São Paulo, Sábado, 08 de Maio de 1999
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CRIME
Auxiliar de enfermagem confessa que matou 5 doentes terminais por dó; polícia investiga conexão com funerárias
Auxiliar diz que matava em hospital do Rio

CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio

O auxiliar de enfermagem Edson Izidoro Guimarães, 42, confessou ontem ter matado cinco pacientes na UPT (Unidade de Pacientes Traumáticos) do Hospital Salgado Filho (no Méier, zona norte do Rio). Ele está preso.
Os cinco, de acordo com o auxiliar de enfermagem, foram mortos ou com injeções de cloreto de potássio ou com o desligamento de aparelhos.
A polícia investiga a possibilidade de Guimarães ter matado ao todo mais de cem pacientes em seus plantões e de estar envolvido em um esquema com agências funerárias, que pagariam quando são avisadas da existência de um cadáver nos hospitais.
O próprio acusado disse ser prática comum no hospital funcionários avisarem as funerárias quando ocorrem mortes.
"Eles pagam entre R$ 80 e R$ 100 para cada vez que avisamos. Quando é morte por acidente de trânsito, pagam entre R$ 800 e R$ 1.000", afirmou.
Em entrevista ontem à tarde na sede da Secretaria de Segurança Pública, Guimarães disse que, nos casos em que matou os pacientes, não avisou as funerárias.
Pouco depois, no entanto, caiu em contradição e afirmou que matava "por pena e por meio financeiro".
"Os pacientes sofriam e eu amenizava o sofrimento das famílias. Eu escolhia por ver sofrendo, em coma. Escolhia quem não tinha outro meio de sobrevivência. Não me arrependo. Eles não tinham recuperação", disse Guimarães, falando de forma segura e sem demonstrar nervosismo.
A polícia chegou a Guimarães a partir de denúncia de uma auxiliar de limpeza do hospital, identificada apenas como Cátia. Anteontem à tarde, a auxiliar procurou o diretor do hospital, Flávio Adolpho Silveira, dizendo que iria abandonar o trabalho porque "coisas ruins" estavam acontecendo lá.
Na conversa, ela contou que pacientes estavam sendo mortos por funcionários do hospital. Disse ter visto Guimarães aplicando um injeção em um paciente, que morreu logo em seguida.
A partir daí, a Secretaria de Segurança Pública foi acionada. Ontem de manhã, policiais civis foram ao hospital, e prenderam Guimarães na UPT. De acordo com a delegada Marta Cavaliéri, ao ouvir dos policiais que eles já sabiam de tudo, ele confessou ser o responsável por cinco mortes.
Em seu depoimento à polícia, o auxiliar de enfermagem contou que, em alguns casos, desligou o aparelho respiratório do paciente. Segundo a delegada, Guimarães afirmou que desligava o aparelho e, depois que o paciente morria, ligava novamente. Só então chamava o médico responsável.
Quando a vítima não estava ligada ao aparelho respiratório, o auxiliar de enfermagem recorria à injeção de cloreto de potássio.
De acordo com o secretário de Segurança Pública do Rio, Josias Quintal, será feito um levantamento de todas as mortes ocorridas no hospital nos últimos sete anos -período em que Guimarães trabalhou naquele estabelecimento.
O secretário reconhece, no entanto, que será muito difícil comprovar a culpa do auxiliar de enfermagem em outras mortes.
"O cloreto de potássio não deixa marcas. Se o sangue é retirado no momento seguinte à morte, é possível detectá-lo, mas em pouco tempo ele desaparece", disse.
Para o secretário de Segurança, o auxiliar de enfermagem deve ter "perdido o controle". "Ele deve ter começado a avisar as funerárias para ganhar dinheiro e acabou se envolvendo dessa maneira", disse.
As declarações de Guimarães sobre o envolvimento de funcionários dos hospitais com agências funerárias poderão levar a uma grande devassa nos hospitais do Rio.
"Deve haver mais gente envolvida com as funerárias. Essa história pode ser o fio de uma meada", afirmou Josias Quintal.


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