São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2004

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QUALIDADE DE VIDA

Pequenas áreas atenuam carência de verde na cidade; parceria com empresas garante conservação

Praças de bairro são "lazer de interior" em SP

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Nos últimos dois anos, a produtora de vídeo Isabel Rodrigues Sassano, 29, encara quase todos os dias uma doce rotina com os filhos Lucas, 9, e Gabriel, 3. Saem de casa em Perdizes (zona oeste de São Paulo) e vão passar momentos de curtição na praça que fica em cima do reservatório de água do Araçá, no mesmo bairro.
As crianças brincam, correm, fazem novos amigos e rolam na grama com a mãe. "Sei de gente que vem aqui na hora do almoço só para ficar por 15 minutos e desestressar", diz, deitada sob o sol.
Ao fundo, as antenas de TV lembram que a cena, por mais bucólica que seja, se passa na cidade de São Paulo. Mostra também que, nos bairros, as praças assumem funções de playground, distração para idosos, refúgio de namorados e ponto de encontro.
Transformam-se numa alternativa de lazer que dá à maior metrópole do país um ar de interior.
A Folha passou por 128 praças nas cinco regiões da capital e listou 15 boas alternativas (veja quadro ao lado).
"Ir todos os dias à mesma praça, sentar no mesmo banco, sentir o cheiro das mesmas flores e admirar o mesmo jardim não tem nada de monótono", diz a professora Joyce Arruda, 50, que anda diariamente na praça do Coreto, no Rio Pequeno (zona oeste).

Envolvimento local
Bem cuidadas, muitas das praças de áreas nobres da cidade são alvo de convênios de manutenção entre a prefeitura e entidades de bairro, escolas ou empresas.
"O envolvimento da comunidade também é fundamental", diz Carlos Afonso, 31, supervisor de Administração de Clubes e Distritos do Rotary Internacional do Brasil. A entidade adota muitas praças e, segundo Afonso, a razão é simples. Elas unem duas esferas de preocupação da entidade: a ambiental e a de serviços.
É a iniciativa privada que cuida das praças Pereira Coutinho, na Vila Nova Conceição, e General Enéias Martins Nogueira, no Brooklin Novo (zona sul). Na primeira, o convênio é com o Instituto Unibanco; na segunda, diversas empresas equiparam a praça.
"Venho sempre aqui porque é um oásis. Quando posso, trago até trabalho. Sento na sombra, compro água gelada e confiro as planilhas", diz a contadora Maria Lúcia Monteiro, 30, na praça General Enéias Martins Nogueira.

Quem não tem cão...
Mas as praças não deveriam ser um substituto dos parques urbanos (como o Ibirapuera), adverte a arquiteta e paisagista Rosa Grena Kliass. Como espaços abertos, elas contribuem para conferir caráter aos centros urbanos, mas, no fundo, têm a mesma função das vias públicas: circulação e acesso às áreas construídas. Têm também um aspecto social, de ante-sala para prédios importantes -a praça do mercado, do teatro.
Na prática, porém, acabam suprindo mesmo uma carência de áreas verdes de lazer, como ocorre na zona leste da cidade, que tem o menor índice per capita de árvores da cidade. Praças como a José Giudice (Tatuapé) contribuem para amenizar a temperatura da região, alta pela concentração de concreto e asfalto.
Outras, como a Dr. Sampaio Vidal (Vila Formosa, zona leste), Oscar da Silva (Vila Guilherme, zona norte), General Milton Tavares de Souza (Parque Novo Mundo, zona norte) e Largo Coração de Jesus (Campos Elíseos, centro), viraram o principal local de diversão, com pistas de skate, brinquedos, mesas para jogos de tabuleiro e campos de futebol.
"Numa cidade como São Paulo, você precisa ter uma área próxima, pelo menos para tomar um sol de manhã, ou enlouquece. Praças são sinônimo de qualidade de vida", afirma a urbanista Regina Monteiro, presidente do movimento Defenda São Paulo.
Voltando à praça do Araçá (Perdizes), o músico Cassio Gregório, 26, toca seu violão. "Venho aqui para me inspirar", diz. Deficiente visual, ele diz que não precisa ver a praça para isso, apenas ouvir o canto dos passarinhos.


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