São Paulo, segunda-feira, 08 de maio de 2000


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Paciente não é orientado sobre como agir

Matuiti Mayezo/Folha Imagem
O médico Décio Mion Júnior mede a pressão da paciente hipertensa Lourdes Maria Gonçalves


da Reportagem Local

Falta de orientação ao paciente hipertenso, incorreções na tomada de pressão ou ausência de medição durante consultas. Problemas como esses estão em todo lugar -quer no sistema público de saúde, quer no privado.
Na última quinta-feira, a aposentada Leonor Bendiskas, 56, aproveitou que tinha uma consulta ginecológica em um posto de saúde e passou na sala em que se mede a pressão arterial para checar a sua. Resultado: 15 por 7.
"Está alta. A senhora tem de baixar a, pelo menos, 13 por 7", foi a resposta lacônica do enfermeiro.
Os cuidados que ela deveria ter com hábitos alimentares para que sua pressão fosse controlada ou a simples sugestão de que Leonor procurasse um médico não constaram da resposta do enfermeiro.
Leonor seguiu para sua casa, despreocupada. Tiraria da gaveta uma das receitas médicas -sem data- que guarda há algum tempo e iria à farmácia comprar um "remedinho para a pressão".
"Guardei algumas receitas da época em que me senti mal por causa da pressão alta", diz. Há cerca de dois anos, Leonor começou a se sentir cansada, com tonturas. Quando foi ao médico, descobriu que sua pressão estava alta. "Ele me deu um remédio, e o mal-estar passou", conta. "Às vezes (a pressão) está baixa, às vezes, alta. Não sei direito se sou hipertensa."
Nem os médicos pelos quais passou há dois anos, nem mesmo seu ginecologista atual, com quem faz o controle de reposição hormonal, atentaram para a necessidade de um acompanhamento de sua pressão arterial.
Também por falta de orientação, a dona-de-casa Lourdes Maria Gonçalves, 64, não se preocupava em tomar alguns cuidados em sua alimentação para controlar sua pressão.
Há 15 anos descobriu que era hipertensa, e passou a tomar remédios desde então, com acompanhamento médico."Eu ouvia por aí que não podia comer sal. Então eu parei de comer. Mas sempre gostei de uma fritura e só soube que gordura faz mal há uns três anos, quando passei a me tratar com minha médica atual", diz.
Mas, antes das orientações pós-medições, há ainda problemas na hora da tomada de pressão. Muitas das observações que devem ser seguidas antes de iniciar o procedimento são ignoradas.
Entre os últimos dias 3 e 5, a Folha percorreu postos de saúde estaduais e municipais e hospitais públicos e privados, mas não encontrou nenhum profissional que tenha atendido a todas as normas na hora da medição.
Entre as determinações mais ignoradas estão: certificar-se de que o paciente não praticou exercícios físicos, não ingeriu bebidas alcoólicas ou café e não fumou nos últimos 30 minutos antes da medição; deixar o paciente descansar por cinco minutos antes de medir a pressão; fazer a medição duas vezes, com um intervalo de dois minutos entre elas.
Segundo especialistas, esses procedimentos são importantes para a exatidão do resultado. No entanto, nenhum desses três cuidados foi tomado pelos profissionais dos estabelecimentos visitados pela reportagem.
Detalhe: todos esses procedimentos estavam listados em cartaz na porta da sala de medições de alguns postos de saúde visitados. (PRISCILA LAMBERT)

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