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São Paulo, domingo, 08 de junho de 2003

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SAÚDE

Causa de dor de cabeça pode estar na boca

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Consultas a clínicos-gerais e otorrinolaringologistas, realização de vários exames e três anos sofrendo de intensas dores de cabeça e pressão na face e no pescoço até ter o problema resolvido por um dentista.
A experiência, nesse caso vivida pela estudante Adriana Machado Marques, 21, é compartilhada, em menor ou maior grau, por grande parte da população brasileira -especialmente as mulheres-, que sofre de problemas nas articulações que ligam o osso da mandíbula à cabeça, as ATMs.
E o que é mais sério: nem sempre essas pessoas sabem que a causa da dor está na boca.
A articulação da mandíbula é responsável por todas as funções que necessitam de abertura da boca, como fala, mastigação e bocejo. Se essa articulação não funcionar adequadamente, podem ocorrer sensação de pressão na região dos ouvidos ou queixo, dores de cabeça, dificuldade em abrir a boca ou ao mastigar alimentos, cansaço na face ao acordar e estalos ao abrir a boca.
"As pessoas não imaginam que uma dor cervical ou nos ombros possa ter relação com os dentes. Fazem verdadeiras peregrinações em consultórios médicos, mas não tratam a causa", diz o cirurgião-dentista Daldy Endo Marques, especializado em DCM (desordens crânio-mandibulares).
Segundo ele, a causa principal dessas desordens é a falta de dentes na boca. A perda de um só dente já pode provocar uma alteração nas articulações da mandíbula, afirma Marques.
Nesses casos, é fundamental que haja a reposição dentária para que a mordida seja feita de forma correta e a articulação não seja prejudicada, afirma a ortodontista Nerly Maria Juliano.
O uso de dentaduras malfeitas, o bruxismo -ato de ranger os dentes durante o sono-, os traumas, as malocusões- encaixe errado dos dentes- são outros problemas que levam às desordens nas ATMs.
A estudante Adriana Marques reunia dois desses problemas- maloclusão e bruxismo-, mas nenhum dos médicos que consultou chegou a relacioná-los com a dor de cabeça que a atormentava desde os 15 anos. "Era horrível. Uma pressão constante na cabeça e na face", diz.
Há três anos, depois de colocar na boca um aparelho ortodôntico e uma placa de resina acrílica para adequar a posição do queixo e do disco articular, ela conseguiu se livrar das dores.
Porém nem sempre a colocação de um aparelho ortodôntico é a solução para o problema, especialmente quando ele está mais ajustado, afirma o cirurgião-dentista José Tadeu Siqueira.
É o caso da operadora de telemarketing Sandra Araújo da Silva Vieira, 25, que sentia dores de cabeça desde a adolescência, relacionadas à uma maloclusão grave-havia uma distância de dois dedos entre os seus dentes superiores e inferiores.
Aos 17 anos, após usar um aparelho ortodôntico para a correção dentária, ela viu suas dores aumentarem ainda mais. "Pensava que tinha um tumor", lembra. A dor desapareceu após trocar de dentista e corrigir o tratamento.
Por ser um problema multifatorial, o tratamento dos distúrbios da ATM, especialmente os casos crônicos, envolve atuação conjunta de dentista, fonoaudiólogo, fisioterapeuta e de psicólogo.
O dentista reposiciona a mandíbula e, quando a musculatura da face volta a funcionar adequadamente, refaz restaurações ou modifica a posição dos dentes, se necessário, com o uso de aparelhos móveis ou fixos.
Segundo a fonoaudióloga Esther Bianchini, chefe do setor de distúrbios da ATM do Cefac (Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica), o trabalho fonoaudiológico é complementar a outros tratamentos da ATM e busca adequar a função dos músculos e da movimentação da mandíbula durante a fala, mastigação, deglutição e postura habitual da boca e mandíbula.
O profissional também realiza terapia para a redução da dor, controle funcional e mudança dos maus hábitos, como apertar os dentes ou a musculatura da boca, roer unhas, morder caneta, pressionar a língua contra os dentes, entre outros. O fisioterapeuta atua no equilíbrio dos grupos musculares que sustentam a postura correta do corpo.


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