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Delegado do Detran pede afastamento do cargo
Adriano Caleiro quer esperar fim das investigações sobre fraude ocorrida em sua divisão
Por um esquema ilegal,
pontos de multas de motoristas infratores eram transferidos para carteiras de condutores inocentes
DA REPORTAGEM LOCAL
O delegado Adriano Rodrigues Alves Caleiro, da Divisão
de Controle do Interior do Detran (Departamento Estadual
de Trânsito), pediu afastamento do cargo até o fim das investigações sobre esquema ilegal
de transferência de pontos de
multas para carteiras de motoristas inocentes, diz o Detran.
Uma senha pessoal do delegado foi utilizada para acessar o
sistema de computadores do
Detran e realizar a fraude, investigada pela corregedoria da
instituição. O esquema foi revelado pelo jornal "O Estado de
S.Paulo" ontem.
A fraude ocorreu em 2004,
quando o delegado trabalhava
no Ciretran de Osasco (Grande
SP), mas ele não chegou nem a
ser ouvido na época. O caso foi
investigado pela Corregedoria
Auxiliar da Polícia Civil, em
Osasco, mas acabou sendo arquivado em julho de 2005.
A assessoria do Detran afirmou, por sua vez, que o delegado foi ouvido em uma sindicância administrativa.
A questão foi retomada neste
ano depois que a delegada Maria Inês Valente assumiu a Corregedoria do Detran.
Caleiro era o responsável por
fiscalizar a emissão de CNHs
(carteiras de habilitação) no interior, inclusive no Ciretran de
Ferraz de Vasconcelos, investigado pela polícia por suspeita
de falsificação e venda de habilitações. Lá foram emitidas, entre abril de 2007 e março de
2008, 36.939 CNHs, apesar de
apenas 7.439 exames práticos
terem sido realizados.
De acordo com o Detran,
83 motoristas que se beneficiaram com o esquema do Ciretran de Osasco já foram identificados e terão suas CNHs suspensas ou cassadas.
Segundo o Detran, o delegado disse que não foi o responsável pela fraude, mas precisava
dividir a senha com aproximadamente 50 funcionários. Ele
não apontou culpados.
Uma das vítimas da fraude
foi o comerciante Sérgio Kazama, 46. Ao voltar de uma temporada de trabalho no Japão,
ele decidiu fazer aulas em uma
auto-escola na zona norte e renovar sua CNH.
Contudo, passou a receber
mensalmente notificações de
multa em seu nome referentes
a diversos veículos. "Foi uma
lista enorme de pontuação, cada carro tinha várias pontuações. Cada mês vinham uns 20
carros diferentes", afirmou. O
comerciante disse que procurou o Detran em 2004 e comunicou a irregularidade.
Kazama disse ainda que foi
procurado por um homem que
se identificou como despachante da auto-escola que ele
havia freqüentado. Ele se ofereceu para retirar os pontos da
CNH do comerciante. Em troca, pedia que ele retirasse a
queixa registrada no Detran.
"Como ele iria tirar a pontuação da minha CNH? Ele ia era
fazer outra falcatrua, prejudicar outra pessoa", disse.
Kazama disse que teve os
pontos retirados da carteira
por meio de um processo do
Detran em 2005.
A Folha não conseguiu contato com o delegado. Ele tem a
ficha limpa segundo a Corregedoria da Polícia Civil.
Itapevi
A Corregedoria do Detran
também está investigando um
suposto esquema de emissão
irregular de CNHs no Ciretran
de Itapevi (Grande SP). Há suspeitas de que o esquema tenha
características semelhantes às
da fraude descoberta no Ciretran de Ferraz de Vasconcelos,
onde, nos últimos dois meses,
nove policiais foram presos.
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