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Empresários vêem honestidade no
policial que tem segundo emprego
da Reportagem Local
Apesar de proibido pela Lei Orgânica da Polícia, o segundo emprego é bem visto entre os policiais. Dos nove policiais ouvidos
nesta reportagem, só um admitiu
que tem outra atividade, mas quatro disseram que o segundo emprego sinaliza que o policial não
está praticando corrupção.
O consenso entre os últimos é
que o salário de policial não permite uma vida digna.
David dos Santos Araújo, delegado do Deplan (Departamento de
Planejamento e Controle) da Polícia Civil: "Eu trabalho para a Osvil. Quando posso, trabalho para a
Osvil, como neste instante, por
exemplo. A lei proíbe que você
pratique atos de gerência. Eu, por
exemplo, não assino nada. Eu
considero (esse serviço) relativo
ao ensino. Eu, desde que entrei na
polícia, em 1965, aprendi uma coisa: que o ordenado da polícia não
é, infelizmente, suficiente para o
camarada viver com dignidade.
Nunca na minha vida respondi a
uma sindicância ou a um processo
administrativo, um processo judicial de dinheiro, bola. Porque a vida toda eu sempre fiz alguma coisa
paralela à polícia na minha hora
de folga."
Jorge Elias Francisco, delegado
do 55º DP: "Sou sócio-cotista. A
lei permite que a pessoa tenha
ações de uma empresa. Eu não trabalho na minha empresa, quem
administra é meu irmão."
Sobre o conflito ético entre segurança privada e pública: "São coisas distintas. A polícia presta um
serviço de segurança das vias públicas, dos locais públicos, e a empresa de segurança presta serviço
em áreas particulares."
Sobre o segundo emprego entre
policiais: "Se o policial está exercendo uma atividade fora da polícia é sinal que ele não está praticando atos de corrupção. Eles são
mais bem vistos porque se presume que sejam policiais honestos."
Antonio da Costa Pereira Neto,
delegado do IIRGD (Instituto de
Identificação Ricardo Gumbleton
Daunt): "Sou proprietário. Não
estou infringindo a lei porque a
própria lei orgânica me faculta ser
sócio-cotista. Não posso ser sócio-gerente. Quem toma conta daquilo é minha mulher e meu cunhado."
Sobre o conflito ético entre segurança privada e pública: "Nenhum problema ético, mesmo
porque eu nem participo da administração."
Sobre as facilidades que um delegado pode trazer à sua empresa
de segurança: "Eu acho que a
existência de um delegado entre os
sócios facilita a obtenção de clientes, porque na verdade é um profissional de segurança. Sempre você tem uma indicação."
Everardo Tanganelli Junior, delegado do Denarc (Departamento
Estadual de Investigações sobre
Narcóticos): "Eu posso ser dono
de empresa, não só de segurança,
mas de qualquer empresa, como
acionista ou cotista. Minha mulher saiu da Defender em dezembro do ano passado. Saiu porque a
maioria dos delegados envolvidos
em empresas de segurança já foi
convocada pela Corregedoria para
dizer qual era a participação. Não
tem nada a ver, mas achei melhor
ela sair para evitar complicação. O
policial hoje precisa ter um outro
tipo de serviço, um ganha-pão honesto. Na empresa, eu nunca trabalhei, mas prestava assessoria e
ainda presto. Dou curso de tiro. Isso não compromete minha atividade de policial."
José Roberto de Arruda, delegado do Denarc: "Minha esposa foi
sócia da Defender, mas saiu há
pouco tempo. Eu não tenho a menor participação nesta empresa.
Você pode ligar lá, perguntar por
mim, você não vai me encontrar
nunca. Muita gente coloca o nome
da esposa para sair fora. Não era o
meu caso. Não participava da direção e não tinha qualquer vínculo
empregatício com a empresa. O
que eu fazia era visitar minha esposa esporadicamente, quando a
empresa estava no início."
Sérgio Olímpio Gomes, capitão
da Polícia Militar: "Olha, minha
esposa realmente é sócia-gerente
da empresa. Eu não tenho qualquer tipo de participação na administração ou nas operações da empresa. A única coisa que eu faço
ali, e que a legislação me permite, é
dar instrução de tiro e treinamento. Eu tenho um regime de expediente na escolta do ex-governador Fleury que não me permite
exercer qualquer carga horária ou
atividade paralela ao serviço policial. Os cursos que dou são durante a noite ou nos fins-de-semana."
Sobre a informação apurada pela
Folha de que o capitão teria negociado a data de pagamento do 13º
salário com vigilantes: "De forma
nenhuma. Quem trabalha e conduz os negócios da empresa é o coronel Ubiratan (Guimarães) e o
Álvaro Parreira, que são sócios da
minha esposa. Eu não exerço atividade dessa natureza."
Délcio Silmar Sampaio, delegado que assessora a Assembléia Legislativa: "Participo da administração nas minhas horas de folga,
ajudando minha esposa. Sou sócio-cotista e a Lei Orgânica da Polícia permite isso. Não uso de expedientes escusos da polícia, como muitos colegas fazem. Não me
prevaleço do cargo. Sempre tive
uma segunda atividade. Se eu tivesse entrado na polícia com salário de policial americano ou francês, não teria a empresa. Mas com
o que ganho -R$ 3.600- não dá.
Tem de ter uma segunda renda."
Paulo Sérgio Oppido Fleury,
delegado do Depatri (Departamento de Investigações sobre Crimes contra o Patrimônio): indicou
Paulo Esteves, advogado. Esteves:
"Eu só terei interesse nessa notícia depois de ela ser publicada. Tudo que ela contiver, eu, advogado,
não posso me manifestar hoje porque amanhã eu posso estar sendo
chamado a mover alguma ação
com relação a ela, se isto for necessário. Então, como é que eu vou
falar consigo a respeito de um assunto que amanhã ou depois eu
posso estar profissionalmente ligado? Como vou ser parte eventualmente nisto, não posso hoje
lhe dizer nada a respeito."
Joffre Belfort de Andrade Sandin, delegado da Corregedoria da
Polícia Civil: "Eu estou proibido
de dar entrevistas pela portaria
número 30 do delegado-geral. Para ter qualquer informação sobre
esse assunto, você deve ligar para
o meu advogado, Paulo Esteves."
Esteves: "Não quero me manifestar sobre tudo aquilo que o senhor vai fazer. Não costumo dar
entrevistas porque acho que meu
código de ética proíbe isso."
Sobre o fato de Belfort ser agente
de segurança pública e ter uma
empresa de segurança privada:
"Ele (Belfort) não tem nada a falar
a respeito dessa matéria. Tudo o
que eu fiz foi ver na legislação se
existe vedação de a pessoa ser proprietária de uma empresa. Não
existe essa vedação."
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