São Paulo, quinta-feira, 08 de abril de 2010

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Marcos, 8, não resiste ao 2º desabamento

Garoto sobrevive por mais de 8 h sob os escombros no morro dos Prazeres, mas morre ao ser atingido por novo deslizamento

Bombeiro que resgatou o corpo diz que chegou a conversar com o menino; buscas foram interrompidas devido ao mau tempo

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Eram 10h20 de ontem quando o sargento Tourinho, do Corpo de Bombeiros, pôs o corpo do menino Marcos Vinicius França da Mata, 8, nos braços do pai, Valmir França Mata, que passara a noite no morro dos Prazeres em vigília.
O garoto sobreviveu por ao menos oito horas sob os escombros de uma casa atingida na terça-feira por uma avalanche de pedras, água e terra. Preso lá embaixo, ele podia ser ouvido pelos bombeiros. Mas um novo deslizamento atingiu o local e sua voz cessou.
""Ele pedia: me tira rápido, por favor. Conversei com ele até as 16h (de anteontem), quando o novo deslizamento nos fez suspender as buscas", relembra o sargento Tourinho.
Pai de dois filhos, o bombeiro disse que as buscas foram reiniciadas às 20h, mas ele não ouviu mais o clamor do menino.
Foi a cena mais tocante no cenário de dor em que se transformou o morro dos Prazeres (em Santa Teresa, no centro do Rio, ocupado desde 1931), uma das áreas mais atingidas pelas chuvas no Rio, onde 22 corpos foram resgatados até agora, segundo o Corpo de Bombeiros.
A tragédia deixou famílias desfalcadas. Deixou também histórias de mães que escaparam da morte pelo acaso e estão traumatizadas com a perda de filhos. A avalanche, segundo moradores, foi muito rápida.
A chuva não destruiu barracos no morro dos Prazeres, mas casas de alvenaria, sendo uma de três andares. A lama cobriu um automóvel Gol, com poucos meses de uso, e duas motos, que ficavam estacionadas na garagem de uma das casas destruídas. Um táxi foi engolido.
Ebis Bispo Valeriano e Neuza Ribeiro Valeriano, aposentados, tomavam o café quando ouviram um estrondo. ""Era um barulho chiado, e a terra tremeu como se fosse um terremoto", diz ela. Para ele, parecia o de uma manada de búfalos.
O casal diz que não esquecerá a cena de uma mulher pedindo socorro, só com a cabeça de fora da terra. ""Quando a retiramos, ela estava nua. Achamos que estava tomando banho quando foi carregada pela água", diz Neuza Valeriano.
Graças a ajuda de moradores, várias pessoas foram retiradas com vida na terça-feira e levadas em carro particular para os hospitais. Daí a dificuldade de quantificar o número de atingidos. Além dos 22 mortos resgatados, acredita-se que ao menos mais dez corpos continuavam sob os escombros.
Os vizinhos ajudaram os bombeiros ao mostrar os locais de suas casas, desenhando-as em uma folha de papelão. Fizeram também listas com os nomes das crianças e adultos e usavam até álbuns de fotografias, resgatados da lama, para identificar possíveis vítimas da tragédia que abalou o Rio.

Mineiros
Entre os desaparecidos, estão três crianças e dois rapazes, de duas famílias mineiras que ocupavam um apartamento em um prédio de três andares que desabou. O pintor Pedro Camilo Ribeiro, 49, pai de quatro filhos, tinha viajado para Espera Feliz (MG) quando se deu a tragédia. Segundo ele, dois de seus filhos foram resgatados com vida e estão internados. A mulher, Maria Imaculada, morreu. Os dois outros filhos continuariam sob os escombros.
Uma sobrinha do pintor estava no Rio com quatro crianças. Os moradores dizem que ela e um dos filhos foram resgatados com vida, mas os outros três continuam soterrados.


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