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PLÁSTICA DIVINA
Artista cria imagem de um Jesus vitorioso e 'social', com traços de negro, índio, oriental
Brasileiro desenha o Cristo do 3º milênio
AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local
Um artista plástico brasileiro está criando a imagem do Cristo que
o Vaticano usará em suas publicações dedicadas ao terceiro milênio. Em lugar do Cristo abatido e
de rosto marcado pelo sangue, o
Cristo do ano 2000 terá semblante
sereno e expressão de pantocrátor,
o Senhor do Universo.
Cláudio Pastro, 48, considerado
o mais importante artista sacro
brasileiro, foi convidado pelo Vaticano no ano passado. A imagem
do "novo" Cristo deverá ser definida até o ano que vem e passará a
ser divulgada pelo Vaticano em
1999, nas comemorações que marcam o início do terceiro milênio.
No convite que fez a Pastro, o
bispo Cipriano Calderon -da Comissão Pró-América Latina do Vaticano- pede a ele que "confeccione uma imagem ou escultura de
Jesus Cristo Evangelizador".
"Penso que você é o artista latino-americano mais indicado."
Na sexta-feira, um membro da
comissão no Vaticano informou
que Pastro foi escolhido pelas características de seu trabalho. O
Cristo que o artista brasileiro vem
desenhando há 20 anos resgata os
traços do Cristo pintado no primeiro milênio e até hoje cultuado
pela Igreja Católica Oriental.
"É um Cristo de tez morena, o
rosto ovalado, lembrando uma
azeitona, os cabelos longos com
pequenos cachos, o bigode fino e
uma barba estreita", afirma Pastro. São os traços dos semitas, povo ao qual pertencia Jesus.
A pedido do Vaticano, o "novo"
Cristo terá o livro do Evangelho na
mão esquerda enquanto abençoa
com a mão direita. As "cinco chagas gloriosas" -simbolizadas por
pequenos pontos nas mãos, nos
pés e no lado esquerdo do peito-
representam o sofrimento pelo
qual Jesus passou.
Essa imagem está presente em
muitas das 169 igrejas que Pastro
pintou no Brasil e em vários países
da Europa. A imagem definitiva
que será enviada ao Vaticano ainda está sendo desenhada por Pastro em seu ateliê, que é ao mesmo
tempo casa e capela, nos arredores
de Itapecerica da Serra, na Grande
São Paulo. "A imagem que venho
buscando é a de um homem universal, com traços orientais, do
negro, do branco, do índio", diz.
O Cristo pantocrátor, Senhor do
Universo, nada tem a ver com as
imagens que surgiram com o Renascimento e que eram pintadas
por artistas que nada tinham a ver
com a igreja, afirma Pastro. É
oposta aos Cristos dos artistas
protestantes do século 16, de semblante desesperado e sofredor. Essa imagem prevaleceu no barroco
e acabou adotada pelos artistas sacros brasileiros.
"O fiel aprende muito mais 'namorando' uma pintura de Cristo
do que ouvindo sermões", afirma
Pastro. "Mas, se o Cristo é uma
imagem de sofrimento, a tendência é que o fiel se identifique com
esse sofrimento e se resigne a ele.
Diante de um Cristo vitorioso, ele
saberá que depois do sofrimento
virá a vitória."
Pastro diz que com o Concílio
Vaticano 2º a preocupação da igreja restringiu-se à questão social,
deixando de lado a religiosidade
do próprio clero. "Nos últimos 30
anos, a arte sacra deixou de constar no currículo dos seminários",
afirma. A preocupação atual da
igreja, segundo uma das cartas de
João Paulo 2º, é que a imagem de
um "Cristo Evangelizador" seja
resgatada no terceiro milênio.
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