São Paulo, Segunda-feira, 08 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O rapaz que não consegue ouvir um CD

da Reportagem Local

Mário vinha se tratando de transtorno do pânico com sucesso. Não tinha mais ataques de ansiedade, palpitações, sufocamento e sensação de morte eminente. Também tinha perdido o medo de ficar em locais fechados e de viajar para longe de sua casa.
Em uma consulta, quando já ia parar de tomar remédios, contou que raramente conseguia ler um livro até o fim. Embora comprasse livros e pretendesse lê-los, inevitavelmente parava no meio.
Mesmo que conseguisse avançar na leitura, era comum ter de voltar páginas para lembrar da história. Isso também acontecia na escola e na faculdade, mas Mário era inteligente e procurava prestar atenção na aula.
Disse que sua memória sempre foi ruim. Seus amigos contavam episódios que tinham vivido juntos, mas ele não se lembrava.
O mesmo acontecia com filmes. Ele jurava não ter visto um filme, até que os amigos iam contando pedaços da trama, e ele então se lembrava do que viu. Ficava surpreso com a sua falta de memória.
Se estava no trânsito e não havia congestionamento, ouvia música normalmente. Se por acaso era pego na hora do rush, ficava inquieto e pulava de uma faixa para outra.
Trocava os CDs toda a hora, ligava e desligava o rádio, mudava de estação e não parava de se mexer no banco.
A história de Mario foi retirada de extratos de depoimentos reais prestados ao psiquiatra Paulo Mattos, organizador da Associação Brasileira do Déficit de Atenção, e seu nome é fictício.


Texto Anterior: Professor não se concentrava
Próximo Texto: Livro mostra situação da gravidez na adolescência
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.