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Ministros driblam crise aérea em viagens nas aeronaves da FAB
Uso de aviões da força aérea por autoridades do primeiro escalão aumentou 20% nos últimos nove meses
Número de vôos foi de 982,
nos 9 meses anteriores ao
acidente da Gol, para 1.178,
nos 9 posteriores, mesmo
com atrasos nos aeroportos
LETÍCIA SANDER
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os ministros do governo Lula
passaram a viajar mais em aeronaves da Força Aérea Brasileira desde que teve início a crise do setor aéreo, com a queda
do Boeing da Gol em 29 de setembro de 2006. Dados da FAB
mostram que o uso de aeronaves oficiais por autoridades do
primeiro escalão aumentou
20% nos últimos nove meses,
em comparação com os nove
meses anteriores ao caos aéreo.
De janeiro a setembro de
2006, as aeronaves disponíveis
para os ministros percorreram
982 trechos (idas ou voltas).
Nos nove meses posteriores à
tragédia, o número de trechos
voados com a FAB subiu para
1.178, justamente no período de
caos, filas e atrasos nos aeroportos de todo o país.
Quando viajam em aviões da
FAB, os ministros "driblam" o
caos aéreo, pois não estão sujeitos às filas e esperas nos aeroportos, rotina dos passageiros
de aviões comerciais nos últimos meses. Além disso, as aeronaves da FAB que transportam
ministros podem pedir prioridade em pousos e decolagens.
A Folha teve acesso a um levantamento do número de trechos voados em aeronaves oficiais nos últimos dois anos. A
FAB não revelou os nomes dos
ministros que utilizaram os
aviões, nem o motivo dos deslocamentos.
Os dados mostram que em
novembro e dezembro de
2006, meses bastante turbulentos da crise, as aeronaves da
FAB voaram 257 trechos para
transportar ministros. Já em
novembro e dezembro de
2005, foram apenas 86 trechos.
Em fevereiro, março e abril
deste ano, outros meses com
muitos atrasos nos aeroportos
do país, os ministros voaram
398 trechos com a força aérea.
Nesses meses, em 2006, foram
364 trechos em aeronaves da
FAB. Setembro de 2005 foi o
mês em que os ministros mais
voaram em aeronaves oficiais
nestes últimos dois anos: foram 174 trechos.
Quando viajam a trabalho, os
ministros têm duas opções: ou
voam de avião de carreira, com
a passagem paga pelo governo,
ou requisitam uma das dez aeronaves da FAB disponíveis para este fim.
O uso das aeronaves é regulamentado por um decreto assinado em 2002 pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Os aviões podem ser usados em viagens a serviço, por
motivo de segurança ou emergência médica e para deslocamentos para a cidade onde a
autoridade tem residência permanente.
Nos últimos meses, dois ministros do governo deram declarações minimizando os problemas enfrentados pelos passageiros de linhas comerciais.
Questionada sobre qual conselho daria a quem enfrenta problemas nos aeroportos, a ministra do Turismo, Marta Suplicy, sugeriu aos passageiros
"relaxar e gozar". Em nota, divulgada no mesmo dia, ela teve
de se desculpar da frase que reconheceu ter sido "infeliz".
Já o ministro da Fazenda,
Guido Mantega, afirmou que
os repetidos atrasos nos aeroportos são reflexo "um pouco
do preço do sucesso" e da
"prosperidade" da economia
brasileira.
As duas declarações provocaram a ira dos brasileiros que
enfrentavam filas e caos nos
aeroportos. Nas últimas semanas, voltaram a se repetir as
imagens de imensas filas em
saguões lotados, pessoas dormindo espalhadas em corredores, transtornadas por não conseguirem chegar a seus destinos, e passageiros revoltados
discutindo aos gritos com funcionários, também estressados,
de companhias aéreas.
A repercussão negativa dos
comentários fez com que o presidente Lula determinasse que
apenas a Aeronáutica deve se
pronunciar sobre a crise, em
uma espécie de "cala-boca" aos
demais ministros.
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