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SAÚDE
Opinião foi emitida por participantes de congresso no México
Legalização diminuiria casos
de abortos, dizem especialistas
AURELIANO BIANCARELLI
Enviado Especial à Cidade do México
Em países onde o aborto é legalizado, como a França, 66% das mulheres grávidas planejaram ou desejaram a gravidez. O número de
abortos caiu para 18% do total de
mulheres grávidas. Onde o aborto
é clandestino -como em quase
toda a América Latina-, o número de interrupções atinge 28% e o
de gravidez desejada e planejada
não chega a 30%.
Dados como esses foram apresentados como argumentos a favor do direito ao aborto no 1º Encontro Latino-Americano de Jornalistas sobre Direitos Sexuais e
Reprodutivos que terminou no final de semana na Cidade do México. Descriminalizar o aborto
-num primeiro momento- e legalizá-lo em seguida, derrubaria o
número de interrupções da gravidez e reduziria a quase zero as sequelas e as mortes pelo aborto
clandestino. Segundo dados das
Nações Unidas, 70 mil mulheres
morrem por ano em decorrência
de complicações do aborto.
Em Porto Rico, onde o aborto é
legalizado, publicações dos serviços de saúde lembram que os abortos assistidos em hospital são menos arriscados que um parto simples ou uma injeção de penicilina.
Estima-se que para cada 100 mil
abortos assistidos ocorra menos
de uma morte.
Na Guiana, onde o aborto foi legalizado depois de dois anos de debate, o argumento mais utilizado
na campanha foi a saúde da mulher. "Mostramos que a ilegalidade ou uma lei restrita aumenta os
riscos e não impede os abortos. E
que o número de abortos caiu
muito nos países que o legalizaram", disse Ivette Delph, uma das
coordenadoras da campanha na
Guiana.
O encontro da Cidade do México, que teve representantes de 200
grupos latino-americanos, considerou como prioritária uma campanha continental por mudanças
nas leis sobre direito ao aborto.
Uma cruzada em todos os países
está sendo lançada em 28 de setembro, data escolhida como o Dia
pela Despenalização e Legalização
do Aborto na América Latina.
A América Latina ocupa o segundo lugar no ranking dos continentes com as legislações mais conservadoras e punitivas sobre o aborto.
Só as mulheres africanas que abortam são mais castigadas que as latino-americanas.
Mesmo onde o aborto por estupro e risco de vida para a mãe é
permitido -caso do Brasil e outros 12 países do continente- as
mulheres encontram dificuldades
para serem atendidas. A grande
maioria aborta na clandestinidade.
Para mudar as legislações em vigor, os grupos reunidos no México
optaram por ampliar o debate para
toda a sociedade. Realizar pesquisas de opinião pública, motivar os
políticos e legisladores e cobrar
dos governos o direito à saúde fazem parte da estratégia escolhida.
Contra os argumento da Igreja Católica, os grupos vão divulgar o
número de mortes e a humilhação
que as mulheres sofrem com a
clandestinidade do aborto.
Aureliano Biancarelli viajou à Cidade do México
como um dos ganhadores do prêmio sobre Direitos Sexuais e Reprodutivos, oferecido pelas
entidades não-governamentais Cimac e Gire.
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