São Paulo, quarta-feira, 08 de março de 2006

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ANÁLISE

Cidade continua refém dos empresários

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Entra prefeito, sai prefeito, e a capital paulista continua refém de empresários que controlam os ônibus de São Paulo há décadas.
Romper com esse sistema é algo que nenhuma das últimas administrações municipais conseguiu até por conta dos riscos políticos e das incertezas a enfrentar.
O primeiro impasse é: tirar os atuais empresários para colocar quem? Embora os contratos sejam bilionários, até pela quantidade de gente transportada, eles não são considerados hoje no mercado um investimento tão atraente como muita gente imagina, uma galinha dos ovos de ouro.
Vale mais a pena para quem já tem uma infra-estrutura montada -com garagens e ônibus- e se acostumou a lucrar principalmente sonegando impostos.
Além disso, até por estarem entre os maiores, os empresários paulistanos têm uma articulação que extrapola as fronteiras da capital paulista -e ainda está para surgir grandes grupos de fora querendo comprar essa briga.
Não é à toa que, na licitação realizada em 2003 pela gestão Marta Suplicy (PT), os mesmos de sempre é que dominaram a maioria dos lotes e, acordados entre si, nem precisaram disputar preços com ninguém -oferecendo os valores de remuneração mais altos tolerados pela concorrência.
Uma alternativa ao poder público seria tentar cooptar empresários menores ou repassar a responsabilidade de manter os ônibus às cooperativas de perueiros -mas sob risco de queda da qualidade dos serviços e sem a garantia de que eles sobreviveriam.
Afinal, quem conseguiria arrumar 8.000 ônibus que não fossem velhos de uma hora para a outra? O investimento na frota é muito mais fácil para as empresas do grupo Ruas, que controla a fábrica de carrocerias Caio/Induscar.
Outra opção seria a prefeitura assumir os serviços, retomando um modelo existente na época da CMTC. A história, porém, mostra que isso significa injetar muito dinheiro dos cofres públicos no sistema. E os condutores continuariam capazes de parar São Paulo, assim como são hoje os metroviários, mesmo que sem locaute.
Deixar de ser refém dos grandes empresários significa assumir riscos que poucos políticos teriam coragem -e nada indica que a administração Serra vá romper com a lógica vigente há anos.
Mais fácil sempre foi empurrar com a barriga, dar um subsídio aqui, um aumento de tarifa acolá, flexibilizar alguma exigência aqui, conseguir uns ônibus novos em troca e manter os serviços dessa forma, até a próxima greve.


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