São Paulo, domingo, 08 de setembro de 2002

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ENTREVISTA

Holandês propõe redução de danos no uso de droga

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O holandês Ernst Buning, diretor da Associação Internacional de Redução de Danos, é o pioneiro e principal líder de um movimento inovador no combate às dependências químicas. Ele defende a idéia de que reduzir os danos do uso de drogas é mais positivo, importante e factível do que tentar acabar com a dependência ou exigir a abstinência. Empregada inicialmente entre usuários de droga injetável, oferecendo seringas novas e informação, a prática derrubou a menos de 10% a infeção pelo HIV num grupo onde mais de 50% se infectavam.
O desafio agora é aplicar o mesmo conceito para o abuso do álcool, problema responsável por cerca da metade dos acidentes e violências em todo o mundo. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), que comparou os danos globais provocados pelo álcool, pelo cigarro e pelas drogas ilícitas, a bebida é responsável por 50%, o tabaco por 49% e as drogas ilegais por 1%.
"O álcool não está recebendo a atenção que precisa por parte da comunidade, das lideranças e dos políticos", afirma Buning.
Ele foi um dos incentivadores da Primeira Conferência Internacional sobre Consumo de Álcool e Redução de Danos que aconteceu há duas semanas no Recife.
Abaixo, trechos da entrevista que concedeu no encontro:

Folha - Por que as práticas de redução de riscos ainda são pouco adotadas para o álcool?
Ernst Buning -
Nosso desafio agora é criar um movimento para transformar o álcool em um assunto de todos, assim como acontece com o sexo. Mas não focar na substância álcool, e sim nas situações e pessoas que sofrem danos por causa do álcool. A idéia não é diminuir o consumo, mas diminuir o consumo em certas situações. Por exemplo, se beber, não dirija. Mas se não vai dirigir, beber pode ser bom. Se tem um trabalho a fazer, beba depois.
A intenção não é ser moralista, mas estimular as pessoas e a sociedade a serem responsáveis, a reconhecerem quando o álcool será um risco. A idéia é trazer a responsabilidade para as pessoas, não esperar pelo Estado. Este é um conceito de cidadania que deve ser ensinado às crianças.

Folha - Diminuir riscos é função da pessoa e da sociedade?
Buning
- A redução de danos precisa se transformar num movimento social em que os direitos humanos são importantes. É preciso que os grupos afetados pelo álcool se envolvam e que haja um envolvimento coletivo, levando a um controle social positivo. Ninguém deveria se sentir mal em dizer a um colega: "Não dirija, você não está em condições".
Não tem nada a ver com moralismo, é simplesmente porque você não quer que ele morra nem que mate.



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