|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Máfia de regional recebia propina por lixo
SÍLVIA CORRÊA
da Reportagem Local
Além de extorquir comerciantes e camelôs, a
rede de corrupção que age na
Prefeitura de
São Paulo atinge
também a coleta
e varrição de lixo.
O esquema foi revelado por testemunhas ouvidas no fim-de-semana pela polícia. Seus nomes estão sendo mantidos sob sigilo.
De acordo com os relatos, cerca
de 20% do valor repassado pela
prefeitura às empresas concessionárias da limpeza pública seguiriam para as administrações regionais em forma de propina.
Em troca, os engenheiros responsáveis pela Supervisão dos Serviços Públicos, departamento que
fiscaliza o cumprimento das normas de coleta e varrição, ignorariam as irregularidades do serviço,
isentando as empresas contratadas
das multas previstas em contrato
-que variam de R$ 100 a R$ 1.669
por dia, por infração.
As testemunhas ouvidas trabalharam na Administração Regional da Penha, área onde a coleta e
varrição está a cargo da Enterpa
Ambiental. De acordo com os depoimentos, três dias depois que a
prefeitura pagava à Enterpa, um
funcionário da empresa seguia até
a Regional e entregava 20% do valor do pagamento mensal a três engenheiros concursados lotados
nos Serviços Públicos.
Um diretor da Enterpa afirmou,
ontem à noite, que considera a denúncia "vazia", feita por "alguém
que precisa de seus cinco minutos
de fama" e que a margem de lucro
com que trabalha a companhia
não permitiria pagar propina nessa proporção (leia texto abaixo).
As testemunhas não souberam
apontar o nome do funcionário da
empresa que faria a entrega do dinheiro. Os nomes dos engenheiros
envolvidos estão sendo mantidos
em sigilo pela polícia.
A limpeza da Penha está englobada no contrato 11/95 do Limpurb (Departamento de Limpeza
Urbana), no qual figuram também
Vila Maria/Vila Guilherme, Mooca
e Aricanduva/Vila Formosa.
Hoje, o valor total do contrato já
está em R$ 160 milhões, para os 54
meses de vigência. Supondo que
esse valor fosse dividido em partes
iguais entre as quatro regionais,
seriam gastos R$ 40 milhões em
cada área no período contratual
-ou R$ 740 mil por mês.
Segundo essa simulação, a propina que iria para a Penha giraria em
torno de R$ 148 mil mensais.
As testemunhas disseram que
parte do montante era repassado
para o coronel Ivan Márcio Gitahy,
responsável por distribuir a verba
entre os demais assessores técnicos da Penha -todos indicados
pelo vereador Vicente Viscome
(PPB), que controla a regional.
Cabia ao assessor Gitahy, de
acordo com os relatos, repassar
parte do dinheiro ao parlamentar
pepebista. A polícia acredita que o
repasse era feito em dólar.
O advogado de Viscome disse
ontem que considera a acusação
"invenção" e que a expressão "lixo", encontrada na agenda da assessora Tânia de Paula, não é referência a propina (leia abaixo).
Em troca da "caixinha" mensal,
os engenheiros dos Serviços Públicos permitiriam, sempre conforme os depoimentos, que a Enterpa
varresse bem menos do que a área
para a qual era paga, trabalhasse
com menos funcionários do que
previsto em contrato, coletasse lixo comercial acima do permitido e
molhasse o lixo recolhido para aumentar peso e pagamento.
O delegado Romeu Tuma Jr. instaura hoje um inquérito específico
para apurar a corrupção do lixo.
Texto Anterior: Caso já envolveu expulsão Próximo Texto: Lixo é adjetivo, diz advogado Índice
|