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ANÁLISE
Cidade continua refém dos empresários
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Entra prefeito, sai prefeito, e a
capital paulista continua refém de
empresários que controlam os
ônibus de São Paulo há décadas.
Romper com esse sistema é algo
que nenhuma das últimas administrações municipais conseguiu
até por conta dos riscos políticos e
das incertezas a enfrentar.
O primeiro impasse é: tirar os
atuais empresários para colocar
quem? Embora os contratos sejam bilionários, até pela quantidade de gente transportada, eles
não são considerados hoje no
mercado um investimento tão
atraente como muita gente imagina, uma galinha dos ovos de ouro.
Vale mais a pena para quem já
tem uma infra-estrutura montada
-com garagens e ônibus- e se
acostumou a lucrar principalmente sonegando impostos.
Além disso, até por estarem entre os maiores, os empresários
paulistanos têm uma articulação
que extrapola as fronteiras da capital paulista -e ainda está para
surgir grandes grupos de fora
querendo comprar essa briga.
Não é à toa que, na licitação realizada em 2003 pela gestão Marta
Suplicy (PT), os mesmos de sempre é que dominaram a maioria
dos lotes e, acordados entre si,
nem precisaram disputar preços
com ninguém -oferecendo os
valores de remuneração mais altos tolerados pela concorrência.
Uma alternativa ao poder público seria tentar cooptar empresários menores ou repassar a responsabilidade de manter os ônibus às cooperativas de perueiros
-mas sob risco de queda da qualidade dos serviços e sem a garantia de que eles sobreviveriam.
Afinal, quem conseguiria arrumar 8.000 ônibus que não fossem
velhos de uma hora para a outra?
O investimento na frota é muito
mais fácil para as empresas do
grupo Ruas, que controla a fábrica de carrocerias Caio/Induscar.
Outra opção seria a prefeitura
assumir os serviços, retomando
um modelo existente na época da
CMTC. A história, porém, mostra
que isso significa injetar muito dinheiro dos cofres públicos no sistema. E os condutores continuariam capazes de parar São Paulo,
assim como são hoje os metroviários, mesmo que sem locaute.
Deixar de ser refém dos grandes
empresários significa assumir riscos que poucos políticos teriam
coragem -e nada indica que a
administração Serra vá romper
com a lógica vigente há anos.
Mais fácil sempre foi empurrar
com a barriga, dar um subsídio
aqui, um aumento de tarifa acolá,
flexibilizar alguma exigência aqui,
conseguir uns ônibus novos em
troca e manter os serviços dessa
forma, até a próxima greve.
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