tratamento sob a
guarda do governo de São Paulo
-e que é gerenciado pela Fundação Zoológico desde 2005.
Além disso, outros 72 foram
mantidos no local sem registros. A suspeita de alguns fiscais é que a falta de controle de
entrada e saída dos bichos encubra um esquema de desvio e
de comércio ilegal dos animais.
As irregularidades foram
comprovadas após a análise de
documentos nos últimos três
anos pelo Ibama. Uma multa de
R$ 189,5 mil foi aplicada ao
zoológico, órgão ligado à gestão
José Serra (PSDB), no último
dia 31, mas ontem, após contato
da Folha, a assessoria do instituto informou que seria suspensa por avaliar que os problemas só ocorreram até 2004.
Entre os bichos que sumiram
das dependências do Cemas
(Centro de Manejo de Animais
Silvestres), localizado no Horto
Florestal (zona norte de SP) e
para onde são levados exemplares apreendidos com criminosos ou resgatados no Estado,
estão quatro espécies ameaçadas de extinção (15 animais).
Entre elas, uma é classificada
como "criticamente em perigo"
(risco extremamente alto) na
lista nacional dessa natureza
-caso de três cardeais-amarelos desaparecidos. E outras
três, como "vulneráveis" (risco
alto) -caso de nove pássaros
pixoxós, dois gatos-do-mato
pequeno e um macaco sauá.
Segundo integrantes do Ibama, conforme a peculiaridade
de cada um, eles podem valer
dezenas de milhares de reais
no mercado ilegal. O Pixoxó,
por exemplo, dependendo da
raridade de seu canto, pode ser
vendido por até R$ 40 mil.
A conclusão sobre as irregularidades envolvendo pelo menos 173 animais, de 22 espécies, levou a fiscalização do Ibama a aplicar a multa à Fundação Zoológico na semana passada, tomando por base a legislação de crimes ambientais.
O instituto, porém, recuou e
disse ontem que a pena será
atribuída a outro órgão -provavelmente à Fundação Florestal, também ligada à Secretaria do Meio Ambiente e que
era responsável pela gestão do
Cemas até janeiro de 2005.
O Ibama diz que a multa foi
um "equívoco" da fiscalização e
que a mudança de responsabilização se deve ao fato de as irregularidades terem ocorrido
até 2004, antes de a Fundação
Zoológico assumir a administração do centro de manejo.
A Folha apurou, no entanto,
que ao menos dois fiscais ficaram contrariados, por avaliar
que a comprovação dos problemas ocorreu nos últimos três
anos, que eles também podem
ter ocorrido nesse período e
que a fundação assumiu todas
as pendências ligadas ao Cemas -o que a direção do instituto e do zôo negam.
Além do desaparecimento
dos 101 bichos, técnicos do Ibama avaliam que a falta de registro de outros 72 possa estar ligada ao tráfico de animais.
Todo exemplar levado ao Cemas deve obrigatoriamente ser
registrado -por exemplo, com
a fixação de anilhas nas pernas
de um pássaro- e acompanhado de forma personalizada.
Sem esse controle, eles podem ser tratados e procriados
lá, e eventuais sumiços ou desvios não se tornam oficiais.
O Ibama só afirma oficialmente, entretanto, que, com
base nas informações obtidas,
não é possível dizer se as irregularidades ocorreram em razão de "má gestão" ou "má-fé".
O promotor do ambiente José Eduardo Ismael Lutti disse
ontem que abrirá um inquérito
administrativo para investigar
os problemas. Mas, ressalvou
que não foi avisado até hoje pelo Ibama -e, se os crimes só tiverem ocorrido até 2004, alguns podem ter prescrito após
dois anos, como uma eventual
prevaricação ou improbidade
administrativa de servidores.
A Fundação Zoológico ficou
marcada, nesta década, pela
morte de 73 bichos envenenados em 2004. Houve a suspeita
de envolvimento de funcionários e de traficantes de animais.
A Polícia Federal disse que as
investigações ainda correm sob
segredo de Justiça.
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