São Paulo, Segunda-feira, 08 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Eleitor deve fiscalizar CPI, diz Cardozo

da Reportagem Local

O presidente da CPI aprovada na Câmara de São Paulo para investigar a máfia dos fiscais, o vereador José Eduardo Cardozo (PT), condiciona o sucesso da apuração à participação da opinião pública.
Ele conclama eleitores a assistirem a CPI para "fiscalizar e cobrar". Sem isso, não espera grandes resultados. (JCS)

Folha - O sr. se sente incompetente por ter presidido uma CPI em 95 que não acabou com a corrupção na regional Sé?
Cardozo -
Incompetente não, frustrado, sim. A CPI fez um trabalho muito competente. Nós partimos de uma denúncia anônima e fizemos uma investigação que mostrou de forma consistente a existência de uma máfia. Nós não conseguimos chegar além do administrador da época, o Vitor David. Tudo aquilo que acontece hoje foi descrito por nós em 95.
Folha - A CPI denunciou 29 pessoas, mas até hoje ninguém foi condenado. Isso não coloca em xeque a eficácia de uma CPI?
Cardozo -
Acho que coloca em xeque a eficácia do Judiciário. Nosso trabalho nós fizemos. Tanto que o Ministério Público acolheu o relatório da CPI. O juiz absolveu. Ainda não é uma sentença definitiva. O Ministério Público está inconformado e vai recorrer.
Folha - Essa CPI não foi aprovada só para satisfazer a pressão de eleitores?
Cardozo -
Da nossa parte não, mas da parte de alguns vereadores situacionistas sim. Alguns que aprovaram têm a intenção de criar obstáculos para impedir que a CPI investigue seriamente.
Folha - A CPI aprovada pode investigar outras administrações. O sr. já foi secretário de Governo na gestão Erundina. O sr. também não estaria impedido de participar da CPI?
Cardozo -
Se eu tivesse algum tipo de atuação funcional que estivesse neste momento sob investigação, sim.
Folha - Não há possibilidade de essas irregularidades de hoje terem existido em outras administrações? No governo Erundina, por exemplo.
Cardozo -
Não há a menor dúvida. O que eu sei é que o governo Erundina removeu vários fiscais. Foram vários processos. O que chamou atenção na CPI de 95 é que muitos dos fiscais, em especial da regional da Sé, que tinham sido removidos ao longo do governo Erundina retornaram aos seus postos no governo Maluf.
Folha - O sr. acha que a CPI tem poder suficiente para investigar um esquema complexo como o da máfia dos fiscais?
Cardozo -
Acho que podemos ser um instrumento importante, junto com o Ministério Público e a polícia. O próprio Ministério Público tem dito que são tão grandes os tentáculos deste polvo que é esta máfia, que ele não dá conta de cuidar sozinho de tudo.
Folha - Mas a CPI pode ser mais ágil que o Ministério Público?
Cardozo -
O sucesso da CPI está diretamente condicionado à postura que a opinião pública tiver. Se a opinião pública não cobrar, não fiscalizar, não acompanhar a CPI, se não houver esse tipo de cobrança e fiscalização e a investigação ficar intramuros da Câmara, eu não espero grandes resultados.


Texto Anterior: PPB discute punir político suspeito
Próximo Texto: Seguro protege carro contra enchente
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.