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CRIME
Auxiliar de enfermagem confessa que matou 5 doentes terminais por dó; polícia investiga conexão com funerárias
Auxiliar diz que matava em hospital do Rio
CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio
O auxiliar de enfermagem Edson
Izidoro Guimarães, 42, confessou
ontem ter matado cinco pacientes
na UPT (Unidade de Pacientes
Traumáticos) do Hospital Salgado
Filho (no Méier, zona norte do
Rio). Ele está preso.
Os cinco, de acordo com o auxiliar de enfermagem, foram mortos
ou com injeções de cloreto de potássio ou com o desligamento de
aparelhos.
A polícia investiga a possibilidade de Guimarães ter matado ao todo mais de cem pacientes em seus
plantões e de estar envolvido em
um esquema com agências funerárias, que pagariam quando são avisadas da existência de um cadáver
nos hospitais.
O próprio acusado disse ser prática comum no hospital funcionários avisarem as funerárias quando ocorrem mortes.
"Eles pagam entre R$ 80 e R$ 100
para cada vez que avisamos. Quando é morte por acidente de trânsito, pagam entre R$ 800 e R$ 1.000",
afirmou.
Em entrevista ontem à tarde na
sede da Secretaria de Segurança
Pública, Guimarães disse que, nos
casos em que matou os pacientes,
não avisou as funerárias.
Pouco depois, no entanto, caiu
em contradição e afirmou que matava "por pena e por meio financeiro".
"Os pacientes sofriam e eu amenizava o sofrimento das famílias.
Eu escolhia por ver sofrendo, em
coma. Escolhia quem não tinha
outro meio de sobrevivência. Não
me arrependo. Eles não tinham recuperação", disse Guimarães, falando de forma segura e sem demonstrar nervosismo.
A polícia chegou a Guimarães a
partir de denúncia de uma auxiliar
de limpeza do hospital, identificada apenas como Cátia. Anteontem
à tarde, a auxiliar procurou o diretor do hospital, Flávio Adolpho Silveira, dizendo que iria abandonar
o trabalho porque "coisas ruins"
estavam acontecendo lá.
Na conversa, ela contou que pacientes estavam sendo mortos por
funcionários do hospital. Disse ter
visto Guimarães aplicando um injeção em um paciente, que morreu
logo em seguida.
A partir daí, a Secretaria de Segurança Pública foi acionada. Ontem
de manhã, policiais civis foram ao
hospital, e prenderam Guimarães
na UPT. De acordo com a delegada
Marta Cavaliéri, ao ouvir dos policiais que eles já sabiam de tudo, ele
confessou ser o responsável por
cinco mortes.
Em seu depoimento à polícia, o
auxiliar de enfermagem contou
que, em alguns casos, desligou o
aparelho respiratório do paciente.
Segundo a delegada, Guimarães
afirmou que desligava o aparelho
e, depois que o paciente morria, ligava novamente. Só então chamava o médico responsável.
Quando a vítima não estava ligada ao aparelho respiratório, o auxiliar de enfermagem recorria à injeção de cloreto de potássio.
De acordo com o secretário de
Segurança Pública do Rio, Josias
Quintal, será feito um levantamento de todas as mortes ocorridas no
hospital nos últimos sete anos
-período em que Guimarães trabalhou naquele estabelecimento.
O secretário reconhece, no entanto, que será muito difícil comprovar a culpa do auxiliar de enfermagem em outras mortes.
"O cloreto de potássio não deixa
marcas. Se o sangue é retirado no
momento seguinte à morte, é possível detectá-lo, mas em pouco
tempo ele desaparece", disse.
Para o secretário de Segurança, o
auxiliar de enfermagem deve ter
"perdido o controle". "Ele deve ter
começado a avisar as funerárias
para ganhar dinheiro e acabou se
envolvendo dessa maneira", disse.
As declarações de Guimarães sobre o envolvimento de funcionários dos hospitais com agências funerárias poderão levar a uma grande devassa nos hospitais do Rio.
"Deve haver mais gente envolvida com as funerárias. Essa história
pode ser o fio de uma meada", afirmou Josias Quintal.
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