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O rapaz que não consegue ouvir um CD
da Reportagem Local
Mário vinha se tratando de transtorno do pânico com sucesso. Não
tinha mais ataques de ansiedade,
palpitações, sufocamento e sensação de morte eminente. Também
tinha perdido o medo de ficar em
locais fechados e de viajar para
longe de sua casa.
Em uma consulta, quando já ia
parar de tomar remédios, contou
que raramente conseguia ler um livro até o fim. Embora comprasse
livros e pretendesse lê-los, inevitavelmente parava no meio.
Mesmo que conseguisse avançar
na leitura, era comum ter de voltar
páginas para lembrar da história.
Isso também acontecia na escola e
na faculdade, mas Mário era inteligente e procurava prestar atenção
na aula.
Disse que sua memória sempre
foi ruim. Seus amigos contavam
episódios que tinham vivido juntos, mas ele não se lembrava.
O mesmo acontecia com filmes.
Ele jurava não ter visto um filme,
até que os amigos iam contando
pedaços da trama, e ele então se
lembrava do que viu. Ficava surpreso com a sua falta de memória.
Se estava no trânsito e não havia
congestionamento, ouvia música
normalmente. Se por acaso era pego na hora do rush, ficava inquieto
e pulava de uma faixa para outra.
Trocava os CDs toda a hora, ligava e desligava o rádio, mudava de
estação e não parava de se mexer
no banco.
A história de Mario foi retirada
de extratos de depoimentos reais
prestados ao psiquiatra Paulo Mattos, organizador da Associação
Brasileira do Déficit de Atenção, e
seu nome é fictício.
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