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Fumo matará 1 bilhão de pessoas, diz OMS
Essa é a estimativa da organização para o século 21 se nada for feito para conter o número de fumantes nos países pobres
No século passado, foram 100 milhões as vítimas do tabaco; consumo caiu nos países ricos, mas é crescente nos pobres e de renda média
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Se nada for feito nos países
pobres para diminuir o número
de fumantes, o cigarro pode
matar 1 bilhão de pessoas no século 21, segundo relatório divulgado ontem pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
A previsão multiplica por dez o
número de mortes causadas
pelo tabaco no século passado
-100 milhões, mais do que a
soma de todas as vítimas de
guerras entre 1901 e 2000.
O cigarro mata 5,4 milhões
por ano no mundo (mais do que
a soma das vítimas de tuberculose, malária e Aids), número
que deve crescer para 8 milhões
em 2030, de acordo com projeção da OMS.
O novo documento enfatiza o
impacto do fumo nos países pobres, porque 80% das mortes
previstas para 2030 vão ocorrer nessas nações, de acordo
com a entidade.
O consumo de tabaco está em
queda nos países ricos, mas é
crescente nos pobres e de renda média, segundo a OMS. Cigarro é a principal causa de
morte evitável no mundo, de
acordo com um consenso médico internacional.
Sem proteção
Apesar do cenário trágico, só
5% da população mundial é
protegida por alguma das seis
medidas preconizadas pela
OMS, diz o relatório.
As medidas que o organismo
recomenda são as seguintes:
monitoramento do consumo,
ambientes livres de fumo, programas públicos para parar de
fumar, alertas sobre os males
nos maços, banimento da publicidade e elevação de impostos. Nenhum país pobre adota
todas as medidas combinadas.
O Brasil é apresentado no relatório como um exemplo positivo de controle. São citados os
alertas com fotos nos maços e o
financiamento público de tratamento para deixar de fumar.
Ativistas contra o fumo têm,
no entanto, restrições à política
brasileira. "O Brasil foi pioneiro em algumas áreas, mas não
segue uma medida básica de
custo zero: o aumento de impostos", diz Paula Johns, diretora da ACT (Aliança de Controle do Tabagismo), rede que
congrega cerca de 350 entidades. O cigarro brasileiro é um
dos mais baratos do mundo.
Outra restrição feita por
Johns é que o Brasil ainda não
tem uma lei contra o fumo em
ambientes fechados, como
ocorre em cidades dos Estados
Unidos, em parte da Europa e
no Uruguai.
O impacto do controle
O relatório da OMS é o primeiro documento a contabilizar o impacto das medidas de
controle do tabaco em vários
países. O banimento da publicidade em 14 países, por exemplo, reduziu o consumo em 9%
num período de dez anos, segundo o levantamento.
O contra-exemplo é um grupo de 78 países, nos quais a publicidade de cigarro é livre. Neles, o consumo caiu 1%.
Ainda de acordo com a pesquisa, só 5% da população
mundial vive em países que banem a publicidade.
O mesmo percentual habita
países que vetam o fumo em
ambientes fechados, segundo a
OMS, apesar de esse tipo de
medida ser extremamente popular. Em Nova York, a proibição de cigarro em bares e restaurantes recebeu o apoio de
quase 80% dos moradores, e na
Irlanda, de 90%. Na China, com
raríssimos ambientes livres de
fumo, o apoio beira os 90%.
A medida mais eficaz para reduzir o consumo, apresentada
pela OMS como "essencial", é o
aumento de impostos. Na África do Sul, citada como exemplo,
o consumo de cigarros caiu cerca de 40% a partir dos anos 90
porque o preço do maço praticamente dobrou.
A arrecadação com impostos
corresponde a 5.000 vezes o
gasto com programas de controle de tabaco, segundo o relatório. Nos países pobres e de
renda média, onde vivem 3,8
bilhões de pessoas, o gasto com
controle é de US$ 14 milhões
por ano. Já os impostos alcançam R$ 66,5 bilhões.
Dito de outra maneira, seria
como se um país arrecadasse
US$ 5.000 em impostos e gastasse só US$ 1 em controle.
A maior parte dos gastos com
controle está restrita aos países
ricos, diz o documento. Nos
países pobres e de renda média,
o gasto per capita dos programas de controle é de US$ 0,001
(um décimo de centavo de dólar) e US$ 0,005 (meio centavo
de dólar), respectivamente.
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