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Doença deve tomar formas mais graves, alerta especialista
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto não houver no país
um controle efetivo da dengue,
vão aumentar as formas graves
da doença e, cada dia mais, deve
crescer a proporção de crianças
infectadas.
A avaliação é do infectologista Luiz Jacinto da Silva, professor titular da Unicamp. Segundo ele, o fato de as pessoas terem infecções sucessivas com
vírus diferentes é a principal
razão dessa tendência. A seguir,
trechos da entrevista dada à
Folha.
(CC)
FOLHA - Há um aumento de complicações relacionadas à dengue?
LUIZ JACINTO DA SILVA - Existe. Estamos observando um aumento dos óbitos por dengue, e, sem
dúvida, atendendo muito mais
casos complicados de dengue
do que em anos anteriores. À
medida que você vai tendo dengue, dengue, dengue, dengue,
naturalmente você vai ter dengue mais complicada.
FOLHA - Por quê?
SILVA - Um dos determinantes
para se ter uma forma mais grave de dengue é você ter infecções sucessivas com vírus diferentes. Temos hoje três vírus
circulando. Então a probabilidade de uma pessoa se infectar
com um e depois com o outro é
muito grande. Enquanto não tiver um controle efetivo, duas
situações vão ocorrer: teremos
cada vez mais formas graves e
uma maior proporção de crianças infectadas.
FOLHA - Fala-se também de uma
mudança dos sintomas da dengue,
que fogem do padrão clássico.
SILVA - As pessoas estavam
acostumadas com essa dengue
fajuta que a gente tinha aqui,
com dor de cabeça, dor no corpo e mais nada. Mas quando temos as formas mais graves da
dengue, a pessoa tem diarréia,
tem hepatite, tem encefalite
etc. E conforme a dengue vai
ocorrendo em crianças também, você vai tendo casos mais
exuberantes. Não está acontecendo nada que não esteja nos
livros e que não tenha acontecido em outros países do mundo.
FOLHA - Os médicos brasileiros estão preparados para diagnosticar
precocemente os casos mais graves?
SILVA - Há um certo descaso
em alguns lugares com a dengue. Fica aquele conceito que é
uma doença sem problemas.
Dengue é uma doença potencialmente grave, principalmente em crianças e idosos. Precisava de uma abordagem séria
do ponto de vista do estado clínico da dengue.
FOLHA - Como melhorar o combate da dengue no país?
SILVA - Eu tenho uma visão
muito cética quando vejo, durante uma epidemia de dengue,
as pessoas falando: "Vamos fazer um esquadrão antidengue,
vamos comprar não sei quantos carros e jogar inseticida." Isso não adianta. Se tivéssemos
trabalhado de forma sistemática durante três, quatro anos,
provavelmente não estávamos
nessa crise. O problema é que
há grande investimento durante as epidemias, mas, quando
passa esse período, as pessoas
relaxam. Controlar a dengue
não é uma coisa charmosa.
Nossos governos querem coisas que apareçam.
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