São Paulo, segunda-feira, 08 de julho de 2002

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VIOLÊNCIA

Cerca de 150 pessoas estiveram no cemitério, onde foi realizado um ato ecumênico em memória do jornalista

Tim Lopes é sepultado sob aplausos no Rio

RAFAEL CARIELLO
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

Os restos mortais do jornalista Tim Lopes foram enterrados ontem no cemitério Jardim da Saudade (zona oeste do Rio). Cerca de 150 pessoas foram ao cemitério, onde houve um ato ecumênico em memória do jornalista.
A 100 m da sepultura, o corpo do soldado da Polícia Militar José Egídio de Souza Júnior, 25, era enterrado. No momento em que o frei Davi Raimundo dos Santos, amigo da família, falava sobre Lopes, ouviram-se tiros em homenagem ao soldado.
A emoção tomou conta dos presentes quando Ângelo Lourenço, 16, que ficou amigo do repórter depois de ser tema de uma reportagem na TV Globo, interpretou a "Canção da América", de Milton Nascimento e Fernando Brant.
Foi com salvas de palmas que as pessoas se despediram do jornalista. No ato ecumênico, falaram o frei, o presidente do Sindicato dos Jornalistas RJ, Elias Nacif, e os jornalistas Alexandre Medeiros e Roni Lima, amigos de Lopes.
A governadora do Rio, Benedita da Silva, o secretário de Segurança, Roberto Aguiar, o chefe de Polícia Civil, Zaqueu Teixeira, e o comandante da PM, Francisco Braz, estiveram no velório do soldado e assistiram ao enterro de Lopes.

Crime
Repórter da Globo, Lopes foi morto no dia 2 de junho na favela da Grota (zona norte), depois de ser capturado por traficantes da vizinha favela Vila Cruzeiro, quando fazia reportagem sobre um baile funk.
De acordo com a polícia, Lopes foi torturado, "julgado" e morto. Seu corpo foi esquartejado e queimado pelos criminosos comandados pelo traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, foragido. Quatro acusados já foram presos.
Os restos mortais de Lopes foram identificados por exame de DNA divulgado na sexta-feira.

Velório
O jornalista foi velado das 9h às 14h30 na Assembléia Legislativa. A viúva Alessandra Wagner e familiares ficaram protegidos por um cordão de isolamento.
O prefeito Cesar Maia (PFL) foi dos primeiros a chegar, às 9h10. Outros políticos estiveram presentes, como o presidente da Assembléia, Sérgio Cabral Filho (PMDB), o senador Artur da Távola (PSDB-RJ), os deputados federais Jandira Feghali (PC do B-RJ) e Miro Teixeira (PDT-RJ) e os deputados estaduais Carlos Minc (PT) e Chico Alencar (PT).
A Assembléia divulgou nota exigindo "a imediata prisão dos integrantes da quadrilha que perpetrou tão hediondo crime".
A ex-mulher de Lopes, Sandra Quintella, chegou ao velório às 9h35. Chorando, se debruçou sobre o caixão para beijá-lo.
Do lado de fora, Lopes e outras vítimas da violência foram lembrados em faixas e cartazes. Adélia Isabel Reis, mãe da estudante de jornalismo Lisângela Reis Moura, 26, disse que o velório "foi a chance que encontrou" para tentar achar a filha, desaparecida desde janeiro.
A mãe do jornalista, Maria do Carmo Lopes do Nascimento, chegou ao velório às 12h45, amparada pelas filhas Maria Inês e Clea Eunice. Debruçada sobre o caixão, depositou flores e chorou. Protegida pelo cordão de segurança, foi consolada por familiares e por frei Davi, que criticou a falta de políticas públicas para resolver os problemas da injustiça social e da segurança no país. "A passagem do Tim por essa Casa levará todos os que foram deputados nos últimos 20 anos a pensarem na sua co-responsabilidade pela morte dele."
O trajeto de cerca de 40 km entre a Assembléia e o cemitério foi marcado pelo aparato policial. Na avenida Brasil (ligação entre as zonas norte e oeste), havia um carro da PM sob cada passarela.


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