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Mulher tem maior renda em 30% das casas
Melhoria de escolaridade feminina nas últimas décadas explica rendimento maior que o dos homens, diz pesquisadora
Apesar dos avanços no mercado de trabalho, 90% das mulheres ocupadas dizem cuidar também da casa, contra 50% dos homens
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Susana Machado e Arnaldo
Jaña estão há 15 anos juntos e
aprenderam a lidar com uma
situação que, para muitos homens, causaria bastante incômodo: é dela a maior renda do
domicílio e é ele que, por ter
mais flexibilidade para trabalhar em casa, assume boa parte
dos afazeres domésticos.
"Somos de uma geração em
que o que se esperava do homem era ser o provedor. Mas
tenho muito a agradecer ao Arnaldo: pelo meu sucesso profissional, por ter ficado mais tempo em casa, ajudando na educação de meu filho, e em outras
tarefas. Ele sempre me apoiou e
me ajudou a chegar onde cheguei", diz Susana, 49, servidora
da Justiça Federal.
Casos em que a renda da mulher supera a do homem no domicílio ainda são minoritários,
mas, nos últimos 25 anos, eles
mais que dobraram, como mostra uma conta feita pela pesquisadora do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada)
Ana Amélia Camarano, a partir
da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios, do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística).
De 1982 a 2007, cresceu de
3% para 11% a proporção de lares onde a renda da mulher superava a dos companheiros. Se
forem somados também os domicílios onde a mulher mantém um lar sem cônjuge, o percentual de casas onde elas eram
as principais ou únicas provedoras mais do que dobrou, variando de 13% para 30%.
Avanço feminino
Outro dado que demonstra o
avanço feminino é a constatação de que a contribuição das
mulheres para a renda total das
famílias no Brasil já chega a
40%. Em 1982, essa proporção
era de 23%.
Essas contas fazem parte de
um estudo que Ana Amélia está
elaborando sobre os desafios
das políticas de aposentadoria
para mulheres diante dos novos arranjos familiares na sociedade brasileira.
"No passado, uma das principais preocupações da mulher
ao casar era achar um marido
que tivesse condições de sustentá-la. Mas, a partir do momento em que a participação
feminina no mercado de trabalho cresce, isso deixa de ser essencial e cresce a proporção das
que se casam com um marido
de renda menor", afirma a pesquisadora.
Ela explica que esse movimento aconteceu principalmente por causa da melhoria
da escolaridade feminina e da
redução nas taxas de fecundidade. Hoje, o IBGE já mostra
que a escolaridade das mulheres entre 20 e 59 anos supera a
dos homens. Em 1982, a situação era inversa.
Sobrecarga
Se a participação da mulher
no mercado de trabalho se alterou bastante nos últimos anos,
o mesmo não pode ser dito da
divisão das tarefas domésticas.
Mesmo em residências onde
tanto o homem quanto a mulher são ocupados, a maior parte dos afazeres de casa continua
sendo feito por elas.
Em 2007, 90% das mulheres
ocupadas diziam também cuidar de afazeres domésticos. Entre homens, o percentual era de
apenas 50%. Elas também dedicavam, em média, mais que o
dobro de horas semanais a essas atividades em relação aos
cônjuges: 22,2 horas, ante 9,6
dos homens.
A divisão desigual das tarefas
domésticas é realidade comum
mesmo em casos onde a mulher possui rendimento maior
do que o homem.
É o que acontece com Daniele Fernandes, 30. De origem
humilde, ela completou o curso
de ciências sociais e hoje ganha,
como pesquisadora-bolsista,
uma renda maior do que a de
seu marido, que é pedreiro.
Daniele conta que seu marido, ao contrário de outros namorados que teve antes do relacionamento atual, aceita bem o
fato de ela ganhar mais. Porém,
quando se trata de cuidar da casa, é dela a responsabilidade.
"Mesmo hoje em dia, a ideia
predominante é de que os afazeres domésticos são de responsabilidade da mulher. Meu
marido até ajuda se eu pedir,
mas sou eu quem tenho que me
preocupar sobre o que vamos
comer ou como vamos cuidar
dos filhos", diz ela.
Nesse ponto, melhor sorte
tem Susana Machado, a servidora federal que é casada com
Arnaldo Jaña.
"Como eu trabalho com edição de filmagens, tenho horário
mais flexível e fico mais tempo
em casa. Não tenho nenhum
problema em levar o filho [do
primeiro casamento] da Susana na escola ou lavar a louça e
varrer a casa. Sei que ainda há
muito machismo, mas acho que
a mulher está conquistando sua
independência e o homem que
não se adaptar a essa nova realidade terá que segurar sua onda", diz Arnaldo.
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