São Paulo, segunda, 8 de setembro de 1997.



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SAÚDE
Opinião foi emitida por participantes de congresso no México
Legalização diminuiria casos de abortos, dizem especialistas

AURELIANO BIANCARELLI
Enviado Especial à Cidade do México

Em países onde o aborto é legalizado, como a França, 66% das mulheres grávidas planejaram ou desejaram a gravidez. O número de abortos caiu para 18% do total de mulheres grávidas. Onde o aborto é clandestino -como em quase toda a América Latina-, o número de interrupções atinge 28% e o de gravidez desejada e planejada não chega a 30%.
Dados como esses foram apresentados como argumentos a favor do direito ao aborto no 1º Encontro Latino-Americano de Jornalistas sobre Direitos Sexuais e Reprodutivos que terminou no final de semana na Cidade do México. Descriminalizar o aborto -num primeiro momento- e legalizá-lo em seguida, derrubaria o número de interrupções da gravidez e reduziria a quase zero as sequelas e as mortes pelo aborto clandestino. Segundo dados das Nações Unidas, 70 mil mulheres morrem por ano em decorrência de complicações do aborto.
Em Porto Rico, onde o aborto é legalizado, publicações dos serviços de saúde lembram que os abortos assistidos em hospital são menos arriscados que um parto simples ou uma injeção de penicilina. Estima-se que para cada 100 mil abortos assistidos ocorra menos de uma morte.
Na Guiana, onde o aborto foi legalizado depois de dois anos de debate, o argumento mais utilizado na campanha foi a saúde da mulher. "Mostramos que a ilegalidade ou uma lei restrita aumenta os riscos e não impede os abortos. E que o número de abortos caiu muito nos países que o legalizaram", disse Ivette Delph, uma das coordenadoras da campanha na Guiana.
O encontro da Cidade do México, que teve representantes de 200 grupos latino-americanos, considerou como prioritária uma campanha continental por mudanças nas leis sobre direito ao aborto. Uma cruzada em todos os países está sendo lançada em 28 de setembro, data escolhida como o Dia pela Despenalização e Legalização do Aborto na América Latina.
A América Latina ocupa o segundo lugar no ranking dos continentes com as legislações mais conservadoras e punitivas sobre o aborto. Só as mulheres africanas que abortam são mais castigadas que as latino-americanas.
Mesmo onde o aborto por estupro e risco de vida para a mãe é permitido -caso do Brasil e outros 12 países do continente- as mulheres encontram dificuldades para serem atendidas. A grande maioria aborta na clandestinidade.
Para mudar as legislações em vigor, os grupos reunidos no México optaram por ampliar o debate para toda a sociedade. Realizar pesquisas de opinião pública, motivar os políticos e legisladores e cobrar dos governos o direito à saúde fazem parte da estratégia escolhida. Contra os argumento da Igreja Católica, os grupos vão divulgar o número de mortes e a humilhação que as mulheres sofrem com a clandestinidade do aborto.


Aureliano Biancarelli viajou à Cidade do México como um dos ganhadores do prêmio sobre Direitos Sexuais e Reprodutivos, oferecido pelas entidades não-governamentais Cimac e Gire.



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