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Quinze crianças moram em presídio de MT
Elas moram com as mães, têm entre zero e quatro anos e, durante o dia, ficam numa creche desaparelhada cuja porta é uma grade
Para Ministério Público, situação as expõe a "agressão psicológica'; diretora afirma que vai reformar creche e contratar pedagogo
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ
Ao menos 15 crianças, com
idades entre zero e quatro anos
e meio, moram no presídio feminino Ana Maria do Couto
May, em Cuiabá (MT), onde
suas mães estão presas. Uma
delas é uma recém-nascida, que
chegou anteontem à tarde do
hospital. Há ainda cinco presidiárias grávidas.
De acordo com o Ministério
Público de Mato Grosso, as
crianças ficam durante o dia
numa creche improvisada e desaparelhada e são cuidadas por
outras presas sem capacitação.
À noite, todas dormem nas
celas com as mães. Como cada
unidade aloja, em geral, duas
mulheres e há apenas um colchão, é comum que as crianças
durmam no chão, segundo o
Ministério Público do Estado.
Relatório do órgão indica
pontos de fiação elétrica expostos na creche, além de vazamentos hidráulicos e equipamentos quebrados.
A Folha esteve no local anteontem e constatou que não
há berços na creche, mas apenas duas camas. A porta é a grade de uma cela. A área de recreação tem cerca de 12 m2 e é
cercada por uma tela de aço de
três metros, com escorregador,
balanços e gangorras.
Antes da área há uma sala
com brinquedos, mas sem mesas nem móveis. No berçário há
apenas duas camas. A reportagem constatou que as crianças
brincam normalmente sem
aparência de maus tratos.
No corredor das celas, uma
espécie de clarabóia para ventilação faz com que, muitas vezes, as crianças sejam expostas
à água da chuva e ao sol.
De acordo com o Ministério
Público, elas comem a comida
servida na prisão e são expostas ao cotidiano do presídio. As
condições higiênicas do local
também foram consideradas
precárias pela Promotoria.
Agressão psicológica
"Elas não estão sendo agredidas fisicamente, mas psicologicamente", diz José Antônio
Borges, promotor da Infância e
Juventude de Cuiabá. "A criança está sendo moldada em um
sistema prisional, sem a experiência de uma vida coletiva."
Um dos casos mais graves,
conta, é de uma menina de quatro anos e meio com dificuldades psicomotoras. Ela é filha de
uma boliviana, presa por tráfico de drogas, que, segundo a direção da prisão, deve voltar à
Bolívia nesta semana.
O Ministério Público enviou,
em fevereiro, ofício à Secretaria da Segurança Pública pedindo que as crianças com mais
de seis meses sejam retiradas
do local, além de requisitar melhorias na creche.
Reforma
A diretora do presídio, Dinalva Oriede Silva Souza, afirmou
ontem que, com a ajuda de uma
ONG, a creche será reformada a
partir da próxima semana.
Outra providência deverá ser
a contratação de um pedagogo
e de pessoal especializado para
cuidar das crianças, mas ainda
não há prazo para isso, pois depende da Secretaria Estadual
de Educação.
Essas medidas, afirma a diretora, visam atender às orientações do Ministério Público Estadual e tentar a permanência
das crianças no presídio.
Dinalva diz que as crianças
comem comida preparada na
própria creche e recebem leite.
Após as 17h, vão para as celas
com as mães que, conforme ela,
são individuais. Apenas duas
mães dividem o mesmo espaço.
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