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São Paulo, terça-feira, 08 de abril de 2003

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TRANSPORTE

Durante a paralisação de motoristas, que deve continuar hoje, 93 veículos foram destruídos

Grevistas destroem ônibus e param SP

Ayrton Vignola/Folha Imagem
Ônibus queimado na avenida Cupecê (zona sul) por motoristas e cobradores em greve


Matuiti Mayezo/Folha Imagem
Paulistanos aguardam transporte em terminal


DA REPORTAGEM LOCAL

Motoristas e cobradores de ônibus fizeram ontem em São Paulo uma greve que deixou 3,5 milhões de passageiros sem transporte e um saldo violento de protestos: em menos de 24 horas, houve 91 veículos depredados e dois incendiados por manifestantes.
A continuidade da paralisação seria decidida na madrugada de hoje nas garagens. "Tenho certeza de que a categoria vai prosseguir com a greve", disse Francisco Xavier da Silva Filho, secretário de Formação e Cultura do sindicato.
Os trabalhadores, que pararam ontem toda a frota de 10 mil ônibus da capital paulista, protestam contra a demissão de 10.800 trabalhadores -20% da categoria- de nove viações que foram descredenciadas pela administração Marta Suplicy no último sábado.
O TRT (Tribunal Regional do Trabalho) determinou que a categoria deve manter 80% da frota de cada linha nas ruas nos horários de pico e 70% dela no restante do dia. O desrespeito da ordem vai resultar em uma multa de R$ 200 mil por dia aos responsáveis.
O presidente do sindicato dos condutores, Edivaldo Santiago, adotou um discurso que aponta para a tendência de continuação do movimento hoje -embora a decisão definitiva só vá sair das garagens, durante a madrugada. "É hora de pensar no emprego dos trabalhadores e não em liminares ou multas", afirmou Santiago, após reunião no TRT.
O secretário Jilmar Tatto (Transportes) disse que "mais de metade" dos 10.800 demitidos serão absorvidos pelos futuros operadores do sistema e que uma parte será atendida por programas sociais da prefeitura -fato que foi "ridicularizado" pelos trabalhadores nas garagens.
Tatto voltou a dizer que os motoristas, com a paralisação, estariam defendendo os interesses dos "maus empresários" que foram excluídos do sistema. O Ministério Público do Trabalho classificou a greve de "selvagem".
O sindicato reagiu e afirmou que está apenas lutando pelos direitos dos trabalhadores.
Dos 93 ônibus atingidos por manifestantes durante a greve de ontem, 81 pertenciam à EMTU (que cuida dos ônibus intermunicipais) e rodavam para levar passageiros aos terminais do Metrô.
A paralisação da categoria aumentou os congestionamentos em São Paulo. A cidade teve 103 km de lentidão no pico da manhã, às 8h, e 127 km no da tarde, às 19h. Os recordes deste ano foram de 111 km e 133 km, respectivamente.
O mau tempo, que fechou alguns aeroportos do país, e a situação do trânsito provocaram atrasos nos vôos pela manhã no aeroporto de Congonhas.

Demissões voluntárias
Prefeitura, trabalhadores e empresários de ônibus se reuniram no TRT ontem à tarde para discutir uma solução para as 10.800 demissões, mas não houve acordo.
Edivaldo Santiago propôs que a prefeitura assumisse, por 15 dias, as nove empresas de ônibus fechadas no sábado. Nesse período, haveria um programa de demissões voluntárias. A proposta foi rejeitada por Jilmar Tatto.
O secretário chegou a cogitar a possibilidade de assumir os salários desses motoristas, mas disse que não se responsabilizaria pelos passivos trabalhistas anteriores.
Os donos das viações também não aceitam pagar esse passivo -cujo valor é estimado em mais de R$ 70 milhões pelo sindicato da categoria. O Transurb alega que não possui caixa suficiente para pagar os salários dos trabalhadores que já estão no sistema.
Mas a proposta de um programa de demissões voluntárias é vista com bons olhos pelos patrões. O presidente do Transurb, Sergio Pavani, disse, porém, que seria preciso um aporte de recursos para pagar as dívidas trabalhistas dos que aderissem.
Marta Suplicy concedeu entrevistas ontem a emissoras de TV para criticar a greve. Chegou a acusar os empresários das nove empresas que foram excluídas na licitação de "gângsters".
Mesmo com a exclusão das nove empresas (cinco das quais estavam sob intervenção e duas sob auditoria municipal), entretanto, praticamente metade da frota delas (mil veículos), classificada por Marta como "velha", ainda continuará rodando em São Paulo. Ela foi requisitada pela prefeitura e deve ser operada pelas demais viações de ônibus.
(PALOMA COTES E ALENCAR IZIDORO)


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