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Quem gemeu, levou mais, diz sobrevivente
Estudante de 22 anos conseguiu fugir dos criminosos e se esconder atrás de um caminhão, de onde viu os assassinatos
Durante velório no Jaraguá, amigos afirmam que praça é ponto de tráfico de drogas, mas dizem que vítimas não tinham envolvimento
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Escondida atrás da caçamba
de um caminhão a cerca de
50m da tragédia, uma jovem
que conseguiu correr dos assassinos conta tudo o que viu.
A estudante Gisele -o nome
é fictício-, 22, dá o seu testemunho no cemitério do Jaraguá, onde estão sendo veladas
três das sete vítimas.
A sobrevivente diz que ela e
os amigos estavam jogando cartas e tomando cerveja na praça
quando uma ruidosa motocicleta apareceu (ou foram duas?
ela não sabe dizer) e jogou o farol sobre eles.
Mesmo sem entender direito
o que estava acontecendo (até
agora, ela não sabe dizer exatamente o que se passou e conta a
história com lacunas), Gisele
correu para baixo do caminhão,
e só ali percebeu que havia sido
acompanhada por outro rapaz,
também sobrevivente.
Usando capacete por cima de
capuzes pretos estilo ninja, o
piloto da moto e seu acompanhante desceram e passaram a
atirar em todas as pessoas do
grupo. Depois de uma rodada
de tiros, eles caminharam entre
os corpos, para se certificar de
que todos estavam mortos.
Nesse momento, Gisele saiu
de trás do caminhão, achando
que tudo já havia terminado.
Ela diz que não sabe até agora
como os assassinos não a perceberam ali tão perto.
Ouviu amigos pedindo socorro e, quando se deu conta de
que os motoqueiros caminhavam com o dedo no gatilho, voltou para trás do caminhão.
O jovem que se escondeu
com Gisele atrás da caçamba
quis sair em socorro dos amigos
que gemiam, mas ela ponderou
dizendo que ele estava louco.
Quem gemeu levou mais tiros dos assassinos, disse ela, até
o silêncio completo.
Os motoqueiros finalmente
deixaram a praça.
Ainda sem conseguir dimensionar o ocorrido, Gisele achava que ou os amigos tinham
corrido ou ainda iriam se levantar. Com exceção de dois agonizantes, estavam todos mortos.
Gisele conta que Pamela, 18,
foi a primeira a ser alvejada. Levou três tiros na cabeça. Carol,
22, ainda falou um pouquinho,
antes de morrer. Chegou a
mostrar os dedos em sinal de
paz e amor, pediu ajuda para levantar-se e disse que não estava
tão mal assim.
No velório dos amigos, todos
concordam que a praça é, sim,
um ponto conhecido de tráfico
e uso de drogas na região. Mas a
unanimidade afirmou também
que nenhum dos jovens mortos
estava envolvido com o tráfico
-nem era usuário.
Então, o que motivou o crime?... Deixa pra lá, ironiza uma
amiga de Gisele. Ela afirma que,
se disser o que acha, amanhã
são quinze mortos.
Outro rapaz emenda um
"véio", e diz que "eles queriam
fazer uma limpa na praça".
Eles quem? Silêncio.
A polícia, dizem todos, chegou "em segundos". Eles colocaram o corpo da Pamela no
camburão, limparam a praça
toda de balas e foram embora.
Na delegacia, perguntaram a
ela se as vítimas "tinham treta
com o pessoal da Arábia". Arábia é uma região conhecida pelo tráfico. Ela conta que os policiais indagaram se os jovens
mortos "eram todos drogados".
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