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VIOLÊNCIA
Cerca de 150 pessoas estiveram no cemitério, onde foi realizado um ato ecumênico em memória do jornalista
Tim Lopes é sepultado sob aplausos no Rio
RAFAEL CARIELLO
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO
Os restos mortais do jornalista
Tim Lopes foram enterrados ontem no cemitério Jardim da Saudade (zona oeste do Rio). Cerca
de 150 pessoas foram ao cemitério, onde houve um ato ecumênico em memória do jornalista.
A 100 m da sepultura, o corpo
do soldado da Polícia Militar José
Egídio de Souza Júnior, 25, era enterrado. No momento em que o
frei Davi Raimundo dos Santos,
amigo da família, falava sobre Lopes, ouviram-se tiros em homenagem ao soldado.
A emoção tomou conta dos presentes quando Ângelo Lourenço,
16, que ficou amigo do repórter
depois de ser tema de uma reportagem na TV Globo, interpretou a
"Canção da América", de Milton
Nascimento e Fernando Brant.
Foi com salvas de palmas que as
pessoas se despediram do jornalista. No ato ecumênico, falaram o
frei, o presidente do Sindicato dos
Jornalistas RJ, Elias Nacif, e os jornalistas Alexandre Medeiros e
Roni Lima, amigos de Lopes.
A governadora do Rio, Benedita
da Silva, o secretário de Segurança, Roberto Aguiar, o chefe de Polícia Civil, Zaqueu Teixeira, e o comandante da PM, Francisco Braz,
estiveram no velório do soldado e
assistiram ao enterro de Lopes.
Crime
Repórter da Globo, Lopes foi
morto no dia 2 de junho na favela
da Grota (zona norte), depois de
ser capturado por traficantes da
vizinha favela Vila Cruzeiro,
quando fazia reportagem sobre
um baile funk.
De acordo com a polícia, Lopes
foi torturado, "julgado" e morto.
Seu corpo foi esquartejado e queimado pelos criminosos comandados pelo traficante Elias Pereira
da Silva, o Elias Maluco, foragido.
Quatro acusados já foram presos.
Os restos mortais de Lopes foram identificados por exame de
DNA divulgado na sexta-feira.
Velório
O jornalista foi velado das 9h às
14h30 na Assembléia Legislativa.
A viúva Alessandra Wagner e familiares ficaram protegidos por
um cordão de isolamento.
O prefeito Cesar Maia (PFL) foi
dos primeiros a chegar, às 9h10.
Outros políticos estiveram presentes, como o presidente da Assembléia, Sérgio Cabral Filho
(PMDB), o senador Artur da Távola (PSDB-RJ), os deputados federais Jandira Feghali (PC do B-RJ) e Miro Teixeira (PDT-RJ) e os
deputados estaduais Carlos Minc
(PT) e Chico Alencar (PT).
A Assembléia divulgou nota
exigindo "a imediata prisão dos
integrantes da quadrilha que perpetrou tão hediondo crime".
A ex-mulher de Lopes, Sandra
Quintella, chegou ao velório às
9h35. Chorando, se debruçou sobre o caixão para beijá-lo.
Do lado de fora, Lopes e outras
vítimas da violência foram lembrados em faixas e cartazes. Adélia Isabel Reis, mãe da estudante
de jornalismo Lisângela Reis
Moura, 26, disse que o velório "foi
a chance que encontrou" para
tentar achar a filha, desaparecida
desde janeiro.
A mãe do jornalista, Maria do
Carmo Lopes do Nascimento,
chegou ao velório às 12h45, amparada pelas filhas Maria Inês e Clea
Eunice. Debruçada sobre o caixão, depositou flores e chorou.
Protegida pelo cordão de segurança, foi consolada por familiares e por frei Davi, que criticou a
falta de políticas públicas para resolver os problemas da injustiça
social e da segurança no país. "A
passagem do Tim por essa Casa
levará todos os que foram deputados nos últimos 20 anos a pensarem na sua co-responsabilidade
pela morte dele."
O trajeto de cerca de 40 km entre a Assembléia e o cemitério foi
marcado pelo aparato policial. Na
avenida Brasil (ligação entre as
zonas norte e oeste), havia um
carro da PM sob cada passarela.
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