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PASTORAL DA CRIANÇA
Para a candidata ao Prêmio Nobel da Paz deste ano, público feminino é o principal agente da transformação social
Zilda Arns quer que mulher "arregace as mangas"
CÉLIA CHAIM
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma das mulheres brasileiras
mais cortejadas neste momento é
a pediatra e sanitarista Zilda Arns
Neumann, 66, mãe de cinco filhos, avó de sete netos, nascida em
1934 em Forquilhinha (SC), fundada por seu pai, Gabriel Arns.
Zilda, fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Criança, organismo de ação social da
Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil, é idolatrada por pelo
menos 1 milhão de famílias assistidas pela Pastoral no país.
Graças a seu trabalho e de 150
mil voluntários, a Pastoral conseguiu reduzir a mortalidade infantil a menos da metade da média
nacional entre as crianças por ela
acompanhadas em todo o Brasil.
Segundo o Unicef, a taxa de mortalidade infantil no país em 1999
foi de 34,6 mortes para cada mil
crianças nascidas. Entre as crianças da Pastoral, a taxa é inferior a
17. Por fazer o que nenhum governo conseguiu, Zilda pode ganhar,
em setembro, o Prêmio Nobel da
Paz, representando a Pastoral.
Ela tem 12 irmãos. Um deles é
dom Paulo Evaristo Arns. Para
ela, no trabalho da Pastoral a mulher é a verdadeira rainha do lar.
Rainha pobre, que luta pela comida dos filhos e que tem capacidade para transformar a família e a
comunidade. Mais de 90% dos
agentes da Pastoral são mulheres,
que hoje comemoram o Dia Internacional da Mulher. "Elas têm
uma inteligência mais difusa, enxergam mais e deveriam ser homenageadas todos os dias do
ano", disse à Folha.
Folha - A sra., que convive com
crianças necessitadas, como vê a situação das mães dessas crianças?
Zilda Arns - Eu vejo a mulher hoje como o agente principal da
transformação do país. Ela tem
baixa auto-estima, baixa escolaridade, é oprimida. Fortalecendo o
tecido social, a comunidade se
torna mais poderosa e o poder
público mais facilmente leva a ela
projetos de saúde, educação, alimentação etc. A grande arte da
Pastoral é fazer com que as mães
se motivem, cuidem melhor das
crianças e os governos respeitem
as comunidades.
Folha - É possível recuperar a auto-estima de uma mulher que vive
nas pior condição social?
Zilda - A Pastoral começa pelos
líderes comunitários para alcançar as mães. Temos cerca de 150
mil líderes de comunidades em situação de miséria e esses líderes
multiplicam o saber e a informação. As líderes fazem um milhão
de visitas ao mês, levando a um
milhão de mulheres algumas coisas sobre auto-estima, cidadania,
relações humanas.
Folha - A sra. encontra muitas
mulheres chefiando a família?
Zilda - Tem muitas. Há pesquisas demonstrando que isso aumentou muito nos últimos anos.
O marido sai atrás de emprego,
arranja outra mulher, e a mulher
fica com as crianças. Creio que de
cada 10 famílias, em pelo menos
três a chefe é a mulher.
Folha - E as crianças, como ficam
quando a mãe vai trabalhar?
Zilda - Num país como o Brasil é
difícil para a mulher pobre exercer o papel de mãe. Para trabalhar, ela às vezes deixa as crianças
amarradas no pé da mesa. Agora,
quando você tem líderes comunitários que estão vigilantes, a própria comunidade discute e acha
seus caminhos.
Folha - O que a sra. pensa sobre o
futuro da mulher brasileira?
Zilda - Os indicadores de rapazes
e meninas que terminam o segundo grau e a universidade mostram
que o número de mulheres é
maior que o de homens. Isso é
muito bom, especialmente porque quanto mais a mulher estuda
menor é a mortalidade infantil.
Folha - O que a sra. diria às brasileiras no Dia Internacional da Mulher?
Zilda - Mulheres, vocês são a esperança do Brasil. Arregacem as
mangas, ponham a mão na massa
da construção de uma sociedade
justa e dêem a mão para as crianças carentes.
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