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São Paulo, domingo, 08 de junho de 2003

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Cada docente é responsável por até quatro disciplinas, mesmo sem formação em todas as matérias

TV é "auxiliar" de professor no Ceará

KAMILA FERNANDES
EDUARDO DE OLIVEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA

É em condições precárias que alunos de escolas estaduais cursam o ensino médio. No Ceará, lidam com o improviso de professores sem formação específica para as disciplinas. No Rio Grande do Norte não é muito diferente -um professor formado em educação física dá aulas de biologia, geografia e química.
As teleaulas são a principal fonte de informação e servem de apoio para exercícios e orientação dos professores de 278.205 alunos do Ceará, segundo o Censo Escolar de 2002. O telensino existe no Estado desde 1974, quando foi adotado como sistema emergencial para atender locais do interior onde não havia professores suficientes. O método, porém, foi expandido para toda a rede estadual em 1994.
Cada professor pode ser responsável por até quatro disciplinas: na área de Linguagens e Códigos, ensina português, inglês e artes; na de Matemática e Ciências, ensina matemática, biologia, física e química; na de Cultura e Sociedade, leciona história, geografia e religião. O problema é que o acúmulo de disciplinas nem sempre coincide com os conhecimentos do docente.
Tânia Sabóia, professora de uma turma da 7ª série, tem formação em pedagogia e cuida da parte de Linguagens. "Tenho dificuldade em dar a aula de inglês e acabo ficando muito dependente do dicionário. O problema maior é a pronúncia."
Com Ana Paula Ferreira da Silva acontece o contrário. Ela também é formada em pedagogia e tem fluência em inglês, mas dá aulas de matemática. "Traduzo as apostilas para as outras professoras. Uma ajuda a outra."
Nas salas de aula, algumas com até 46 alunos, cada teleaula, transmitida pela estatal TVC, dura 15 minutos.
Além dos livros didáticos, os estudantes recebem manuais do telensino, geralmente insuficientes para o número de alunos, que têm de sentar em grupo para poder acompanhar as aulas. "Falta concentração para muitos estudantes", avalia a diretora de escola Luiza Holanda Monte.

"Noção básica"
O Rio Grande do Norte tem hoje um déficit de 984 professores na rede estadual de ensino. Há 77 vagas em 26 municípios para os quais não há interessados. É o caso da escola estadual Olímpio Teixeira, em São Miguel do Gostoso (106 km de Natal), que tem cerca de 400 alunos.
Lá, faltam quatro professores para dar aulas de física, química, matemática e inglês, e a escola se vira com o que tem à mão.
Formado em educação física, Luiz Eduardo de Alvarenga Quarentei hoje dá aulas de biologia, geografia e química para alunos do primeiro ano do ensino médio. "Como não tenho formação específica para essas áreas, o andamento da aula é um pouco mais lento. As aulas que dou são apenas sobre noção básica", avisa.
A secretária estadual da Educação, Maria do Rosário de Fátima Carvalho, diz que não se trata do único caso no Estado. "No Brasil inteiro tem esse tipo de situação", afirma.


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