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Doações de órgãos caem no país pelo 2º ano
Índice nacional era de 7,2 doadores a cada milhão de pessoas em 2004, caiu para 6,3 em 2005 e chegou a 6 em 2006
Taxa é pequena; no Canadá, nos EUA e na Espanha, índice é de, respectivamente, 14, 23 e 35 doadores a cada milhão de pessoas
MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA
Caiu pelo segundo ano consecutivo o número de doadores
de órgãos no Brasil. Dados da
ABTO (Associação Brasileira
de Transplante de Órgãos) obtidos pela Folha revelam que
apenas seis a cada um milhão
de pessoas doaram órgãos no
país no ano de 2006.
Em 2005, o índice nacional
era de 6,3 doadores por milhão
de pessoas, segundo a entidade.
No ano anterior, foi de 7,2.
Para especialistas, fatores
culturais e até religiosos ainda
criam resistência à doação.
Os dados mostram que foi interrompida uma curva ascendente desde 1997, quando foi
criado o SNT (Sistema Nacional de Transplantes). Órgão do
Ministério da Saúde, o SNT regularizou o processo de captação e distribuição de órgãos e
passou a nortear as politicas
públicas de transplantes. Na
ocasião, havia só 2,7 doadores
por milhão de habitantes.
O índice de 2006 frustrou a
expectativa de especialistas. O
objetivo, segundo Valter Duro
Garcia, responsável pelo Registro Brasileiro de Transplantes,
da ABTO, era que o país chegasse, até 2015, perto de taxas
registradas no Canadá e nos
EUA, onde os índices são de 14
e de 23 doadores, respectivamente, por milhão de habitantes. Na Espanha, a taxa é de 35.
No Brasil, cerca de 65 mil
pessoas ainda aguardam por
órgãos ou tecidos para transplante. Foram transplantados
no ano passado 4.668 órgãos.
"Estamos preocupados. Estimamos que hoje, no Brasil, dos
60 pacientes que têm morte
encefálica, apenas 30 são identificados. Desses, seis se tornam doadores", diz Garcia.
Segundo ele, na maioria dos
casos, as famílias resistem a autorizar a doação ou não têm
condições de providenciar a
documentação da morte encefálica e os exames necessários.
No Brasil, ainda que a pessoa
se identifique como doadora, a
captação do órgão só acontece
se o hospital tiver o aval da família (leia texto nesta página).
Os Estados brasileiros vivem
um contraste em relação a doações. Enquanto Santa Catarina,
o melhor do índice, consegue
12,8 doadores a cada milhão de
habitantes, no Maranhão, o índice foi de 0,2 -só uma doação
foi efetivada.
Potenciais doadores são pessoas que fizeram diagnóstico
de morte encefálica e cujos casos foram notificados para centrais estaduais de transplantes.
São Paulo tem o terceiro melhor índice de doadores do país,
atrás de Santa Catarina e do
Rio Grande do Sul (12).
Herança cultural
Para a assistente em administração do Centro de Notificação, Captação e Distribuições
de Órgãos no Maranhão, Renata Rocha, o principal entrave
para o trabalho na região ainda
é a questão cultural.
"Não temos tantos recursos
para fazer campanhas de conscientização. Não faz muito
tempo, uma senhora se negou a
autorizar a doação dizendo que
não queria que o parente fosse
incompleto para o céu."
Em Sergipe, a família proibiu
a retirada dos órgãos em 51,4%
dos casos, no Piauí, em 45,1% e,
no Maranhão, em 42,3%.
Em seis estados, houve registros de doações não autorizadas porque a infra-estrutura do
hospital foi considerada inadequada -Goiás, Espírito Santo,
Maranhão, Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul.
A presidente da ABTO, a nefrologista Maria Cristina Ribeiro de Castro, diz que contribui
para esse quadro o precário
funcionamento das comissões
intra-hospitalares de doação e
transplante, obrigatórias em
hospitais com mais de 80 leitos.
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