São Paulo, domingo, 08 de abril de 2007

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Doença deve tomar formas mais graves, alerta especialista

DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto não houver no país um controle efetivo da dengue, vão aumentar as formas graves da doença e, cada dia mais, deve crescer a proporção de crianças infectadas. A avaliação é do infectologista Luiz Jacinto da Silva, professor titular da Unicamp. Segundo ele, o fato de as pessoas terem infecções sucessivas com vírus diferentes é a principal razão dessa tendência. A seguir, trechos da entrevista dada à Folha. (CC)

 

FOLHA - Há um aumento de complicações relacionadas à dengue?
LUIZ JACINTO DA SILVA
- Existe. Estamos observando um aumento dos óbitos por dengue, e, sem dúvida, atendendo muito mais casos complicados de dengue do que em anos anteriores. À medida que você vai tendo dengue, dengue, dengue, dengue, naturalmente você vai ter dengue mais complicada.

FOLHA - Por quê?
SILVA
- Um dos determinantes para se ter uma forma mais grave de dengue é você ter infecções sucessivas com vírus diferentes. Temos hoje três vírus circulando. Então a probabilidade de uma pessoa se infectar com um e depois com o outro é muito grande. Enquanto não tiver um controle efetivo, duas situações vão ocorrer: teremos cada vez mais formas graves e uma maior proporção de crianças infectadas.

FOLHA - Fala-se também de uma mudança dos sintomas da dengue, que fogem do padrão clássico.
SILVA
- As pessoas estavam acostumadas com essa dengue fajuta que a gente tinha aqui, com dor de cabeça, dor no corpo e mais nada. Mas quando temos as formas mais graves da dengue, a pessoa tem diarréia, tem hepatite, tem encefalite etc. E conforme a dengue vai ocorrendo em crianças também, você vai tendo casos mais exuberantes. Não está acontecendo nada que não esteja nos livros e que não tenha acontecido em outros países do mundo.

FOLHA - Os médicos brasileiros estão preparados para diagnosticar precocemente os casos mais graves?
SILVA
- Há um certo descaso em alguns lugares com a dengue. Fica aquele conceito que é uma doença sem problemas. Dengue é uma doença potencialmente grave, principalmente em crianças e idosos. Precisava de uma abordagem séria do ponto de vista do estado clínico da dengue.

FOLHA - Como melhorar o combate da dengue no país?
SILVA
- Eu tenho uma visão muito cética quando vejo, durante uma epidemia de dengue, as pessoas falando: "Vamos fazer um esquadrão antidengue, vamos comprar não sei quantos carros e jogar inseticida." Isso não adianta. Se tivéssemos trabalhado de forma sistemática durante três, quatro anos, provavelmente não estávamos nessa crise. O problema é que há grande investimento durante as epidemias, mas, quando passa esse período, as pessoas relaxam. Controlar a dengue não é uma coisa charmosa. Nossos governos querem coisas que apareçam.


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