São Paulo, Segunda-feira, 08 de Março de 1999
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Máfia de regional recebia propina por lixo

SÍLVIA CORRÊA
da Reportagem Local

Além de extorquir comerciantes e camelôs, a rede de corrupção que age na Prefeitura de São Paulo atinge também a coleta e varrição de lixo.
O esquema foi revelado por testemunhas ouvidas no fim-de-semana pela polícia. Seus nomes estão sendo mantidos sob sigilo.
De acordo com os relatos, cerca de 20% do valor repassado pela prefeitura às empresas concessionárias da limpeza pública seguiriam para as administrações regionais em forma de propina.
Em troca, os engenheiros responsáveis pela Supervisão dos Serviços Públicos, departamento que fiscaliza o cumprimento das normas de coleta e varrição, ignorariam as irregularidades do serviço, isentando as empresas contratadas das multas previstas em contrato -que variam de R$ 100 a R$ 1.669 por dia, por infração.
As testemunhas ouvidas trabalharam na Administração Regional da Penha, área onde a coleta e varrição está a cargo da Enterpa Ambiental. De acordo com os depoimentos, três dias depois que a prefeitura pagava à Enterpa, um funcionário da empresa seguia até a Regional e entregava 20% do valor do pagamento mensal a três engenheiros concursados lotados nos Serviços Públicos.
Um diretor da Enterpa afirmou, ontem à noite, que considera a denúncia "vazia", feita por "alguém que precisa de seus cinco minutos de fama" e que a margem de lucro com que trabalha a companhia não permitiria pagar propina nessa proporção (leia texto abaixo).
As testemunhas não souberam apontar o nome do funcionário da empresa que faria a entrega do dinheiro. Os nomes dos engenheiros envolvidos estão sendo mantidos em sigilo pela polícia.
A limpeza da Penha está englobada no contrato 11/95 do Limpurb (Departamento de Limpeza Urbana), no qual figuram também Vila Maria/Vila Guilherme, Mooca e Aricanduva/Vila Formosa.
Hoje, o valor total do contrato já está em R$ 160 milhões, para os 54 meses de vigência. Supondo que esse valor fosse dividido em partes iguais entre as quatro regionais, seriam gastos R$ 40 milhões em cada área no período contratual -ou R$ 740 mil por mês.
Segundo essa simulação, a propina que iria para a Penha giraria em torno de R$ 148 mil mensais.
As testemunhas disseram que parte do montante era repassado para o coronel Ivan Márcio Gitahy, responsável por distribuir a verba entre os demais assessores técnicos da Penha -todos indicados pelo vereador Vicente Viscome (PPB), que controla a regional.
Cabia ao assessor Gitahy, de acordo com os relatos, repassar parte do dinheiro ao parlamentar pepebista. A polícia acredita que o repasse era feito em dólar.
O advogado de Viscome disse ontem que considera a acusação "invenção" e que a expressão "lixo", encontrada na agenda da assessora Tânia de Paula, não é referência a propina (leia abaixo).
Em troca da "caixinha" mensal, os engenheiros dos Serviços Públicos permitiriam, sempre conforme os depoimentos, que a Enterpa varresse bem menos do que a área para a qual era paga, trabalhasse com menos funcionários do que previsto em contrato, coletasse lixo comercial acima do permitido e molhasse o lixo recolhido para aumentar peso e pagamento.
O delegado Romeu Tuma Jr. instaura hoje um inquérito específico para apurar a corrupção do lixo.


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