São Paulo, domingo, 08 de julho de 2007

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Ministros driblam crise aérea em viagens nas aeronaves da FAB

Uso de aviões da força aérea por autoridades do primeiro escalão aumentou 20% nos últimos nove meses

Número de vôos foi de 982, nos 9 meses anteriores ao acidente da Gol, para 1.178, nos 9 posteriores, mesmo com atrasos nos aeroportos

LETÍCIA SANDER
PEDRO DIAS LEITE

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os ministros do governo Lula passaram a viajar mais em aeronaves da Força Aérea Brasileira desde que teve início a crise do setor aéreo, com a queda do Boeing da Gol em 29 de setembro de 2006. Dados da FAB mostram que o uso de aeronaves oficiais por autoridades do primeiro escalão aumentou 20% nos últimos nove meses, em comparação com os nove meses anteriores ao caos aéreo.
De janeiro a setembro de 2006, as aeronaves disponíveis para os ministros percorreram 982 trechos (idas ou voltas). Nos nove meses posteriores à tragédia, o número de trechos voados com a FAB subiu para 1.178, justamente no período de caos, filas e atrasos nos aeroportos de todo o país.
Quando viajam em aviões da FAB, os ministros "driblam" o caos aéreo, pois não estão sujeitos às filas e esperas nos aeroportos, rotina dos passageiros de aviões comerciais nos últimos meses. Além disso, as aeronaves da FAB que transportam ministros podem pedir prioridade em pousos e decolagens.
A Folha teve acesso a um levantamento do número de trechos voados em aeronaves oficiais nos últimos dois anos. A FAB não revelou os nomes dos ministros que utilizaram os aviões, nem o motivo dos deslocamentos.
Os dados mostram que em novembro e dezembro de 2006, meses bastante turbulentos da crise, as aeronaves da FAB voaram 257 trechos para transportar ministros. Já em novembro e dezembro de 2005, foram apenas 86 trechos.
Em fevereiro, março e abril deste ano, outros meses com muitos atrasos nos aeroportos do país, os ministros voaram 398 trechos com a força aérea. Nesses meses, em 2006, foram 364 trechos em aeronaves da FAB. Setembro de 2005 foi o mês em que os ministros mais voaram em aeronaves oficiais nestes últimos dois anos: foram 174 trechos.
Quando viajam a trabalho, os ministros têm duas opções: ou voam de avião de carreira, com a passagem paga pelo governo, ou requisitam uma das dez aeronaves da FAB disponíveis para este fim.
O uso das aeronaves é regulamentado por um decreto assinado em 2002 pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Os aviões podem ser usados em viagens a serviço, por motivo de segurança ou emergência médica e para deslocamentos para a cidade onde a autoridade tem residência permanente.
Nos últimos meses, dois ministros do governo deram declarações minimizando os problemas enfrentados pelos passageiros de linhas comerciais. Questionada sobre qual conselho daria a quem enfrenta problemas nos aeroportos, a ministra do Turismo, Marta Suplicy, sugeriu aos passageiros "relaxar e gozar". Em nota, divulgada no mesmo dia, ela teve de se desculpar da frase que reconheceu ter sido "infeliz".
Já o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que os repetidos atrasos nos aeroportos são reflexo "um pouco do preço do sucesso" e da "prosperidade" da economia brasileira.
As duas declarações provocaram a ira dos brasileiros que enfrentavam filas e caos nos aeroportos. Nas últimas semanas, voltaram a se repetir as imagens de imensas filas em saguões lotados, pessoas dormindo espalhadas em corredores, transtornadas por não conseguirem chegar a seus destinos, e passageiros revoltados discutindo aos gritos com funcionários, também estressados, de companhias aéreas.
A repercussão negativa dos comentários fez com que o presidente Lula determinasse que apenas a Aeronáutica deve se pronunciar sobre a crise, em uma espécie de "cala-boca" aos demais ministros.


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