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Marcos, 8, não resiste ao 2º desabamento
Garoto sobrevive por mais de 8 h sob os escombros no morro dos Prazeres, mas morre ao ser atingido por novo deslizamento
Bombeiro que resgatou o corpo diz que chegou a conversar com o menino; buscas foram interrompidas devido ao mau tempo
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Eram 10h20 de ontem quando o sargento Tourinho, do
Corpo de Bombeiros, pôs o corpo do menino Marcos Vinicius
França da Mata, 8, nos braços
do pai, Valmir França Mata,
que passara a noite no morro
dos Prazeres em vigília.
O garoto sobreviveu por ao
menos oito horas sob os escombros de uma casa atingida na
terça-feira por uma avalanche
de pedras, água e terra. Preso lá
embaixo, ele podia ser ouvido
pelos bombeiros. Mas um novo
deslizamento atingiu o local e
sua voz cessou.
""Ele pedia: me tira rápido,
por favor. Conversei com ele
até as 16h (de anteontem),
quando o novo deslizamento
nos fez suspender as buscas",
relembra o sargento Tourinho.
Pai de dois filhos, o bombeiro
disse que as buscas foram reiniciadas às 20h, mas ele não ouviu mais o clamor do menino.
Foi a cena mais tocante no
cenário de dor em que se transformou o morro dos Prazeres
(em Santa Teresa, no centro do
Rio, ocupado desde 1931), uma
das áreas mais atingidas pelas
chuvas no Rio, onde 22 corpos
foram resgatados até agora, segundo o Corpo de Bombeiros.
A tragédia deixou famílias
desfalcadas. Deixou também
histórias de mães que escaparam da morte pelo acaso e estão
traumatizadas com a perda de
filhos. A avalanche, segundo
moradores, foi muito rápida.
A chuva não destruiu barracos no morro dos Prazeres, mas
casas de alvenaria, sendo uma
de três andares. A lama cobriu
um automóvel Gol, com poucos
meses de uso, e duas motos, que
ficavam estacionadas na garagem de uma das casas destruídas. Um táxi foi engolido.
Ebis Bispo Valeriano e Neuza
Ribeiro Valeriano, aposentados, tomavam o café quando
ouviram um estrondo. ""Era um
barulho chiado, e a terra tremeu como se fosse um terremoto", diz ela. Para ele, parecia
o de uma manada de búfalos.
O casal diz que não esquecerá
a cena de uma mulher pedindo
socorro, só com a cabeça de fora da terra. ""Quando a retiramos, ela estava nua. Achamos
que estava tomando banho
quando foi carregada pela
água", diz Neuza Valeriano.
Graças a ajuda de moradores,
várias pessoas foram retiradas
com vida na terça-feira e levadas em carro particular para os
hospitais. Daí a dificuldade de
quantificar o número de atingidos. Além dos 22 mortos resgatados, acredita-se que ao menos mais dez corpos continuavam sob os escombros.
Os vizinhos ajudaram os
bombeiros ao mostrar os locais
de suas casas, desenhando-as
em uma folha de papelão. Fizeram também listas com os
nomes das crianças e adultos
e usavam até álbuns de fotografias, resgatados da lama, para
identificar possíveis vítimas
da tragédia que abalou o Rio.
Mineiros
Entre os desaparecidos, estão três crianças e dois rapazes,
de duas famílias mineiras que
ocupavam um apartamento em
um prédio de três andares que
desabou. O pintor Pedro Camilo Ribeiro, 49, pai de quatro filhos, tinha viajado para Espera
Feliz (MG) quando se deu a tragédia. Segundo ele, dois de seus
filhos foram resgatados com vida e estão internados. A mulher, Maria Imaculada, morreu.
Os dois outros filhos continuariam sob os escombros.
Uma sobrinha do pintor estava no Rio com quatro crianças.
Os moradores dizem que ela e
um dos filhos foram resgatados
com vida, mas os outros três
continuam soterrados.
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