São Paulo, sexta-feira, 08 de agosto de 2008

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Delegado do Detran pede afastamento do cargo

Adriano Caleiro quer esperar fim das investigações sobre fraude ocorrida em sua divisão

Por um esquema ilegal, pontos de multas de motoristas infratores eram transferidos para carteiras de condutores inocentes

DA REPORTAGEM LOCAL

O delegado Adriano Rodrigues Alves Caleiro, da Divisão de Controle do Interior do Detran (Departamento Estadual de Trânsito), pediu afastamento do cargo até o fim das investigações sobre esquema ilegal de transferência de pontos de multas para carteiras de motoristas inocentes, diz o Detran.
Uma senha pessoal do delegado foi utilizada para acessar o sistema de computadores do Detran e realizar a fraude, investigada pela corregedoria da instituição. O esquema foi revelado pelo jornal "O Estado de S.Paulo" ontem.
A fraude ocorreu em 2004, quando o delegado trabalhava no Ciretran de Osasco (Grande SP), mas ele não chegou nem a ser ouvido na época. O caso foi investigado pela Corregedoria Auxiliar da Polícia Civil, em Osasco, mas acabou sendo arquivado em julho de 2005.
A assessoria do Detran afirmou, por sua vez, que o delegado foi ouvido em uma sindicância administrativa.
A questão foi retomada neste ano depois que a delegada Maria Inês Valente assumiu a Corregedoria do Detran.
Caleiro era o responsável por fiscalizar a emissão de CNHs (carteiras de habilitação) no interior, inclusive no Ciretran de Ferraz de Vasconcelos, investigado pela polícia por suspeita de falsificação e venda de habilitações. Lá foram emitidas, entre abril de 2007 e março de 2008, 36.939 CNHs, apesar de apenas 7.439 exames práticos terem sido realizados.
De acordo com o Detran, 83 motoristas que se beneficiaram com o esquema do Ciretran de Osasco já foram identificados e terão suas CNHs suspensas ou cassadas.
Segundo o Detran, o delegado disse que não foi o responsável pela fraude, mas precisava dividir a senha com aproximadamente 50 funcionários. Ele não apontou culpados.
Uma das vítimas da fraude foi o comerciante Sérgio Kazama, 46. Ao voltar de uma temporada de trabalho no Japão, ele decidiu fazer aulas em uma auto-escola na zona norte e renovar sua CNH.
Contudo, passou a receber mensalmente notificações de multa em seu nome referentes a diversos veículos. "Foi uma lista enorme de pontuação, cada carro tinha várias pontuações. Cada mês vinham uns 20 carros diferentes", afirmou. O comerciante disse que procurou o Detran em 2004 e comunicou a irregularidade.
Kazama disse ainda que foi procurado por um homem que se identificou como despachante da auto-escola que ele havia freqüentado. Ele se ofereceu para retirar os pontos da CNH do comerciante. Em troca, pedia que ele retirasse a queixa registrada no Detran.
"Como ele iria tirar a pontuação da minha CNH? Ele ia era fazer outra falcatrua, prejudicar outra pessoa", disse.
Kazama disse que teve os pontos retirados da carteira por meio de um processo do Detran em 2005.
A Folha não conseguiu contato com o delegado. Ele tem a ficha limpa segundo a Corregedoria da Polícia Civil.

Itapevi
A Corregedoria do Detran também está investigando um suposto esquema de emissão irregular de CNHs no Ciretran de Itapevi (Grande SP). Há suspeitas de que o esquema tenha características semelhantes às da fraude descoberta no Ciretran de Ferraz de Vasconcelos, onde, nos últimos dois meses, nove policiais foram presos.


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